Porque não o bail-in?

O Banif arrastou-se durante 3 anos sem ação. A carta de aviso da abertura formal de investigação por parte da DG-Comp (Comissão Europeia) esteve 5 meses para ser publicada. De um momento para o outro, no dia 18 de Dezembro, o Diário da União publica uma carta com data de Julho de 2015 e precipita a resolução do Banif com um avassalador custo para o contribuinte: perto de 3 mil milhões de euros. Pode ver o detalhe aqui e aqui.

O BES/BANCO BOM/BANCO MAU teve o colapso em Agosto de 2014. Nessa altura, o Banco de Portugal considerou que imputar prejuízos aos investidores detentores de dívida sénior era prejudicial ao país, pois afetaria a sua credibilidade e afastaria investidores de Portugal. Agora, cerca de 18 meses depois, muda radicalmente de ideias e, numa medida desesperada a 2 dias do final do ano, decide atirar para o Banco MAU obrigações com um valor de balanço de 1985 milhões de euros (emitidas pelo banco antes da resolução de Agosto do ano passado). Dessa forma recapitaliza o Banco Bom e condena os investidores internacionais à perda total.

Ficam-me as perguntas:
1. Por que razão procurou o Governo e o Banco de Portugal evitar que os casos do Banif e Novo Banco não chegassem a 2016? É que, em 2016, ficariam sobre a alçada do bail-in, ou seja, o resgate seria sempre feito internamente mobilizando todos os obrigacionistas e depositantes com mais de 100 mil euros.

2. Como vai lidar o Banco de Portugal com a contradição de ter protegido, com a resolução de Agosto de 2014, os investidores seniores, tendo agora optado por os condenar. Não considera que esses investidores têm razões sérias para processos em tribunal, pois sentiam-se até agora, legitimamente, protegidos pelas decisões de Agosto de 2014?

3. E como pensa o Banco de Portugal que vai ficar a imagem de Portugal junto de investidores externos? Ou o país deixou subitamente de precisar deles? Ou já nem pensa nisso e atua só por desespero?

4. A recapitalização do Novo banco é superior à necessária para tirar, no momento, o banco do vermelho. Qual é o objetivo? Adiar o problema por mais algum tempo? Empurrar com a barriga, como sabem bem os contribuintes, sai sempre MUITO CARO.

5. Isto beneficia uma eventual venda do Novo Banco? Prejudicando seriamente a imagem exterior dando um CALOTE, puro e simples, nos investidores institucionais? Isso melhora a nossa perspetiva de alguma vez recuperar os 3.9 mil milhões injetados via Fundo de Resolução?

 

É necessário perceber com urgência o que se está a passar, e esclarecer cabalmente toda a condução destes dossiers. Está em causa o dinheiro dos contribuintes – muitos milhares de milhões de euros gastos no BPN, BES, Banif, e ainda faltam outros bancos -, mas essencialmente o futuro a médio e longo prazo de Portugal (que vê a sua imagem seriamente afetada). É importante que os políticos saibam que a época da impunidade em que nada é cabalmente esclarecido, com responsabilização, já acabou. É obrigação de todos nós cidadãos garantir isso.

 

Link adicionado a 13:01-2016@16:27:

http://www.jornaldenegocios.pt/empresas/banca___financas/detalhe/bloomberg_governo_era_contra_saida_de_divida_do_novo_banco.html

Comments

  1. Eu avento says:

    Respostas :
    1.- Vá perguntar ao Passos Coelho em quem votou.
    2.- Está demasiado preocupado com os investidores privados.
    3.- Está demasiado preocupado com os investidores externos. Deixe lá os privados e os externos, que o BCE por enquanto protege a dívida do estado.
    4.- São menos 2 mil milhões que seguramente não me (lhe) saem do bolso.
    5.- O Novo Banco passou a valer mais 2 mil milhões de euros quando for vendido.

    Conclusão:
    Em vez de se beneficiar uns quantos obrigacionistas sénior, para mais institucionais (fundos especulativos e outros abutres do “mercado”), são 200 euros que não me saíram do bolso.

    • Boa Tarde,
      1. Está enganado sobre o meu voto. Devemos saber o que foi feito e como foram geridos estes dossiers. Isso implica este Governo, o anterior e o Banco de Portugal;
      2. e 3. Estou preocupado com o contribuinte. Mais tarde ou mais cedo esta fatura aparece, talvez em dobro ou em triplo, no contribuinte. Não querer saber e deixar andar dá sempre nisso. A história recente mostra bem isso mesmo.
      4. Tem a certeza?
      5. Não me parece que tenha razão. Isto resolve um problema momentâneo. Mas fica a péssima imagem para Portugal.

      Nota: A verdade é que alguns meses depois (desde 3 de Agosto de 2014) da pouco competente resolução do BES, o Banco de Portugal vem agora assumir que não foi eficaz na capitalização do Novo Banco. E nesse ato incompetente arrasta o anterior Governo. Agora, atua de forma forma arbitrária e não cumprindo compromissos de Agosto de 2014 (portanto, de má fé)
      de má-fé. Está em causa o contribuinte, e isso preocupa-me muito:
      1. Este valor, no todo ou em parte, será apresentado ao contribuinte quando o o Fundo de Resolução (Estado) for ordenado pelos tribunais a pagar indemnizações. Isso é muito provável dada a forma como tudo isto foi feito, contrariando as decisões de Agosto de 2014, e decidindo este bail-in seletivo em investidores com grande poder de litigância (protegidos, repito, na resolução de 3 de Agosto de 2014 com obrigações emitidas nessa altura). Em 2016 o bail-in envolveria todos os investidores (os seniores, todos os outros e também os acionistas privados) e os depósitos acima de 100 mil euros. Os contribuintes não seriam chamados a contribuir. Por que razão se excluíram todos esses investidores, acionistas e grandes depositantes? E haveria uma explicação razoável: correu mal, o que é possível em negócios de risco, pelo que todos internamente são chamados a cobrir o prejuízo. E é uma norma Europeia, pelo que a litigância seria muito menos feroz. No entanto, a 2 dias do final do ano o Banco de Portugal quis impedir um bail-in puro e duro, e colocou a fatura somente nos investidores seniores. A pergunta é: qual a motivação e o objetivo de semelhante mudança de atitude pelo Banco de Portugal? Eu gosto de fazer perguntas e procurar respostas. Isso é saudável e evita calafrios futuros;
      2. A imagem de Portugal fica definitivamente muito danificada, pelo que será ainda mais complicado vender o Novo Banco. E sem isso, o Estado fica a arder em 3,9 mil milhões de euros que um dia nos serão também apresentados: a história recente mostra que os buracos no sistema financeiro vêm parar, mais tarde ou mais cedo, aos contribuintes.

      Efeito colateral muito grave: Quem é que, de fora do país, vai alguma vez mais financiar a banca nacional? Seja pela forma acionista, obrigacionista ou por depósito, fica perdida a confiança. De forma alguma esta situação protege o contribuinte, pelo que afirmo que há razões sérias para preocupação.

      Empurrar com a barriga resulta em fatura gigante passado algum tempo. O Banif, o BES, o BPN, o BPP e os outros que estão para vir, são prova de tudo isso.

      • Matias says:

        1. No PSD as mentiras são inverdades, não é ?

        http://youtu.be/xtnKoO6L5Bw

        • Não sei, terá de perguntar a alguém que seja militante e responsável pelo PSD.
          Da minha parte, e referente ao vídeo que colocou, seria mais fácil verificar que sou Vereador da Câmara Municipal de Condeixa-a-nova, eleito em listas do PSD em 2013, cargo que mantenho como independente. Fui militante do PSD, com divergências bem conhecidas com o partido, ao ponto de ter deixado de ser militante, também com razões conhecidas e manifestando frontalmente, e publicamente, a minha divergência. É assim que se deve estar na vida pública, assumindo aquilo que se pensa, sem ter medo de desalinhar e renunciar quando se justifica.

          Nota: mas a pergunta a que respondia era sobre o meu sentido de voto.

  2. ...não acredito que... says:

    Porra!!
    Só choram pelos séniores & Cia. Ldª !
    Não há ninguém a chorar pelo desgraçado do Contribuinte…?

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  1. […] propósito do artigo “Porque não um bail-in?“, gostaria de deixar mais algumas perguntas e reflexões suplementares, nomeadamente, sobre o […]

  2. […] da reclassificação de dívida sénior do Novo Banco para o BES, de que falei aqui e aqui, e depois da conflitualidade que era previsível por parte dos investidores internacionais, […]

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