Olhos de pequeninos a brilhar de atenção alegre tão forte quanto o coração lhes está a pulsar é do mais lindo que se pode observar, não é verdade? Pois foi esse encanto que mais uma vez esteve estampado nas caritas expectantes de uma centena de crianças, de bibe laranja aos quadradinhos e sentadinhas com as pernitas a abanar nas cadeiras do Teatro Armando Cortez. No palco, foi aquela magia sempre renovada, produzida desde há 40 anos com um profissionalismo admirável pelo TIL, Teatro Infantil de Lisboa. Desta feita, a peça é a Cinderela, uma Cinderela alegre e com referências à actualidade, como aquela da lista dos convidados ao baile no ipad.
Para as crianças de quatro ou cinco anos ali presentes, esse foi um momento em tudo diferente do dia a dia digital e da realidade apressada e às vezes dura. A menina na cadeira perto da minha tinha um ar tão sério, ainda antes de começar o espectáculo, que lhe perguntei porquê. “Vai aparecer uma bruxa!”, respondeu toda encolhida. E tão aflita estava, que a atenta educadora lhe garantiu que podia trocar de lugar para ficar ao seu lado, se tivesse medo – o que ela fez de imediato. No fim, já aliviada, é que ela disse que gostou, gostou muiiiiito da peça.
Foi com 3 anos que a minha filha viu pela primeira vez um espectáculo do TIL. E após ter visto uma vez o Dom Quixote, quis ir ver outra vez. E mais outra. E ainda mais uma. Decorou as letras das canções e zangou-se com uma das actrizes por ser tão má para com o Sancho Pança, ao que a actriz retorquiu que o Sancho Pança a deixava em casa sozinha com todos os trabalhos por fazer, para seguir o seu amo. “Mas é amigo dele, ele tem de ir!!!”
E desde essa altura, ficou ela também amiga do TIL – e por arrasto toda a família – e lá vamos, nas férias da Páscoa, ano a ano, ver a peça da temporada. Tem hoje 14 anos e eu não gosto nem de pensar que ela poderia não ter tido esta oportunidade na sua vida. Ficou marcada uma referência, acrescentada uma riqueza, sentida uma intensidade que abriu uma janela à literatura, à música, à dança… à Arte.
Garanto-vos que é um espectáculo para toda a família, ou não tivéssemos, as 3 gerações que ali estávamos, sentido os olhos rasos de lágrimas em algum momento do espectáculo.
Parabéns pelo texto. Gostei muito de ler e fiquei com vontade de “mergulhar” novamente na magia da Cinderela com a acrescida curiosidade das referencias à atualidade! Sim, devemos levar as crianças ao teatro e, preferencialmente, logo desde muito cedo, comprometendo-nos com a sua educação e formação estética que decerto lhes abrirá muitas janelas no futuro. Vou divulgar este post a todos os meus amigos que têm e trabalham com crianças.