Pires de Lima e a crise na VW: incompetência ou mentira pré-eleitoral?

Pires de Lima

Decorria a campanha eleitoral e a ordem era para focar na propaganda e evitar, a todo o custo, falar de todas aquelas coisas que tanto trabalho deram – e a tanta referência a Sócrates obrigaram – para obliterar do debate público. A poucos dias da confirmação de Passos Coelho como novo José Sócrates da política portuguesa, rebentava o escândalo Volkswagem e o silêncio era absoluto, tal como a maioria que ansiavam apesar da proibição do termo.

Porém, no meio do silêncio ensurdecedor, houve quem, no seio do governo ainda que com poucas possibilidades de renovação de contracto, tenha proferido algumas palavras sobre o tema. Em declarações tímidas e evasivas ao Diário Económico, Pires de Lima afirmava que:

Não se deve assustar as pessoas que são proprietários de um veículo da marca VW e, acima de tudo, não devemos criar uma suspeita generalizada de existência destes casos em Portugal.

Pelas informações que a Autoeuropa nos deu é muito improvável que tenham sido produzidos automóveis com incorporação deste ‘chip’ fraudulento, que está na origem desta crise da VW a nível mundial.

Concluído o período eleitoral, a SIVA, empresa que importa, distribui e representa a Volkswagen em Portugal, admitiu hoje que a Autoeuropa produziu veículos com o dispositivo que adultera os valores de emissão de gases, depois de noticiado que o proprietário de um VW Scirocco produzido em Palmela fez o teste disponibilizado pela marca que confirmou a existência do software fraudulento. E acrescentou:

Tanto quanto sabemos da Volkswagen AG, existem outros modelos afetados, os modelos da Volkswagen que sugerem [Eos, Scirocco e Sharan]

Ora Eos, Scirocco e Sharan são modelos da VW produzidos na Autoeuropa. Aliás, o modelo Scirocco é produzido em exclusividade na unidade portuguesa. Portanto das duas uma: ou Pires de Lima foi incompetente, não conhecia os detalhes do processo e não soube fazer o trabalho de casa, ou mentiu aos portugueses procurando serenar o eleitorado através do método de varrer o problema para debaixo do tapete até que as eleições passassem. Nenhuma das duas abona em favor do ministro.

Mas esta história poderá não ficar por aqui. No final de Março do ano passado, a Auteuropa e o governo português assinaram um contrato de investimento que previa uma aplicação de 677 milhões de euros e criação de 500 postos de trabalho até 2019. O acordo garantia também o acesso da Autoeuropa a incentivos ao investimento disponibilizados pelo Estado. A situação actual, porém, poderá ter impacto neste investimento. O grupo VW já avisou que será necessário adiar ou cancelar investimentos, afirmando, objectivamente, que “Os que não são absolutamente vitais serão cancelados“. Ainda assim, e a pouco mais de uma semana das eleições, Pires de Lima afirmava que

O contrato de investimento assinado, relativamente à ampliação da Autoeuropa, está em execução e não há qualquer sinal de que não tenha continuidade dentro do programa que está traçado.

Portanto o pânico generalizado, a queda aparatosa no mercado bolsista e as coimas estratosféricas que a VW terá que pagar não foram sinais suficientes para que o ministro, que até vem da área de gestão de empresas, tivesse vislumbrado qualquer risco de incumprimento do plano traçado. O facto de estarmos na recta final das eleições nada teve a ver com a narrativa de Pires de Lima. Resta-nos saber se o investimento, na óptica da VW, é ou não “vital”. É bom que seja porque se não for, aquilo que nos espera não será bonito de se ver.

Foto@Manifesto74

Comments

  1. Miguel Soares says:

    as duas: incompetência E mentira pré-eleitoral.

  2. Camaradas says:

    Camaradas com um governo patriótico e de esquerda os fascistas nazis da autoeuropa já tinham fechado e corridos para o país deles.

Trackbacks

  1. […] ou estamos hoje perante um novo caso de mentira e/ou incompetência, a que se junta agora um momento de irresponsabilidade ao melhor estilo cavaquista, ou o homem não […]

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