E eleição de Ferro Rodrigues e a direita transformada numa barata tonta

barata

O período pós-eleitoral começa a ganhar contornos de anedota nacional. Depois de vários dias a vociferar aos sete ventos que Passos Coelho deveria ser indigitado primeiro-ministro – o que de resto aconteceu, legitimamente – porque lidera a coligação que obteve mais votos nas Legislativas, as hostes da coligação PSD/CDS-PP lançaram a rebelião absoluta nas redes sociais porque, imaginem, o candidato à presidência da Assembleia da República mais votado foi eleito para o cargo. Portanto ganha quem tem mais votos mas apenas quando tal serve os interesses da coligação. Notável.

Claro que, numa demonstração absoluta de nervosismo e de cabeça perdida, fomos imediatamente bombardeados com os mais admiráveis argumentos numa tentativa de branquear a legitimidade da eleição de Ferro Rodrigues. As bancadas parlamentares do PSD e CDS-PP falaram numa tradição rompida, porque até hoje o presidente da AR sempre emanou da bancada mais votada. Luís Montenegro e Nuno Magalhães chegaram mesmo a falar numa regra quebrada. Mas que regra é essa? Onde está ela escrita? Então o que sugerem os senhores deputados do PSD e do CDS-PP? Que se ignore o voto dos restantes parlamentares e que o seu candidato seja eleito sem seguir os trâmites normais previstos na lei? Então para quê fazer uma eleição? Entenderão estes cavalheiros tratar-se de uma mera encenação? Suspenda-se a democracia então!

Mas a comédia não fica por aqui. À parte do golpe baixo de trazer à baila o caso Casa Pia, no qual Ferro Rodrigues viu o seu nome envolvido sem que nunca tivesse havido rigorosamente nada de concreto que o associasse de facto ao escândalo, surgiu ontem uma petição pública para destituir Ferro Rodrigues do cargo para que foi legitima e democraticamente eleito. O proponente, o militante do CDS-PP do Vimioso Rui Alexandre Parente Rosa Moreira, argumenta que a idoneidade de Ferro Rodrigues está manchada pelo seu suposto envolvimento no caso Casa Pia. Acrescenta o peticionário que Ferro Rodrigues, enquanto ministro do Trabalho e Solidariedade e do Equipamento Social nos governos de António Guterres, foi um dos responsáveis pela intervenção externa iniciada em 2011. São estes os argumentos do centrista. E se o segundo é um absurdo completo por motivos óbvios, que mesmo a alguns fanáticos causará alguma vergonha alheia de tão parvo que é, o primeiro abre espaço a que se atire muita lama sobre destacadas personalidades do seu partido e do PSD. Porque se a idoneidade de Ferro Rodrigues fica manchada por um processo em que não foi sequer indiciado ou constituído arguido, então aqui fica uma lista de pessoas que se encontram no exacto mesmo grau de falta de idoneidade, segundo a lógica tresloucada patente nesta petição anedótica. Vou cingir-me apenas a deputados eleitos no passado dia 4, deixando de fora pesos pesados como Dias Loureiro ou Oliveira e Costa:

Pedro Passos Coelho – caso Tecnoforma, alvo de investigação do Gabinete de Luta Anti-Frande da União Europeia

Paulo Portas – caso Moderna, caso Portucale, caso Submarinos

Marco António Costa – acusado por Paulo Vieira da Silva de controlar uma rede de tráfico de influências (processo a decorrer no DIAP do Porto), caso Webrand

Virgílio Macedo – implicado na denúncia de Paulo Vieira da Silva sobre a suposta rede de tráfico de influências de Marco António Costa (processo a decorrer no DIAP do Porto)

Miguel Santos – implicado na denúncia de Paulo Vieira da Silva sobre a suposta rede de tráfico de influências de Marco António Costa (processo a decorrer no DIAP do Porto)

Defenderá o peticionário que também estas pessoas sejam destituídas dos cargos para que foram eleitos? Ou terá sido uma parvoíce do momento e já alguém lhe puxou as orelhas? Mais vale rir e encarar tudo isto como uma grande anedota. Está montado um circo de baratas tontas.

Comments

  1. Maria says:

    Relativamente a MAC, não se esqueça do Relatório de auditoria do Tribunal de Contas a propósito das contas da autarquia onde este senhor exerceu funcoes. Também compõe o ramalhete…
    De resto, nao nos surpreende verdadeiramente que a coligacao reaja assim, pois nāo? A atitude do peticionário é, no fundo, espelho do desespero… A vontade do poder, as nomeações sem base legal (como vimos em reportagem ontem no canal público), tudo fruto do desespero de perder o poder, os “tachos e tachinhos” .

  2. Carvalho says:

    E o que é que interessa o que sai da merda da boca da merda da gente da direita?
    Para quê perder tempo com a merda das redes de merda sociais?
    A escumalha ladra e a democracia segue.

  3. JgMenos says:

    Uma coisa acontyece quando as regras são quebradas: deixa de haver certeza de coisa alguma.

    Será que algum dia o Cavaco se dispõe a indigitar Costa?
    Não há regra que o imponha, e se a houvesse, não estamos em tempo de regras. Certo?

  4. Estou inteiramente de acordo com o Carvalho!
    Desde Salazar e Marcelo Caetano + Cardeal Cerejeira que só me dá vómitos ouvir, ler e ver estes fascistas todos.
    São uns F. da P. que não tem uma gota de vegonha nas fuças…

  5. Espero que a linguagem de odio (que arruinou Brasil. Argentina e Venezuela) seja banida das praticas normais em Portugal. Com o assumir da esquerda a responsabilidade governativa é uma ocasião boa para que tal aconteça. Os portugueses sé têm a ganhar que a pratica social e politica dos países bem organizados(Dinamarca, Suecia, Alemanha…) de estabeleça aqui e faça escola.Podemos discordar, abster-nos violentamente, concordar em divergencia, mas mantendo o respeito pelos outros.Alguns protagonistas da comunicação infelizmente , resvalam por vezes para a chicana.

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