“Lista do saco azul do GES com avenças a políticos e jornalistas”

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Este fim-de-semana o Expresso, que está a gerir a questão dos “Panama papers” de forma populista, como já tinha dito antes, coloca na sua 1ª página o caso da lista dos 100 nomes que estariam a ser pagos pelo GES, com o título “Lista do saco azul do GES com avenças a políticos”. A lista é de políticos e jornalistas, mas o título escolhido pelos jornalistas do Expresso para a 1ª página remove a palavra “jornalistas”. Porque é que isso me incomoda?

Por 3 coisas:
1. Não há democracia nem liberdade sem jornalismo de qualidade, sem medo, sério, rigoroso e capaz de afrontar os poderosos;
2. Como todos sabemos, pela nossa história universal, muitas das transformações que marcaram o mundo moderno resultaram da atividade resiliente daqueles que decidiram não alinhar e ser, assim, elementos de transformação;
3. Neste caso particular, no país da fuga permanente de informação, da violação sistemática do segredo de justiça, foi possível manter secreta uma lista de 100 nomes entregue ao Ministério Público. Uma lista que só foi descoberta devido aos “Panama papers”. O populismo e as “pequenas omissões” não são aceitáveis.

O que fica desta caso, nomeadamente da pergunta “Como foi possível manter secreta uma lista de 100 nomes, de políticos e jornalistas, no país da fuga permanente de informação e ao segredo de justiça”?

Resposta: Quando interessa, com a ajuda de pequenas e seletivas omissões em todo o lado (na informação, na justiça, na falta de transparência, na atividade política, etc.), com a ajuda de alguns milhões (que depois ninguém reclama – a notícia refere ainda 2 milhões de euros encontrados em cofres que ninguém reclama como seus) tudo é possível. Querem matar a democracia? É assim que se faz, mostrando que tudo se manipula e que, quando interessa, todos são manobráveis para conseguir o que se quer. Nestes casos o jornalismo tem de ser particularmente cuidadoso e transparente.

Comments

  1. No artigo podes ler:

    A ES Enterprises fez pagamentos durante mais de vinte anos que nunca foram conhecidos. Na Comissão Parlamentar de Inquérito ao caso BES, Ricardo Salgado afirmou, sem nunca especificar nomes, que os pagamentos eram feitos apenas a quadros do GES que prestavam serviços partilhados pelas operações internacionais. Mas as mais de uma centena de nomes que constam nesta lista de várias páginas incluem várias pessoas influentes, incluindo autarcas, funcionários públicos, gestores, empresários e jornalistas. A ES Enterprises terá sido usada também para pagamentos durante vários anos a gestores do BES e da Portugal Telecom, apesar de estes já receberem remuneração em Portugal no desempenho das suas funções societárias.

    Com isto não pretendo contestar as tuas afirmações. Antes pelo contrário. Ao retirar da primeira página e relegar para o interior do artigo esta informação fulcral está-se, efectivamente, a esconder da maioria das pessoas este facto. Consegue-se desta forma manipular muito facilmente o que aparece aos olhos das pessoas. Isto, na minha opinião, é qualquer coisa de especialmente subversivo.

  2. Ana A. says:

    “Querem matar a democracia? É assim que se faz, mostrando que tudo se manipula e que, quando interessa, todos são manobráveis para conseguir o que se quer.”
    E não é assim?
    É que a Democracia dá muito trabalho ao comum cidadão. A cidadania é uma actividade a tempo inteiro,e não me parece que as pessoas estejam interessadas nisso. A começar pela educação para a cidadania e na sua acção quotidiana. Para uns a democracia exerce-se no voto e para outros, nem isso. E depois, há as excepções…

  3. “Como foi possível manter secreta uma lista de 100 nomes, de políticos e jornalistas, no país da fuga permanente de informação e ao segredo de justiça”?” Excelente e pertinente pergunta e mantém-se o secretismo para o leitor e espetador dos ocs envolvidos para ser debitado ao interesse oportunista de quem tem acesso à informação… saberemos se algum nome de jornalista for da TVI ou do Expresso?

  4. Sim, há mais de três semanas que eles têm em poder todos os nomes dessa lista. O simples facto de, como diz o artigo, “gerirem” a divulgação dessas notícias, abre azo a todo o tipo de especulações e transforma até os “panama papers” num vulgar e despudorado instrumento de poder/chantagem.

    O simples facto de que a divulgação dessa lista obecece a “timings” e a calculismos, sem qualquer transparência, que não são questionados por outros órgãos de informação ditos “de referência”, mostra de forma clara que o jornalismo é hoje em dia parte do problema. Ou seja, o jornalismo mostra que não é um observador imparcial, vocacionado para simplesmente e sem truques informar o público, mas, pelo contrário, prova mais uma vez que é um actor envolvido até à ponta dos cabelos nesse jogo.

  5. Fernando Torres says:

    Concordo.
    Se são 100 nomes que sejam divulgados, com carácter de urgência.
    Porra.
    Estamos fartos de ser sugados.
    Enganados.
    Sem mais um euro para pagar a crise e das muitas faustosas festas cor-de-rosa, de gente que sorri forçadamente e que vive só disso.
    São uns sortudos da vida.
    Não sabem o que é viver com o salário mínimo, e com esses míseros euros têm de pagar as contas mensais de água, eletricidade, gás (tvcabo para alguns), a assinatura do telemóvel e agora o IMI), não esquecendo a educação dos filhos, a alimentação básica da casa, entre outros,
    No capítulo da Cultura, o povo do salário mínimo assim não podem aceder a uma oferta cultural estrutura, mas que está sempre ao serviço das elites, pois que usar uma peça de roupa da Primark é logo um rótulo de pobreza, por contra porto de um Armani ou Gucci, por exemplo, que logo é diferente.
    O cooperativismo ainda reina a seu bel-prazer no Portugal do século XXI.

  6. 🙂
    Afinal vivemos em democracia e liberdade de expressão?
    A mentira torou-se verdade …. E a verdade ou é mentida ou então é escondida.
    Vivemos num mundo onde há gente,,,que não é gente!

Trackbacks

  1. […] passaram quatro dias e nada. Começo a notar algumas semelhanças com o silêncio do Expresso sobre os jornalistas e os políticos avençados pelo saco azul do BES que foram identificados nos célebre…. Houve um tempo em que qualquer crescimentozeco ou redução da dívida pública era celebrado […]

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