Retrocesso e radicalização: o alarmante destino de Theresa May

New British Prime Minister Theresa May speaks to the media outside her official residence,10 Downing Street in London, Wednesday July 13, 2016. David Cameron stepped down Wednesday after six years as prime minister. (AP Photo/Kirsty Wigglesworth)

A chegada da eurocéptica Theresa May ao poder no Reino Unido não está a ser particularmente animadora. Poucos dias após se mudar para o nº10 de Downing Street, a nova primeira-ministra inglesa já conseguiu a proeza de promover uma onda de retrocessos de proporções consideráveis. Margaret Thatcher iria adorar.

Para a pasta do Ambiente, May convidou Andrea Leadsom, a Ministra da Energia de David Cameron que recentemente questionou a veracidade do problema das alterações climáticas, flagelo que ainda esta semana regressou à ordem do dia, após a divulgação de um relatório encomendado pelo executivo Cameron que avisa para a necessidade do país se preparar para cheias, vagas de calor e escassez de alimentos provocadas precisamente pelas alterações climáticas. Leadsom é também uma apoiante da caça à raposa, do abate da floresta e do regresso em força do carvão, caminho que o seu antecessor tentou reverter. 

Ainda sobre as alterações climáticas, uma das primeiras decisões de May foi a de acabar com o DECC, o departamento governamental britânico contra as alterações climáticas, decisão amplamente criticada pela oposição parlamentar, por especialistas em aquecimento global e por organizações ambientalistas como o Greenpeace.

Em Abril, Theresa May manifestou-se a favor da saída do Reino Unido da Convenção Europeia dos Direitos do Homem, uma tomada de posição preocupante numa altura em que a Europa se depara com uma grave crise humanitária resultante dos fluxos migratórios de refugiados, acompanhada pelo endurecimento dos métodos de repressão em países como a Hungria ou a Polónia, a que agora se junta o regime autoritário de Ancara que pretende reinstituir a pena de morte após um golpe de Estado com aroma a false flag attack.

Contudo, nada me parece mais alarmante do que a ligeireza com que a nova chefe do governo britânico se assumiu favorável à utilização de armamento nuclear. Num momento em que a construção europeia vive tempos de incerteza, agravados pela recessão económica, pela radicalização resultante do problema dos refugiados, pelo terrorismo, pelo braço-de-ferro com Moscovo e com a perspectiva da eleição de um lunático para a Casa Branca, defender o uso do nuclear com tamanha firmeza apenas torna mais delicada a situação de uma Europa fragilizada e em risco de fragmentação, para além do péssimo exemplo que não passará despercebido para as autoridades de outras potências nucleares em permanente estado de alerta. May percebe as consequências deste discurso mas não se inibe de o colocar em prática. O retrocesso segue dentro de momentos.

Comments

  1. Parece-me que Theresa May defendeu a manutenção na UE. Quanto ao ataque nuclear, trata-se de uma resposta a uma pergunta retórica e de rasteira. Se o RU possui armas nucleares é para fazer uso delas. Se é só para ser persuasivo então espera-se que um político declare o que a PM declarou, caso contrário a persuasão cai por terra. Se estamos à espera que o PM do país declare taxativamente que não as usará, então acabe com elas. Hipócrita é que me parece não ser. Onde é que leu que a senhora defende o regresso do carvão? Ela defende a manutenção de algumas unidades para lá do limite imposto. É um pouco diferente de defender o regresso. O que me obrigam a fazer! Defender uma tory! O problema é que gosto pouco de manipulações!

  2. Sonia Cruz says:

    E desculpe a franqueza, mas é lamentável que fale de Theresa May no mesmo parágrafo em que fala do Erdogan. O Erdogan, é que é radical e está a caminhar em linha recta para um alarmante retrocesso e radicalização. Aliás o titulo do seu artigo encaixa bem no perfil do ditador turco, e não na PM inglesa. E quando diz que a Theresa May se manifestou a favor da saída do RU da Convençao Europeia dos Direitos Humanos, esqueceu-se, ou não quis lembrar-se, ou omitiu, ou não se informou convenientemente do contexto e do porquê da PM inglesa ter manifestado tal coisa. E aqui estou eu para o informar que a Inglaterra tenta extraditar um terrorista argelino desde 2001 sem conseguir pois os direitos humanos europeus consideram que a extradição é contra os direitos humanos do tal terrorista pois o terrorista se for extraditado para a Argélia enfrentarå a pena de morte. E a Inglaterra ja conseguiu uma declaração da Argélia que não o vai matar, só prender, mas isto não chega para os proclamados direitos humanos. E entretanto este terrorista que ja matou gente vive no RU à custa dos contribuintes ingleses. Aqui fica um artigo para que se informe. E este caso é só um caso em muitos em que os direitos humanos europeus são uma vergonha. O seu artigo é uma vergonha, desculpe a franqueza.
    http://www.telegraph.co.uk/news/uknews/terrorism-in-the-uk/10245907/The-terrorist-we-cant-deport-because-of-his-human-rights.html

    • Nightwish says:

      Vergonha é não os deixar afogar todos e pegar fogo às mesquitas.

      • slipz says:

        Verdadeira vergonha é ter de ter gente com este pensamento na mesma nação que eu … Proponho-te uma experiência mental, imagina lá, que na vez de o estereotipo de terrorista ser um muçulmano, ser um português … Tu que decerto nada tens a ver com terrorista, assim como a tua família e amigos, deveriam então, pela tua justiça, ser afogados e os seus locais de culto ou até por outra, suas casas deveriam ser incendiadas, certo ? … Enterra-te.

        • Nightwish says:

          Quem me conhece desta caixa sabe que estava apenas a levar o discurso xenófobo da Sónia ao extremo. Não foi o único que não percebeu, a ver pelos likes.

  3. «A chegada da eurocéptica Theresa May ao poder no Reino Unido não está a ser particularmente animadora»… para si. Para muitos outros, como eu, está a ser bastante animadora. E um dos motivos para isso é, precisamente, a extinção do DECC. Onde uns vêem «retrocessos de proporções consideráveis» outros vêem progressos.

  4. Realmente muito triste esse retrocesso que se apresenta de uma forma autoritária, e através de uma representante não eleita pelos cidadãos. Infelizmente com o voto da maioria que consolida os preconceitos contra imigrantes e esta situação mal resolvida politicamente ficamos agora à mercê da direita mais conservadora possível. Torcendo pra novas eleições logo. O mesmo para o Brasil.

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