C&A despede efectivos

…e contrata eternos Contratados, pois claro!
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É mais uma triste história a contribuir para o aumento das listas de desempregados. Talvez nem isso. É que ao despedir uma efectiva com horário a tempo inteiro, algumas regalias e salário mais ou menos condigno, a C&A (Canda ou C-and-A) contrata três ou quatro funcionárias a termo certo, sem quaisquer direitos que não sejam o “come e cala”.

Vamos lá relatar melhor o que se passa. Recentemente, tive conhecimento de que a loja C&A do Arrábida Shopping, em Vila Nova de Gaia, ia fechar e que as funcionárias efectivas que trabalhavam na loja foram alvo de um despedimento colectivo. Até podia fazer algum sentido tudo isto, a loja fecha, não precisam daquele pessoal, despedem, cumprindo com os direitos das pessoas. Só que no mesmo dia vejo numa outra loja C&A o anúncio que ilustra esta publicação. Então, o que se passa? Sou uma leiga em direito do trabalho, mas uma empresa pode despedir pessoal por extinção do posto de trabalho numa loja e noutra loja, não muito distante da que vai fechar, pode pedir funcionárias?

Pior, algumas das funcionárias despedidas cumpriam as suas funções noutras lojas, inclusivamente naquela onde vi o anúncio – que, pelo menos para já, não vão fechar – tendo sido deslocadas para o Arrábida, numa agora nítida e clara manobra que visava o seu despedimento.

Ao que sei uma ou duas funcionárias foram «repescadas» para outros locais de trabalho, as restantes foram despedidas com um acordo quase imposto que lhes paga um valor de indemnização, que, tratando-se de pessoas com mais de 40 anos, poderá não ser suficiente para substituir um salário quando o subsídio de desemprego acabar. Entre as despedidas há mães com filhos a seu cargo, há pessoas com doenças que as impedem de desempenhar determinadas funções. Pessoas com doenças que as impedem de desempenhar determinadas funções? Ah, agora percebe-se o motivo da deslocação de um local de trabalho para outro local de trabalho para posteriormente justificar o despedimento. Segundo me informaram, até houve quem tivesse recebido a informação do despedimento enquanto estava em casa pelo seguro devido a um acidente de trabalho. Sim, um acidente de trabalho! Mas nem isso a entidade patronal tem em consideração.

O que interessa são os lucros. Rápidos. Quanto mais rápidos, melhor. Os empregados são carne para canhão. Só servem enquanto servem os interesses dos grandes senhores pançudos que engordam (ou emagrecem graças a cirurgias estéticas, que hoje são moda de quem tem dinheiro) à custa destas pessoas. Parece-vos um discurso demasiado avermelhado? Lamento, mas estamos a regredir a passos largos e isso faz-me ficar vermelha de raiva.

Ao que pude apurar, cada uma das efectivas despedidas auferia um salário um pouco superior a 600 euros, com horários fixos. Não sei se trabalhavam horas extraordinárias e se lhes pagavam por elas. Sei é que por cada efectiva despedida contrataram 4 ou 5 pessoas para o lugar por elas deixado vago na loja de origem aquando da sua deslocação ordenada pela entidade patronal. As novas contratadas são meninas jovens, certamente mais bonitinhas para o atendimento ao público. São meninas que aceitam um horário a meio-tempo em troca de cerca de 200 euros de salário. Não lhes é dado horário fixo. O seu horário tem que ser flexível, o que nem sequer lhes permite, na maior parte das vezes, ter outro trabalho para complementar tão magro salário. É isso que se pretende. Sem direitos, sem regalias, a prazo, sempre a prazo e à mercê dos tubarões desta vida. Mas, esperem lá, já viram o site da C&A? Esse mesmo, sim, aquele onde podemos ler patranhas como «Os nossos valores formam um contexto vivo para todos os colaboradores, em todas as suas atividades profissionais. Definem a forma de como fazemos negócio. Orientam o nosso trabalho em conjunto com os nossos parceiros empresariais e a maneira como tratamos as pessoas – clientes e colegas, fabricantes e fornecedores e até o nosso planeta.» ou «Na C&A, espírito familiar não são apenas palavras, vivemos e respiramos este conceito diariamente.». Mas o valor da C&A que mais me agrada é o Respeito:«A C&A respeita as pessoas e trata-as adequadamente Sabemos que os nossos melhores embaixadores, melhores funcionários, melhores parceiros empresariais e melhores clientes são aqueles que sentem que são bem tratados e respeitados. Respeitamos o direito que os clientes e funcionários têm para embarcarem em novos projetos, mas também os respeitamos ao ponto de lhes darmos motivos para se manterem com a C&A.»

Está explicado, perceberam que aquelas funcionárias, e sabe-se lá quantas mais, queriam «embarcar em novos projectos» e só respeitaram esse desejo dando um empurrãozinho. Afinal, na C&A são todos umas boas almas!

 

 

 

 

 

Comments

  1. Muito triste!

  2. J. Gonçalves says:

    Quando patrões e instituições internacionais apontam a rigidez das leis laborais em Portugal como constrangimento ao crescimento da economia nacional, só podemos pensar que há um engano qualquer e estão a falar de outro país.

  3. é esta a economia criada por pseudo socialsitas, legitimada por sociais democratas e democratas cristãos com o amen do FMI. – isto é só um caso entre tantos. È por exemplo olhar para a Banca e perceber como foram forçadas tantas RMA a troco de estagios suportados pelo Estado a 80% e com ordenados miseraveis atraves de outsourcing e toda a sociedade assobiou para o lado…. E assim vai uma europa que se quer só e apenas assim…

  4. É o liberalismo selvagem no seu melhor… amigos cidadãos deste mundo de Mamon !!!

  5. doorstep says:

    Será possível saber-se quantas, das empregadas despedidas, estão sindicalizadas?

    • e qual a relevancia de serem sindicalizadas? os sindicatos servem-se dos trabalhadores para se pavonearem na praça publica apenas e só

      • doorstep says:

        Se os (poucos…) trabalhadores sindicalizados vivem bem com isso…

    • Manuel Branquinho says:

      Posso responder-lhe de fonte segura que o sindicato quando questionado sobre esta situação a resposta foi e passo citar ‘ a indemnização que estão oferecer está a cima do que de lei é permitido, podemos ir para tribunal mas depois você só vai receber o que é de lei é se ficar na empresa poderá ser perseguida’ fim de citação.

      • o mesmo aconteceu na banca com as sucessivas RMA…os sindicatos lavaram as maos e nunca tomaram uma posição de força contra as entidades patronais e nao vao tomar porque estão todos comprados – já agora comissões de trabalhadores são da mesma estirpe e ACT é igual

    • Carina says:

      Infelizmente conheço essa realidade. Conheço perfeitamente este caso, ou não fosse uma ex funcionária de 12 anos de casa e onde nunca me senti valorizada como funcionária e víamos injustiças diariamente! Esse caso é de uma amiga. É triste ver como nos colocam na rua após tantos anos a “dar o litro”, a tentar sp atingir os objectivos da empresa por uma mísera recompensa que nunca ganhávamos e onde os aumentos salariais estão congelados a mais tempo que os da função pública com a desculpa da crise, mas sp a abrir lojas lojas que não cumpriam expectativas sobrecarregando as outras para justificarem o prejuízo que dão!!!! Funcionários tratados sem respeito principalmente em relação à horários, alterados vezes sem conta por vezes sem mm consultar o funcionário! Ainda bem que há ano e meio decidi emigrar e sair daquela loja onde em 365 dias do ano eu fazia uns 300 sempre a fazer noites a sair sp depois das 23h e das 24h!!! Respeito que eles dizem ter não têm senão não fariam o que fazem a funcionários de anos que os ajudaram a crescer e a dar mercado em Portugal!

      • Olá amiga, qualquer dia vou te fazer companhia kkkkkkk

      • doorstep says:

        “Atingir os objectivos”, “Lojas que não cumpriam expectativas””Ajudar a crescer e dar mercado”.
        Lenga lenga para legitimar “injustiças diáriamente”, “dar o litro”, “sem respeito”.

    • Quase todas, senão todas eram sindicalizadas, Dinheirinho muito mal empregue, por sinal

  6. doorstep says:

    Alguma sugestão optimista?

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