Se calhar, não tenho bem a certeza, porque percebo bem a dificuldade que é sairmos de nós mesmos, esta campanha da RTP – #esefosseeu -até era bem intencionada. Isso mesmo, se calhar tinha apenas a intenção de convidar as pessoas para esse exercício difícil que é colocar-se no ‘lugar do outro’ e chamar a atenção para a questão dos refugiados.
Ao ver este vídeo (e outros, como por exemplo o do Sérgio Godinho, o do Nuno Markl, o do Marcelo Rebelo de Sousa, mas sobretudo este da Joana Vasconcelos) percebemos quão difícil é esse exercício, quão difícil é sair da superficialidade com que atulhamos o quotidiano, quão difícil é imaginar que, de repente, temos de sair de casa e levar apenas o essencial. É um bocado deprimente pensar que o essencial da Joana (como o de muitos outros ‘entrevistados’) é absolutamente acessório e fútil. As ‘jóias’ diz a Joana, como se atravessar o mar, as fronteiras, deixar para trás uma vida inteira em nome do grande desconhecido, enfrentar processos absolutamente desumanos e injustos, numa situação de extraordinária vulnerabilidade, fosse o mesmo que ir a um jantar dançante ou a uma soirée no Palácio da Ajuda.
#esefosseeu até podia ter sido (se calhar em alguns sítios foi) uma boa campanha de sensibilização. Com estes exemplos, é só mais uma palhaçada.
Já agora #esefosseeu, eu mesma, quero dizer, levava-me a mim. O resto talvez se encontrasse depois. Não é o que se leva que importa, mas o que se encontra. E o que muitos dos refugiados encontram é a desumanidade e a humilhação. A espera interminável pelo futuro. E algumas vezes, como sabemos, o regresso ao sítio de onde fugiram.
O resto são futilidades.
Interessante.
Não conheço essa campanha porque não vejo televisão – nem vou ver o vídeo partilhado porque confio na opinião que foi aqui deixada sobre a sobre a mesma, e isso já me basta, porque quando me avisam de um poio de merda no chão, eu desvio-me dele e não vou pisar propositadamente para ver se cheira mesmo mal – mas é curioso como ainda hoje dizia no trabalho que, depois de sempre ter sentido vergonha de ser Português, hoje sinto também extrema vergonha de ser Europeu.
mas olhe que vale a pena ver os vídeos, quanto mais não seja para percebermos melhor que é mesmo difícil colocarmos-nos na pele dos outros.
Este seu texto chamou-me a atenção por outra curiosidade. Costumo dizer, não tão poucas vezes quanto isso, que felizmente tenho essa capacidade, de fazer esse exercício nem sempre fácil, de saber colocar-me no lugar dos outros. Muitas vezes digo para não se fazer julgamentos precipitados. Ainda ontem escrevia, podemos ser Fortes, mas somos todos vulneráveis (e isso nada tem a ver com fraqueza). É muito fácil julgar quando não se passa pelo que os outros passaram. E nas condições certas (erradas) qualquer um de nós pode fazer aquilo que critica nos outros.
é verdade. se calhar ainda me lembrava de levar as jóias numa situação destas… seria difícil, tenho para mim, mesmo porque as não tenho… estou a brincar, seguramente (quase seguramente) que não me lembraria das jóias, nem dos óculos de sol, nem do ipad…
Já para não falar que as jóias podem ter um grande valor sentimental ,são também reserva de valor.Esse valor pode ser trocado por qualquer bem/serviço vital que nos ajuda a sobreviver. A sua critica parece-me mesmo infundada.
Cara Elisabete, desculpe lá, mas está a criticar a melhor decisão da Joana Vasconcelos. Em casos de luta pela sobrevivência a racionalidade é o principal argumento.
A sua critica seria lógica, se realmente a pessoa fosse a um jantar dançante.
Será que neste exercício em vez de transmitirem ás crianças conhecimento que as possa salvar em caso de perigo , limitaram-se a “ensinar” o politicamente correcto ?
Outra questão que penso seria de colocar: não será esta espécie de simulacro desnessáriamente traumatizante para as crianças. Muitas destas crianças (cobaias ?) não terão tido pesadelos na noite seguinte ? Com que resultados na sua futura personalidade ?
Se não, porque não simular também outros receios das crianças ? Como a morte dos progenitores. Será que vocês acreditam que estas coisas se devem treinar como o desporto ?
cps
Rui Silva
Veja o vídeo, por favor. Depois me dirá se a minha crítica é de facto infundada. Não são apenas as jóias. É tudo o que ela refere que levaria.
Quanto ao resto, se o simulacro não será traumatizante… provavelmente foi. Eu não escrevi nada que indicasse que considerava que ‘estas coisas’ se devem treinar como o desporto, atenção. Apenas disse que a campanha se calhar era bem intencionada nas suas ambições. É diferente, atenção.
Sim, não traumatizem as criancinhas! Escondam-lhes todas as verdades da vida. Limpem-lhes o cu ou continuem a apertar-lhes os cordões até aos vinte anos. E depois terão futuros adultos que se suicidam socialmente quando perceberem que a vida não é a estufa cor-de-rosa onde sempre acharam que viveram, e que nada cai do céu como os pais lhes fizeram crer.
Já vivi uma situação de ter de escolher o que levar, como refugiado, e garanto-lhe que as jóias são a primeira coisa que eu e outros na mesma situação que eu pensaram em levar. Jóias equivalem a muito dinheiro em pouco espaço. Dinheiro vivo não sujeito a câmbios, facilmente cambiável em caso de necessidade. Jóias escondidas nas bainhas dos vestidos e moedas de ouro nos forros dos botões. Fútil é pensar que as jóias são fúteis. O que vi as pessoas colocarem nas malas que levavam foram as jóias, as ferramentas e a máquina de costura: dinheiro e capacidade de fazer dinheiro. Quem vem para aqui dizer que levam livros não fazem a mínima ideia do que é ter de ser refugiado. Acho que a Joana de Vasconcelos esteve muito bem.
Há um filme muito interessante sobre refugiados em França, não me lembro do nome, onde é evidenciada a importância e a diferença que faz, num refugiado, um casaco de bom corte.
Joana de Vasconcelos disse que levava as jóias (dinheiro) e as lãs, e instrumentos de ponta tecnológica, que são essenciais para ela fazer dinheiro e negócios. É sempre preferível levar a cana do que o peixe.
Embora correndo o risco de me chamarem nomes desajustados à minha pessoa, e aos quais ofereço o meu mais profundo desprezo, vou fragmentar uma pequena parte do seu texto.
Não é o que se leva que importa, mas o que se encontra.
( mas tem de se adaptar ao que encontra e não condicionar ou subjugar ao que quer encontrar)
E o que muitos dos refugiados encontram é a desumanidade e a humilhação.
Ê falso o que a senhora escreveu!
A desumanidade e humilhação não partiu de quem recebe, mas de quem foi recebido.
Quantas manifestações de rua organizadas e conduzidas exclusivamente por árabes, a Senhora conhece? Diga-me uma só!!!!
Quantas denuncias foram feitas por árabes sobre os seus irmãos de raça considerados suspeitos? Nenhuma porque o silencio é sepulcral .
E como classifica a Senhora Elisabete um individuo que nasce num país (que acolheu os seus pais e/ou avós) e comete crimes de sangue contra o seu próprio país (?) e concidadãos ?
Dir-me-á que são uma minoria a praticar actos de terror.
È verdade!
Ainda que seja uma minoria, o certo é que a MAIORIA com o seu silencio torna-se cúmplice.
Receber refugiados SIM! Mas não porque se quer ficar bem na foto, ou porque se é “uma alma caridosa”.
As responsabilidades têm de se repartir por quem entra e quem recebe,
O resto são futilidades.
eu não lhe vou chamar qualquer nome, até porque, pelo que escreveu, já teve a amabilidade de se qualificar, poupando-me a essa tarefa.