Estou estupefacto com muito do que se tem dito sobre o caso Panama Papers. Não me admira a defesa exaustiva que a direita ultraliberal tem feito dos paraísos fiscais, até porque muitos destes paladinos da selvajaria financeira são beneficiários directos destes esquemas de evasão fiscal e corrupção. Mas surpreende-me ver aqueles que, assumindo-se de esquerda e activamente contra a existência de offshores, olham para este caso como uma mera conspiração para destabilizar países como a Rússia e outros opositores do status quo ocidental.
Sim, a forma como a informação tem sido apresentada parece deixar uma série de tubarões imunes aos acontecimentos. Mas não seria demais lembrar que alguns dos implicados, como o presidente ucraniano e fantoche da CIA Petro Poroshenko, os membros de diferentes famílias reais do Golfo, como o rei da Arábia Saudita, ou o recém-eleito presidente Macri da Argentina, o herói latino-americano do momento da falange extrema-liberal são, todos eles, importantes e estratégicos aliados do tal status quo ocidental que este caso aparentemente está a poupar.
Importa também referir que a existência dos paraísos fiscais, todos eles e não apenas o Panamá, sofre uma profunda e violenta machadada e que a sua existência nunca mais será a mesma. Se a contestação já existia, a revolta e o ódio que as recentes revelações geraram e continuarão a gerar é, por si só, uma pequena vitória para aqueles que, como eu, desejam o fim deste regime que permite ao capitalismo selvagem explorar ainda mais a esmagadora maioria da população mundial.
Mais: o facto de sabermos hoje que os esquemas offshore encobrem parcerias entre alguma da sacrossanta banca mundial e criminosos, terroristas e traficantes de droga e armas expõe, da forma sem precedentes, toda a podridão e falta de ética ou valores que impera na alta finança mundial. Aquilo que em tempos era considerado por muitos como mera especulação é hoje factual. A ganância do regime ultraliberal não tem limites e agora temos mais algumas provas disso mesmo. Parece pouco? Calma. Roma e Pavia, não se fizeram num dia.
Mas isto não pode ficar por aqui. Não é apenas o Panamá e meia dúzia de ilhas nas Caraíbas. Os paraísos fiscais estão aqui, na Europa, e todos os dias são desviados milhares de milhões de euros da economia real para estes estratagemas corruptos. Compete-nos, a todos aqueles que acreditam na transparência e no fim dos regimes mafiosos de excepção, denunciar estas situações, pressionar governos e exigir mudanças. Já viram bem como reagiram os islandeses, esses malucos que até prenderam uns quantos corruptos que levaram o seu país ao abismo em 2008?
Longa e difícil será a batalha contra o terrorismo financeiro, por isso venham daí esses papéis, sejam do Panamá, das Ilhas Virgens Britânicas ou do Luxemburgo. Ou seria preferível que nada disto tivesse vindo a público?
100% de acordo!!! Agora há que ver se as medidas que estão a ser avançadas vão ser mesmo implementadas… Porém, tal como diz, a indignação em si já é um resultado (espera-se). E sinceramente, ver Cameron a ter que se justificar já é um tiro na mouche. Agora corre que o novo paraíso fiscal é nos EUA, Sioux Falls no South Dakota… Jornalismo investigativo a sério e financiado por entidades/pessoas independentes é MESMO, MESMO urgente!
É urgente e perigoso para os Whistleblowers: o que revelou os documentos do Panamá esconde-se sob o nome “John Doe” e afirma ter medo de actos de vigança; Porque este belo sistema, em vez de defender estas pessoas que actuam em nosso favor, ainda a criminaliza e abandona à sua sorte.
Mesmo urgente. Isto pode ser um princípio de algo, mas é imperativo que as pessoas pressionem os governos. Na Islândia estão a acontecer coisas…
Os liberais não são a favor dos paraísos fiscais, são sim contra os infernos fiscais.
cps
Rui SIlva
Os liberais como o Rui são os cruzados deste tipo de assalto. Você vive no anonimato homem, não tenha medo de assumir aquilo que defende!
Enquanto um dos membros fundadores da UE for um paraíso fiscal no centro da Europa e que por acaso até tem o seu Presidente da Comissão, o que pensa que vai acontecer aos paraísos fiscais na UE? Um dos maiores PIB per capita do continente tem de ser conseguido à custa de algo ou de alguém.
Acredito que deve ser precisamente por aí que devemos começar. Mas, como o Luxemburgo, existem outros membros da UE com paraísos fiscais. Era de limpar tudo de uma vez.
Concordo com o post, pois entreabriu-se uma porta que com o tempo se pode escancarar e tirar de lá muitos mais coisas escondidas no armário.
https://cefariazores.wordpress.com/2016/04/05/escandalo-panama-papers/
Andamos a concordar muitas vezes Cefaria, estou a ficar preocupado 🙂