Crónicas do Rochedo VIII – Nós não somos alemães.

Tenho para mim que Pedro Passos Coelho é um homem sério e um político que acredita piamente no seu conceito do que deve ser Portugal. O problema pode estar no “seu” conceito.

Olho para a sua entrevista mais recente com a devida distância de quem não estando muito longe também não está perto. Como não sou nem bruxo nem adivinho não sei nem faço a mínima ideia se ele está certo. Penso saber que está a falar com toda a convicção, de quem acredita que o caminho é aquele. O futuro dirá se a razão está do seu lado. Eu não o posso dizer. Por desconhecimento do futuro. O que sei é outra coisa. Nós não somos alemães. Para o bem e para o mal.

Hoje lido diariamente com alemães. E o que vejo é diferente daquilo que deles pensava, daquilo que deles nos é dado pela comunicação social e pelas “ideias feitas”. Trabalham mais que nós, portugueses? Não. São mais produtivos que nós? Não. Quando muito serão mais focados, mais pragmáticos e mais cumpridores do “by the book”. Neles não encontro o “desenrasca”. Não encontro o improviso. Nesse ponto são diferentes de nós. Mas… a realidade mostra que os alemães com forte poder financeiro gostam do nosso estilo de vida. Gostam do clima de Maiorca, do sul de Espanha, de Itália, da Grécia, do Algarve, de certas zonas de sul de França. Aqui em Maiorca chega-se ao ponto de serem donos de quase tudo na ilha – supermercados, restaurantes, bares, lojas, dos espaços de animação cultural, casas, hotéis médios e pequenos, jornais e rádios, entre inúmeros negócios. E fogem ao fisco. Que latinos que eles são…

Em quase todas as estradas da ilha cruzo-me com automóveis de matrícula alemã ou matrícula espanhola com uma bandeira alemã. E a eles se juntam inúmeros austríacos, suíços, holandeses, suecos, finlandeses, dinamarqueses e outros cidadãos oriundos do centro e norte da Europa. Eles adoram o nosso clima, a nossa comida, os nossos produtos e, sim, gostam do nosso estilo de vida (nosso aqui é sul da Europa).

E os alemães com menos poder de compra podem nem ter negócios e casas por estas bandas mas é para aqui que rumam em barda nas suas férias. Eu nunca vi tanto espanhol a arranhar uma língua estrangeira como em Palma a esforçarem-se por falar alemão. E isso diz tudo sobre a importância destes para a realidade da ilha.

Aquilo que tenho percebido da convivência com eles – que não é fácil pois são sempre muito desconfiados e nada calorosos – é que trabalham como nós, nem melhor nem pior embora com diferenças. Não vejo que sejam mais ou menos produtivos. Maos ou menos sérios. Mais ou menos cumpridores. Sim, irrita-lhes tanta burocracia, tanto “poc a poc” (o nosso “nas calmas, sem presas, pá”). Porém, vejo-os aproveitar as coisas boas do nosso modo de vida: a mesa, os petiscos, os vinhos, a conversa, o convívio, o usufruir do sol e do mar e até o aproveitar isto tudo para disso fazer negócio, fazer vida. Ora, estes alemães são muito diferentes daqueles que “nos vendem”.

Podem dizer que é natural, é uma minoria. Não, não é uma minoria. A classe alta e média alemã está em peso em todas estas zonas que referi e a classe média-baixa faz férias em toda esta ampla região do mediterrâneo. Os primeiros investem, abrem negócios, compram casas e vivem metade do ano por estas bandas. Os segundos escolhem para descansar e divertir-se.

Contudo somos diferentes. Uma diferença que me leva a julgar que é neste ponto que reside o equívoco de Pedro Passos Coelho. Ele acredita que nós devemos ser como os alemães. O problema é que, provavelmente, PPC não conhece os alemães e aquilo que eles são na realidade. Se calhar os alemães gostam tanto do mediterrâneo que lá bem no fundo eles é que querem ser como nós.

PS: As redes socias e em especial o facebook são a melhor forma de uma pessoa à distância se manter actualizado do que se passa no seu país. Através delas soube que no próximo fim de semana o PSD Porto vai eleger António Bragança Fernandes como Presidente da importante Distrital do Porto. Conheço bem Bragança Fernandes. É um homem bastante equilibrado que busca sempre o consenso e que conhece bem o distrito. Penso que ele ainda se lembrará quando um dia, trabalhava eu com ele, numa visita à Casa da Música num aniversário do Porto Canal, lhe disse que um dia ainda gostava de o ver a liderar o Porto. Passados tantos anos tal vai acabar por acontecer, mesmo que indirectamente. Acredito que vai ser um excelente líder. Só lhe posso desejar toda a sorte do mundo e só espero que consiga fazer a diferença e fazer diferente. Bem precisa o PSD Porto de uma mudança e uma nova esperança. Estou certo que assim será. Boa sorte Presidente.

Comments

  1. Nightwish says:

    Só discordo do início, os últimos 8 anos, já para não dizer 40, já disseram tudo sobre as ideias do neo-liberalismo. É preciso é querer admitir que o mundo ainda é uma verdadeira merda que é preciso melhorar.

  2. Agostinho Miguel says:

    Desacordo total no que toca ao 2.° parágrafo. Nem consegui ler mais nada. Então um “gajinho ” que se esquiva a pagar os seus impostos é serio? E eu, o que sou?

  3. democracia says:

    sério? o episódio da sobretaxa mostra bem o quanto é “sério”… entre dezenas de outros.

  4. Afonso Valverde says:

    Não somos não senhor.
    A(s) diferença (s) está cavada na geografia, no engenho e arte para vivermos em cima do bocado de chão que nos sustenta. No engenho e arte para comunicar com o Outro, gizar uma ideia de felicidade e construí-la no dia-a-dia.
    Alguma comunicação social fabrica “bonecos” para fazer de conta. É fugaz e por isso longe da verdade. Nós portugueses somos nós próprios com virtudes e defeitos moldados pela terra que ocupamos e pelo convívio que idealizamos e fazemos com os Outros Povos.
    O senhor Pedro Passos Coelho faz como muitos já fizeram. Aponta modelos estranhos para seguirmos desconhecendo quem somos, indiciando que não sabe pêvia de História, de Geografia de Antropologia e também de Economia. Atira para o ar umas ideias sustentadas em aspectos fugazes da realidade, construídos pela comunicação social. Por outro lado nem sequer evidencia ter alguma experiência ou observação atenta de quem são os Alemães ou os outros povos europeus. Parace saber aquilo que lhe dizem alguns, sem escrutinar nada.
    O senhor Passos Coelho parece carecer de bom senso.

  5. anónimo says:

    As generalizações dão sempre erro. Ainda por cima, com base numa “amostra” seleccionada, nomeadamente “os alemães com forte poder financeiro”.

    “Trabalham mais que nós, portugueses? Não. São mais produtivos que nós? Não. Quando muito serão mais focados, mais pragmáticos e mais cumpridores do “by the book”. Neles não encontro o “desenrasca”. Não encontro o improviso.”
    De facto, eles montaram estruturas extremamente eficientes e produtivas, nos campos de extermínio.
    Já os portugueses e espanhóis organizaram a Inquisição, outra forma de extermínio selectivo, e dela fizeram espectáculos nas praças públicas, cheios de improviso, como se fossem touradas, ou liturgias.

    Se calhar o que os alemães “gostam do nosso estilo de vida”, é esta capacidade de executar e apresentar os banhos de sangue em espectáculos na praça publica.

    • Anónimo says:

      Para generalização, a “Liberdade, Igualdade e Fraternidade” dos franceses, agora tão chorosos com os atentados terroristas, deve ser aferida à luz das invasões a Espanha e Portugal, que levaram Goya a chorar lágrimas de sangue, e a ilustrar a carnificina nos “horrores”.
      Isto para não falar das invasões de franceses e de alemães à Europa e à Rússia. Só passaram 300 e 80 anos respectivamente sobre as carnificinas, mas a memória já foi devidamente apagada.
      Hoje, franceses e alemães mandam na designada “união europeia” e pelos vistos nada aprenderam com a história. Mantém a mesma impunidade, as mesmas falácias, os mesmos apetites.
      E “podem”, como eles explicam, simplesmente porque são a França e a Alemanha.
      Quem são os gatunos sanguinários que se escondem por trás da bandeira da “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”?

  6. Afonso Valverde says:

    Ah! O Sr. António Bragança Fernandes vai fazer aquilo que o “sistema” montado permitir.
    Não tenho nenhuma reserva de princípio quanto às excelentes qualidade humanas e outras, do senhor.
    O negócio da política está montado e não vai conseguir fazer nenhuma ruptura. Se o intentar, vai ter de romper com o modelo de negócio montado e aí vai ser muito dificil aguentar-se na tal Distrital.
    Seria preciso fazer uma ruptura com o quadro de regime atual.

  7. anónima says:

    “Tenho para mim que Pedro Passos Coelho é um homem sério e um político que acredita piamente no seu conceito do que deve ser Portugal. O problema pode estar no “seu” conceito.”

    Devia ser obrigatório todas as análises críticas começarem assim. Críticas da direita a António Costa e a este governo, e críticas da esquerda a Passos Coelho e ao anterior governo.

    • Anónimo says:

      Como é que é possível, alguém acreditar na seriedade e patriotismo daquele bandalho?

    • Anónimo says:

      “Devia ser obrigatório todas as análises críticas começarem assim.”
      Ou seja, “coloque-se o formalismo acima de tudo, para disfarçar o conteúdo falacioso e obsceno, e para que o crime possa prosseguir, disfarçado e impune”.
      Ou seja, “cometa-se o crime, mas com bom gosto”.

  8. luis says:

    Sério???????
    Um mentiroso nato é um homem sério????

  9. Martinhopm says:

    Coelho probo?! Só se for pelo ‘pin’! Deixa-me rir para não chorar. Ele e a sua camarilha, de dezenas, senão de centenas.
    Quanto aos alemães, dispenso-os sejam eles de que classe forem. Só digo, provocaram duas grandes guerras para dominar a Europa e não conseguiram. Agora sem guerra nenhuma, pelo menos visível, já a dominam. Ou seja, esta gente reles do Sul, calaceira, é-lhes agora atenta veneradora e obrigada.
    Quanto ao ‘excelso’ Coelho, porque é que não o levam definitivamente para a Alemanha e não o deixam definitivamente por lá?! Era um favor.

  10. braga city says:

    Passos Coelho não pagou as contribuições à segurança social. Disse, à altura, que se esqueceu ou não sabia da obrigação. Fugiu ao cumprimento das seus deveres. Depois subiu a idade legal da reforma, porque a SS não era sustentável. Se todos procedessem como ele, não havia reforma para ninguém. Embuste e mentiroso é o que ele é….

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