Sobre quem se fez gente no público, mas quer o privado para os que vierem

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“A pressão é enorme”, assegura M., encarregada de educação de um aluno do 8º ano do Colégio Conciliar de Maria Imaculada (CCMI), em Leiria, em alusão aos mais de 20 emails de mobilização para as diferentes iniciativas de contestação contra o Ministério da Educação. [Jornal de Leiria]

Percebo as razões porque se movimentam os colégios privados. Dinheiro. Não há mistério algum nisto e, para eles, os meios, mesmo que reprováveis, justificam os fins.

Percebo, igualmente, porque razão a direita e alguns sectores do PS os apoiam. Dinheiro, novamente. Também não há mistério algum, especialmente agora que é preciso encontrar negócio que substitua as obras públicas. Estas foram, durante muito tempo, parte do trinómio financiamento partidário/negócios privados/enriquecimento pessoal. O Estado, agora, não tem dinheiro para obras, pelo que os serviços públicos são a nova mina, onde educação, saúde e segurança social podem render milhões em negócios.

O que eu não percebo é o que moverá as pessoas que, não tendo nascido em berço de ouro, se mostram tão acérrimas defensoras dos interesses económicos dos colégios privados e, consequentemente, do ecossistema de negócios que os rodeia. Conheço várias, muitas mesmo, para as quais sem o ensino público, desde a primária até à universidade, nunca teriam chegado ao que são hoje. Do alto da sua formação académica, acham que estaríamos melhor com serviços privados. Mas foi no público que chegaram onde chegaram, com um tal nível de qualidade, ao ponto de serem recursos altamente disputados nos países para onde emigram.

Privatizar tem sido apresentado como a nova silver bullet. Na minha profissão, estas aparecem com frequência. É a tecnologia xpto que vai fazer tudo e mais alguma coisa. Ou o processo ou certificação, de preferência os dois, até, que irão resolver todos os problemas. Para a direita, a solução mágica reside na privatização. E, parece, muitos vão na conversa, mesmo aqueles que devem o que têm à existência de serviço público.

Não haja ilusões. O objectivo, legítimo, do privado é o lucro. Se se prosseguir na destruição do serviço público, chegará uma altura em que quem tem dinheiro conseguirá um bom serviço no privado. Os outros, que se contentem com o pouco que o serviço público tenha para oferecer. Este cenário não é uma hipótese. É o que acontece, por exemplo, nos EUA e no UK hoje em dia. Não é a herança que quero deixar para as próximas gerações, mas parece que há quem assim não pense.

Comments

  1. joão lopes says:

    pois,ainda não contentes com um pessimo espetaculo,os defensores dos colegios do negocio da educação, já manipulam até o PR com objectivos profundamente e doentiamente egoistas.mas porque não emigram para o…quatar(um pais neo liberal)?

  2. Ernesto Martins Vaz Ribeiro says:

    Não será chegada a altura de pôr os canhões de água a funcionar contra essa escumalha de amarelo vestida?
    Não são estas pressões que o autor refere, um atentado descarado à lei vigente?
    Democracia é ter que aturar atentados contra a lei?

  3. O problema é político e não financeiro.O ensino privado no presente é de melhor qualidade e o custo por turma para o estadoé inferior pois não paga as infra-estruturas nos colégios ,nem paga manutenção de edificíos,,seviços,bem feitorias etc.etc…Retirando a visível inveja de não serem capazes de nivelar por cima na qualidade mas isso é normal pois o grau de isigência na ademição de professores,empregados ou gestores.Mas isto é sabido não só para escolas como hospitais transportes,e outros,Porque seria que o PS reverteu as privatizações ?Não é para não deixar vêr os resultados positivos contrastando com os sempre prejuisos das empresas do estado.

    • Ernesto Martins Vaz Ribeiro says:

      Essa tecla batida do ensino privado ser melhor que o público, pertence ao modelo da “mentira mil vezes repetida que acaba por se tornar verdade”, se não for analisada até à causa de raiz.
      Há muitos anos que ouço a teoria da excelência da classe dos serviços privados em relação à do público, mas há dois factos que raramente se vê referido: primeiro, tal como acontece no ensino, é que quando a coisa corre mal ao privado, este tem muitas vezes, fruto de contratos ruinosos, a “bondade” do público no fornecimento de dinheiro dos contribuintes para equilibrar. O segundo, é a qualidade do gestor e aqui admito que os privados tenham mais cuidado. O gestor público é de uma forma geral incompetente, porque está ali a cumprir uma missão política para a qual foi foi incumbido e não raras vezes, é um financeiro que nada entende das matérias em causa, apenas de folhas Excell que substitui o lápis de bico grosso e o papel de merceeiro de antanho e as usam ora para somar, ora para subtrair.
      Depois há o “marketing” que provavelmente existirá nos rankings, os mesmos que definem que o ensino privado é melhor que o público. Não há por aí casos de “fermentação” de notas no privado, justamente para se situarem na parte alta da tabela?
      Quem fiscaliza?
      A diferença não é só política. É também psicológica e está bem interiorizada: O privado tem que ser rentável (isto de recorrer sempre à “teta” da vaca, também tem riscos) e o público … que se lixe. Perguntem a um professor qualquer o estado das contas da sua escola pública e ouçam a resposta.

    • j. manuel cordeiro says:

      E baseia-se em quê para defender essa superioridade privada? Nas notas empolgadas do privado?

      Sabemos o que é que esse ensino privado maravilhoso gerou nos states, por exemplo. E sabemos como os recursos saídos do nosso sistema educativo, maioritariamente público, têm tido sucesso quando, infelizmente, são obrigados a emigrar.

      O problema é lucro. Tão simples, quanto isto. Ou alguém teve pena quando milhares e milhares de professores foram para a rua nos últimos quatro anos?

    • Nightwish says:

      “Mas isto é sabido não só para escolas como hospitais transportes,e outros,”
      Claro que sim. Por isso é que, só para dar um exemplo, a Fertagus recebe o dobro por km da CP. É a eficiência.

  4. Os que assim não pensam são uns vendidos ao capital, ignoram a qualidade superior da escola publica, em todos os rankins estão nos 1ºs lugares e acima de tudo custam muito menos que as privadas, dados do tribunal de contas.. Tudo razões para essa corja não andar a manifestar-se, forçando os outros a ouvi-los. Para mim mandava-os calar mesmo que a força, ilegalizando aqueles extremistas fascistoides

    • j. manuel cordeiro says:

      Os que pensam assim podem estar, simplesmente, enganados. Herrar é umano.

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