Actividade económica mantém queda iniciada no governo de Passos Coelho

O título deste post, propositadamente provocatório, é factual, como veremos mais à frente, e poderia ser uma alternativa àquele que o Jornal de Negócios fez há dias, numa machete digna de susto. Camilo Lourenço, jornalista de economia, logo atestou, pelo sarcasmo, que a coisa estava feia.
 
2016-06-17 camilo lourenco fb
Depois lemos o artigo, vemos os gráficos incluídos e concluímos algumas coisas.


2016-06-17 n1

Gráfico publicado no artigo do Jornal de Negócios

2016-06-17 n2

Gráfico publicado no artigo do Jornal de Negócios

Uma das conclusões é que o título do artigo (“Actividade económica entra em terreno negativo pela primeira vez desde 2013”), sendo objectivamente exacto, não reflecte o comportamento oscilatório do indicador apresentado. É o olhar de quem vê a árvore em vez da floresta. Todos os que apenas lêem as gordas, e sabemos que no Facebook muitos não passam do título, pensariam que estamos numa trajectória de declínio contínuo, o que até é reforçado pelo comentário do jornalista Camilo Lourenço.

Outra conclusão é que a situação não sendo boa, não é também nem singular, nem catastrófica, como se poderia esperar de um título assim alarmista. Na verdade, não sabemos muito bem onde isto vai dar, se sobe, se desce. Há por aí muita gente a suspirar para que desça, apesar de mostrarem uma preocupação cínica por estar a descer. Não me apetecendo concretizar, lembro apenas que, em Fevereiro, já havia quem anunciasse um rectificativo para o Verão.  Neste contexto, prefiro esperar para ver, até porque quem sabe se o turismo do Verão não trará animação económica?

Gráfico original com escala sobreposta (clicar para ampliar)

Gráfico original com escala sobreposta (clicar para ampliar)

Por fim, se olharmos para o gráfico com mais atenção, sobrepondo uma escala ao gráfico original, vemos que o período de queda começou em Novembro de 2015, ainda durante o segundo mini-governo de Pedro Passos Coelho! É um dado sem grande valor, é verdade. Mas também é factual, o que torna o título deste post uma alternativa tão válida para o artigo do Jornal de Negócios quanto aquele que escolheram. É apenas uma questão de que forma subjectiva se pretende noticiar a mesma realidade. O artigo do Jornal de Negócios opta, simplesmente, por um certo olhar, coincidente com o da Direita.

Para o bem de todos, espero que isto corra pelo melhor. E a coisa vai andando, apesar dos sucessivos anúncios de que irá rebentar já a seguir.

Comments

  1. Uma sina um pouco triste para um país com séculos de história… ter a sua estratégia de sobrevivência assente no turismo. Nos rendimentos exteriores e no servilismo à Europa do Norte.

  2. Eleitor says:

    Por aquilo que vou lendo e ouvindo por aí, já não está em causa se vamos ou não de novo prò buraco. As divergências resumem-se ao tempo que ainda nos resta até ao próximo resgate. Será o 4º da responsabilidade do PS. É obra!

  3. Nuno Lopes says:

    Calma. Afinal a Geringonça está no poder. As reversões estão em curso. Logo logo já vai ficar tudo bem. Calma

  4. Jornalistas ceguinhos.Mesmo quando chegarmos á banca rôta ainda irão escrever informando que a culpa afinal é da exclusiva responsabilidade de todos os países Europeus.Quinta coluna de ceguinhos.

  5. j. manuel cordeiro says:

    Aos comentadores Eleitor, Nuno Lopes e jo:

    Podemos discutir os assuntos diversos que entenderem. Que tal abordarmos a temática da importância da matéria negra no buraco negro que foram os bancos do regime? Mas para isso vamos precisar de um post sobre esse tema.

    Já quanto este post em particular, os vossos comentários passam ao lado do que está em discussão. Entretanto, sintam-se à vontade para falar do que está escrito.

    • j. manuel cordeiro says:

      Até vos deixou uma dica: a queda começou no mandato do vosso querido líder. E antes da queda, já tinha caído, depois de ter afundado e flutuado, sem nunca emergir verdadeiramente.

    • Nuno Lopes says:

      Tem toda a razão. Mea culpa não falar do que está escrito.

      Post sem nada de substancial. Uma coletânea de recortes de jornal e um tweet para demonstrar não sei bem o quê. Que não há isenção na apresentação de factos? Isso não é nada de novo. Para atacar a direita? Que forma tão desajeitada de o fazer. Há tanto por onde pegar. Por exemplo, como é que o negócio dos transportes do Porto não foi concluído. Isso podemos criticar. Agora este post? Sinceramente…
      Ai tem, falei do que está escrito.

      • j. manuel cordeiro says:

        Ora, está a ver que conseguiu. É a sua opinião, pode estar errada, mas não deixa de ser sua.

        • Nuno Lopes says:

          Evidente. A minha opinião é mesmo assim: minha.

          • j. manuel cordeiro says:

            🙂 exactamente. Por acaso partilho da sua opinião quanto à apreciação do post. Longe de mim pretender que uma laracha destas chegasse aos objectivos que apresenta. Serve apenas para realçar que os números, apesar de parecerem objectivos, são manipuláveis como as palavras. Servem para construir títulos, como este do Negócios, que são usados para alimentar a correia de transmissão da direita. Chamar à atenção para este detalhe é capaz de fazer algum sentido.

          • Nuno Lopes says:

            Pois olhe, é mesmo assim. Cada um vê e diz as coisas de acordo com aquilo em que o próprio acredita ou o próprio defende. Isso é humano. Intencional ou não, inconsciente ou não, á esquerda ou á direita. Esse enviesamento existe. É humano cada um nós agir de acordo os nossos interesses. Não há isenção. É humano. Parece-me que está a criticar um ser humano por se comportar como… um ser humano.

      • Rui Silva says:

        Esta análise é retrospectiva, e lógica. Ou seja a degradação do estado económico da coisa tem a ver com o governo anterior, nunca com as opções fantásticas do actual governo, que como são as opções certas à partida, nunca poderiam ser as causadoras dos maus resultados .
        Usando a mesma lógica o governo anterior também obteve maus resultados não devido ás suas opções mas sim ao governo socialista que o precedeu, que tinha deixado o pais em autêntico florescimento económico (ou para os mais atentos na Bancarrota).

        Rui SIlva

        • j. manuel cordeiro says:

          Como já antes escrevi, acho que a acção do governo (o que estiver em funções) é bastante irrelevante. Com a nossa dependência externa, energética e financeira, por exemplo, qualquer flutuação nos factores externos tem impacto directo na nossa economia. Dinheiro barato e petróleo barato, como tivemos nos últimos dois anos, produzem bons resultados cá. Os nossos ciclos são, essencialmente, os mesmos que vemos em países em semelhantes circunstâncias. Claro que a vinda da troika teve um tremendo impacto; claro que o governo de Passos teve por isso dificuldades; claro que os indicadores que justificaram a vinda da troika não chegaram às metas pretendidas; claro que o contexto internacional evitou um terceiro resgate; claro que o “governo internacional” foi simpático perante os objectivos não atingidos; e claro que seis meses de governação ainda não produziram efeitos visíveis. E, já agora, não espero resultados espectaculares. Se isto se for aguentando, não será nada mau, porque a solução direita seria esperar que isto se fosse aguentando na mesma, mas transferindo funções do estado para os negócios privados. Ou seja, continuarmos mal, mas sem um conjunto de serviços que agora temos. A grande questão, que até me levou a votar no Passos em 2011, veja-se lá a blasfémia, é a reforma do Estado, essa que Passos prometeu e não fez. Reformar não é passar a educação para os colégios privados, a segurança social para as IPSS e a saúde para a família Mello. Isso é baralhar, partir e dar. Reformar seria acabar com a rede tentacular das delegações estatais, por exemplo. Para que é que existem por exemplo as CCDR? E as inúmeras delegações do ministério da agricultura? E dos restantes ministérios? E a duplicação do funcionalismo autárquico via empresas municipais? E a justiça, pilar fundamental do Estado, que não funciona? Isso seria reformar, o que nada tem a ver com aumentar impostos e cortar serviços públicos para, depois, os fazer nascer no privado.

          • Nuno Lopes says:

            ” que a ação do governo (o que estiver em funções) é bastante irrelevante.” Não, não é. Não tem o alcance que nos querem faze acreditar que tem mas não são irrelevantes. Há um contexto internacional, etc… os governos têm de saber lidar com esses contexto de forma a conduzir o pais de acordo com os melhores interesses da população. Raramente o fazem.
            As ações dos nossos governos não foram irrelevantes nas bancarrotas.

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  1. […] É uma questão de tempo até que a actividade económica, em queda desde 2015, produza impacto suficientemente negativo que gere as condições para justificar as desejadas […]

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