O homem que voa

  Eu sou o homem que voa.  

Antes apenas andava e às vezes corria mas agora sei voar. Aprendi ontem à noite com o bater das badaladas. Esteve sempre ali à minha frente e eu passei este tempo todo, quase 50 anos, agarrado ao chão, e é tão fácil. 

Antes eu era apenas o homem que queria voar. Mas só não voava porque dizia isso da boca para fora. – “O que eu queria mesmo era voar” – dizia eu, como se o meu desejo fosse apenas uma coisa feita para impressionar os outros e não uma vontade realmente própria. Se assim não fosse, há já muito tempo que andaria pelos ares. A fazer razias aos arranha-céus, a ver os campos de arroz crescer, a ver as carecas escondidas dos homens altos. 

O segredo está nas asas, ou melhor, em não querer ter asas. Isso é para o voo dos pássaros e dos aviões. Os homens não voam assim. 

Mas é tão fácil. Tão perto. Tão simples. Que não se consegue perceber porque é que ainda não andamos todos pelo ar.

Fábula em forma de foto sobre um desejo de ano novo feliz 

Comments

  1. Pedro says:

    Olá, Diogo!
    Será “A fazer rasantes aos arranha-céus”!
    Não “razias”, caneco! É deixar isso para os onzes de Setembro de 2001, por caridade!
    (Além de “natural”, trata-se de um erro realmente comum).
    Cumprimentos.

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