Bipolares?

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Aparentemente, e a fazer fé no escândalo nacional que se está a fazer relativamente ao OE2016, Bruxelas pensa que um crescimento de 2,1% do PIB, como previsto nas contas de Mário Centeno do OE2016, é demasiado otimista. Mas os 2% do PIB que estão no Programa de Estabilidade e Crescimento 2015-2019 ainda em vigor (ver documento aprovado na Assembleia da República do qual foi tirada a imagem acima – página 48), da autoria de Pedro Passos Coelho e Maria Luís Albuquerque, foram aprovados sem problemas e não causaram alarme público. Os jornalistas de serviço fazem escândalos públicos com essa enorme diferença de 0,1% do PIB e gritam aqui-del-rei que a Comissão vai vetar o OE2016, inventam cenários de catástrofe e antecipam que Portugal perderá a classificação da única agência de rating que ainda não nos classificou como lixo (a DBRS). Com isso tentam dizer que estará em risco a recompra de dívida pública por parte do BCE, o que só é possível se pelo menos uma agência de rating classificar Portugal acima de lixo, mas também a possibilidade de os bancos apresentarem dívida portuguesa como garantia para receberem empréstimos do BCE. Por ser muito sério este assunto, deveriam ser mais sérios e cautelosos no disparate público que temos vindo a assistir. A famosa carta de Bruxelas é um bom exemplo disso mesmo.

A Comissão Europeia desmente e diz somente que “…estamos em contacto com as autoridades portuguesas no âmbito da preparação sobre o nosso parecer. Faremos comentários sobre o conteúdo do Esboço do Orçamento do Estado quando emitirmos o nosso parecer”. Estilo, não especulem e tratem de ter juízo.
A famosa agência de rating, consultada por vários jornais, diz somente o óbvio: “Estamos a monitorizar os desenvolvimentos e iremos avaliar a resposta do governo aos pedidos adicionais da Comissão Europeia e a quaisquer pressões orçamentais que possam surgir. Globalmente, continuamos a desejar um compromisso credível com o ajustamento orçamental, que suporte a sustentabilidade das finanças públicas”.
Mas os títulos de jornal são de catástrofe: “Bruxelas não aceita”, “Bruxelas vai vetar”, “A DBRS vai cortar o rating”, …, o medo, o horror. Parece que não estão a falar do seu próprio país, dos seus próprios interesses… parece que isto do “quanto pior melhor” é mesmo tudo o que querem.
Vivemos rodeados de bipolares? Ou isto é mesmo só fazer o possível para que tudo corra mal, e o povo que se lixe e o país também?
O que eu quero saber do OE2016 é se ele defende os interesses da economia portuguesa, se as políticas associadas se ajustam e em que medida nos vão ajudar a sair do ciclo vicioso em que estamos: é essencial que esse debate se faça sem ameaças, sem retórica e sem papões. Interessa-me a opinião da Comissão Europeia, das agências de rating e de todos os que decidem opinar sobre Portugal, mas gostaria de ver internamente um debate sério e frontal sobre o nosso futuro. Só isso permitirá defender os interesses de Portugal, independentemente do que “pensam” os outros sobre aquilo que são os nossos interesses.

Comments

  1. Uma semana depois da eleição do novo presidente e do fracasso de Mª de Belém, os Donos Disto Tudo movimentam-se cá e lá fora.

    Pode parecer estranho, mas não é. Já vimos o filme.É remake.

  2. Mónica says:

    O problema é que as pessoas estão cegas! Não vêm ao Aventar, não vêem além do que é papagueado pela televisão e jornais e acreditam neste drama! E pensam que o Costa está a dar cabo de tudo, que as coisas estavam a ficar melhores, que estamos a dar uma má imagem do país. Falo de pessoas que sofreram cortes salariais, que nem por isso têm as condições de trabalho ideias e que são licenciadas, mas não questionam nada. Não param para ver e pensar, ao menos para tentar perceber se é mesmo assim. Fico assustada.

    • Acácio Bernardo says:

      Incluo-me nessas pessoas. Porque não alinho nesta ideia que bruxelas está errada quando não nos convém. As agências são manipulação porque não nos convém. O antigo governo tinha um plano mas não o cumpriu. Este não tem plano. As pessoas não gostam de Costa pela mesma razão que não gostam de Durão. Porque mostrou ganância em aliar-se a partidos com quem tem menos em comum apenas para ser eleito primeiro ministro. Os cortes não estão a ser feitos agora, mas é precisamente neste momento que estamos a tomar as medidas para que haja cortes bem piores no próximo governo PSD. E neste ciclo andamos até um dia ficarmos igual à Grécia ou Venezuela. Ou então mudamos de vida e começamos a copiar a idelogoia daqueles países no norte da Europa onde se ganha mais mas também há menos corrupção. E estou a falar a todos os níveis. Má gestão da coisa pública é o cancro que mina está economia.

      • Mónica says:

        Mas a ideia não é “Bruxelas está errada porque não me convém” a ideia é e está provada, a austeridade nada conseguiu! Para quê os cortes salariais e nas pensões se passados 4 anos ainda são necessários e a dívida até está maior?!!! Como pode Bruxelas estar certa se permite que outros países não cumpram o seu orçamento, mas a nós não?

        • Acácio Bernardo says:

          Países em bancarrota têm menos margem que outros. Tal como uma pessoa sem património nem emprego dificilmente consegue crédito. Desde 1974 que Portugal tem défice estrutural. Por isso a dívida sempre aumenta. O ano de 2014/2015 foi a primeira vez que não houve défice estrutural. Ou seja o país gastou menos do que produziu. A dívida continua e continuará a aumentar porque o que sobra não chega para pagar despesa do estado. O drama deste país é que seguimos políticas que assustam investidores. Perdemos tantas oporrunidades, indústria, troia, são apenas alguns exemplos. E agora que tudo já desapareceu o país não produz riqueza. Resta o estado dentro da sua redoma onde ainda se vive com salário garantido, sem despedimento, sem meritocracia. As reformas hoje são baixas mas são quase 3 milhões de pensionistas. Não há receita que chegue. Esse é o drama. Não se consegue resolver o problema da dívida sem cortar na despesa. E cortar na despesa afeta os mais pobres (pensionistas) e os mais protegidos (funcionários do estado) que são quase um milhão. As pessoas que pagam tudo isto são um minoria que não tem representação eleitoral. São os jovens e os empresarios que ainda teriam alguma vontade e capacidade para fazer a economia crescer. Mas não lhes peçam 70% de tributação. Que é isso que temos actualmente. A solução muitas vezes é, foi e será fugir e emigrar. Tivemos muita emigração em 2008. Vamos retomar o caminho que temos feito até aqui. Recordo que a dividia sempre cresceu. Mas ao fim de 30 anos estava em 60 mil milhões. E o governo em que participou o Costa conseguiu em 6 anos passar para 120. Ou seja o dobro. A dívida demoraria 20 anos pagar se tomassemos consciência da nossa situação e fizéssemos tudo diferente. Mas não … Queríamos ficar ricos com alguns pequenos cortes e que tudo ficasse resolvido em 4 anos? E então a solução é voltar a aumentar a despesa ? Não há racionalidade, apenas se justifica estas opções porque a maioria apoia medidas de curto prazo sem pensar que pode agravar a nossa situação a longo prazo.

  3. Anasir says:

    Estamos rodeados de criminosos que seguem a máxima “Quanto pior, melhor”. Quanto mais a UE nos trama a vida, mais estes advogados do diabo lhe fazem o jogo.

    Apetece dizer “Tirem-me deste filme!”

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