Lições do Brasil

Carlos Araújo Alves

1 – A Democracia não se basta com uma Constituição, com um aglomerado jurídico que a suporte, com eleições livres e universais; precisa de tudo isso, mas para ser efectiva a Democracia tem de estar fundada numa larga maioria de cidadãos democratas prontos a construí-la e a defendê-la.

2 – A descoberta e exploração de petróleo ajudou o PT a melhorar as condições de vida dos mais desfavorecidos; o “dumping” no preço do petróleo arrasou com o PT, com o Brasil e com a esperança de milhões de brasileiros em fugir à miséria.

3 – O PT falhou redondamente na sua promessa de erradicar a corrupção económica e política do Brasil; falhou e acomodou-se a ela. Imperdoável para quem defende ideais de justiça económica e social.

Comments

  1. Ernesto Martins Vaz Ribeiro says:

    E daí?
    A Democracia com base nos cidadãos democratas parte de dois princípios básicos: a educação (e a consequente cultura que permite fazer uma escolha ponderada e judiciosa) e a Justiça que deve ser o fiel da balança da Democracia.
    No Brasil, tal como em Portugal, nem uma nem outra coisa e por isso vamos assistindo a esta alternância que reflecte 0o deixa andar.
    Quando me lembro que uma figura sinistra como Cavaco teve quatro maiorias absolutas como políticoo, sou forçado a concluir que o povo português é verdadeiramente inculto. Por isso, neste momento, lhe lança cobras e lagartos, quando antes o endeusava.
    No Brasil, não há diferença nenhuma. Uma Justiça que permite que verdadeirosd ladrões e corruptos sejam deputados, não pode dar lugar a nenhuma Democracia.
    Não foi a descoberta e exploração do petróleo que ajudou o PT a melhorar as condições de vida dos mais favorecidos. Foi a vontade do PT em fazê-lo.
    Verá que Temer e os seus corruptos seguidores terão a mesma possibilidade e nada farão pelos mais desfavorecidos.
    Tem razão quanto à corrupção e por isso mesmo defendo que não há revoluções de cravos ou de margaridas ou de malmequeres. Há apenas golpes de estado.
    A revolução é uma ruptura e para que esta se faça, não chega um golpe de Estado. Os detentores do poder aparecerão, mais tarde ou mais cedo reciclados de democratas ainda que não passem de jagunços como aconteceu no Brasil e mesmo em Portugal.
    É a História que no-lo diz, face à repetitividade.
    Mas quem lê o seu post fica com a impressão (desde já me desculpo se o interpretei mal) que o PT teve o que mereceu.
    Se é assim, é pena, embora esteja convicto que, infelizmente, o futuro falará pelo PT.

    • Interpretou mal, caro Ernesto Vaz Martins, mas posso ter sido eu que não fui claro.
      Embora a considere muito importante para o desenvolvimento da Pessoa, não considero que a instrução seja elemento basilar de uma Democracia, basta olhar para o papel que desenvolveram os movimentos operários um pouco por todo o mundo desde finais do sec. XIX e, por outro lado, estamos, aqui, no Brasil e por esse mundo afora a braços com uma ditadura financeira perpetrada por gente licenciada, mestre e Doutora, que se presta aos mais vis actos de corrupção.
      Falo mesmo da necessidade de uma comunidade de gente democrática como elemento fundacional da Democracia e sua defesa, o que faltou agora no Brasil, por exemplo.

      Sobre a vontade inicial de o PT pretender uma política redistributiva que favorecesse os mais desprotegidos, não tenho a menor dúvida; O que disse é que foi o lucro da exploração do petróleo que permitiu que o PT tivesse o êxito que teve nessa demanda, sendo que, a inviabilidade de prosseguir essa exploração devido ao “dumping” dom preço de petróleo, prejudicou a continuidade dessa vontade.

      Erros do PT apontei um, o de não ter erradicado a corrupção económica e financeira e de até se ter acomodado.

      Espero ter contribuído para esclarecer melhor o que pretendia dizer.

      • Ernesto Martins Vaz Ribeiro says:

        Começo por lhe agradecer a sua intervenção que é, de facto, muito clara para mim e necessariamente desculpar-me da má interpretação.
        Em todo o caso, não concordo com a sua opinião sobre a instrução (ou falta dela) e muito menos no exemplo que cita.
        Os movimentos operários do século XIX tiveram como denominador comum uma absoluta mudança de paradigma. Repare que a população que dá origem aos movimentos operários era saída dos campos, atraída por novas ocupações e melhor remuneradas, pois o primário esgotava-se rapidamente fruto também de um escoamento complexo e uma cadeia de interesses muito elevada que fazia decrescer o lucro dos produtos agrícolas.
        Rapidamente se deram conta que a vida na sociedade Industrial que despontava não era nenhuma quimera dourada. Viver em ilhas, a monte, com epidemias constantes ( a peste bubónina, pneumónica e o tifo exantemático matavam aquela gente como tordos). Foram estas faltas de condições e a escravidão do trabalho de sol a sol que fez com que os operários se revoltassem. Ou seja, o seu movimento revolucionário é governado por questões de sobrevivência e é neste pilar que se desenvolve a contestação
        Mas repare que foi esse movimento que fez despertar a necessidade da cultura – alfabetização neste caso. Cito-lhe o caso Português onde pontificaram personagems como Passos Manuel e Fernandes Tomás, exemplos de governantes puros e isentos como houve muito poucos, que nas décadas seguintes a 1820 e principalmente depois de 1834, apostaram fortemente na alfabetização que, em Portugal, rondaria os 20%. Foi essa mudança, interrompida aqui e ali por outras guerras, que gerou um movimento social que se terminou, após muitas lutas, num período de crescimento onde a cultura (os grandes vultos da filosofia, da arte, da escrita portugueses aparecem em grande número depois de 1850) passou a ser uma valência. Multiplicaram-se os Jornais e as fontes de troca de opiniões.
        A evolução das sociedades tem muito a ver com a cultura das suas gentes, ainda que seja uma cultura básica, mas onde o habitante sabe distinguir o bom do mau para si. Hoje, não é verdade. As pessoas não seguem ideologia: seguem quem diz umas “larachas” e sobretudo, seguem uma bandeira.
        Tem toda a razão no que refere sobre a ditadura financeira e todos sabemos quem está por detrás do que hoje se passa no Brasil. Alguém que enche a boca com as palavras liberdade e democracia, mas que tem, de facto, um umbigo e uma ganância incomensuráveis.
        Para terminar, a erradicação de um flagelo como a corrupção só se consegue com uma Justiça de olhos vendados e que corte a direito, sem dó nem piedade. O problema é que a mesma ditadura financeira de que muito bem fala, é um polvo com tentáculos que vão manietando o aparelho e os pilares da Democracia, onde a Justiça tem lugar.
        Santo Agostinho dizia cerca de 400 DC que …”Um país sem justiça se transformaria facilmente num covil de ladrões …”
        Esta fase, para mim, reflecte exactamente o grande drama da sociedade actual. Ausência de Justiça.
        Foi um prazer trocar impressões consigo. Cumprimentos.

        • Nada há para desculpar, caro Ernesto Martins Vaz Ribeiro, lapsos de comunicação acontecem e desacordos, ou melhor, pontos de vista diferentes, também e ainda bem.
          Ressalvo, para que não fiquem dúvidas que considero a educação a melhor investimento que uma Democracia deve fazer no sentido de contribuir para o desenvolvimento da pessoa e para a emancipação da criatividade.
          Dito isto, mas sem olvidar o que escreveu, não sou de opinião que a cultura e a educação tenham a mesma relevância que a consciência colectiva para a construção democrática.

          Melhores cumprimentos

  2. Esclarecedor não é ? says:

    O que eu digo desde as primeiras eleições após o 25/4/74:
    – O povo português não presta…

    Que se pode esperar de um povo que só quer Fátima , Fado e Futebol ?

    Agora…? desanquem à vontade.

  3. Ernesto Martins Vaz Ribeiro says:

    Não é uma questão de desancar. É um constatar constante… De facto a maioria do povo português não sabe o que quer e mais grave, não se importa nada com isso.

  4. joão lopes says:

    o actual e ilegitimo governo brasileiro não tem quase nenhum apoio popular,alias o temer vale menos que 2% segundo sondagens(e imagine-se que as sondagens diziam a verdade,então o temer tem para aí 0,5% de apoio que são os ricos brasileiros) pelo que …tambem não vale a pena estar a acusar o povo de ser ignorante,embora o povo brasileiro seja globo dependente e envangelico dependente.

    • Sim, e o problema é que um dos visíveis efeitos de “globo-dependência” e de “evangelico-dependência” é uma espécie de contágio da ignorância. Eu vejo no Brasil um nível tóxico de desinformação, de incultura e até de ódio primário nos principais órgãos mediáticos, capaz de fazer corar os Correios da Manhã cá do sítio. Ou não….

      Falta de cultura produz uma espécie de dormência cognitiva. As pessoas em Portugal só ligam os notíciários para saber se o Jorge Jesus renova ou não, e para além disso vêem a novela ou um concurso qualquer, e basta; porque as questões políticas têm demasiado ruído nos órgãos de informação e as pessoas não se conseguem concentrar o suficiente para perceber o que é ou não relevante, adoptando a maior parte das vezes uma perspectiva clubística da realidade (porque isso torna a política muito mais simples, em verdade se diga).

      Em relação ao Brasil, eu acho que há sempre algo de simbólico quando um Governo acaba logo com o Ministério da Cultura (que é aliás uma prática corrente do nosso PSD por cá também) e anuncia inicialmente um Pastor da IURD, que acredita que a Terra foi criada há 6000 anos ou não sei quê, para a pasta da Ciência e Tecnologia (!!!). Acho que entretanto tiveram que nomear outra pessoa porque deu escândalo, mas se formos a ver, Passos Coelho, por cá, verdade verdadinha que mostrou o mesmo desprezo pela ciência com a redução drástica das bolsas de investigação e tudo o mais. E tudo isto deve ser visto num perspectiva mais global: dizem que estamos numa etapa degenerativa do capitalismo, que é dominado por uma espécie de “flat earth economics” (o dogma do pensamento neoliberal recusa-se a constatar que a Terra é redonda porque isso não vem apresentado em nenhum dos seus gráficos ou das suas folhas Excel). A forma do capitalismo resolver as suas contradições internas é por isso estupidificando, é formar uma sociedade de completos idiotas.. E nisso é bem-sucedido. Veja-se Donald Trump.

      Eno Brasil vai-se reverter tudo o que foi feito a nível de acesso de gente pobre à Cultura e às Universidades, jogando o pobre de regresso ao seu cano de esgoto sintonizado na Globo. Se a empregada percebe que é mais esperta que o patrão, começa a pedir aumento. E já Salazar dizia que povo culto é ingovernável.

      • Martinhopm says:

        Gosto do comentário. Quanto maior for a iliteracia (e já nem falo do analfabetismo) tanto melhor para os ‘abranhos’ (Cavacos, Coelhos, Albertos Joões, Relvas e quejandos) no poder. É perigoso pôr o povo a pensar pela própria cabeça.. Então, temos os meios de comunicação, controlados pelo capital, no Brasil ou em Portugal, a tudo fazer para manter na ignorância o maior número possível e durante o maior prazo possível..

      • joão lopes says:

        “fazer corar os CM cá do sitio”.olhe,não vá mais longe,nós cá temos a TVI.os “conteudos” é novelas e porno(ou quase),os tipos mentem(banif) e pelos vistos a mentira agora é uma “qualidade”(cheguei a pensar que o sergio figueiredo queria que os deputados da comissão lhe pedissem desculpa por estarem a aborrecer o menino),para ganhar o bendito dinheirinho…olhe,vêr o Padrinho é um acto de resistencia,hoje em dia.

  5. Esclarecedor não é ? says:

    Ninguém acusou os brasileiros de ignorantes.
    Só os portugueses de não prestarem… (FFF)

    • Ernesto Martins Vaz Ribeiro says:

      Ignorância e falta de cultura são coisas diferentes.
      O português, tal como o brasileiro é, numa grande maioria inculto e não ignorante. Incultura é a incapacidade ou falta de vontade para aprender quando os meios existem.
      Ignorância é não saber porque não foram facultados meios para a aprendizagem.
      Hoje há muito onde aprender se houver vontade.
      Mas parece que esta, no Brasil, é futebol e telenovela e em Portugal, telenovela e futebol.
      Eis porque falo em incultura e não ignorância.

  6. Concordo consigo e será aí que terão de trabalhar (reforma do sistema todo) para irem descobrir boas soluções de futuro governos. Mas pelo tamanho dos comentários, vai aprender muito aqui com os meus colegas trolls, que fazem comentários, 3 x superiores ao post.

    • Ernesto Martins Vaz Ribeiro says:

      Curto para não o importunar, pois já percebi que é um verdadeiro troll e como se não chegasse, sensível.
      Se o incomoda o comprimento dos comentários, tem um bom remédio. Não leia.
      Refreie o seu comportamento e não cerceie a liberdade de cada um. Não imponha regras onde a liberdade e o comprimento de expressão é, felizmente rainha.
      Fica sempre bem. Cumprimentos.

  7. Tenham calma e paciência que é o melhor antídoto para o que se passa nas culturas das sociedades brasileira e portuguesa !!!

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