Durão Barroso e Goldman Sachs: uma relação de transparência

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O jornal Público divulgou ontem duas novas informações sobre a relação entre Durão Barroso e o Goldman Sachs. A primeira é que, ainda na qualidade de presidente da Comissão Europeia, Durão recebia, confidencialmente e com alguma frequência, “sugestões” de alterações a políticas comunitárias provenientes do banco norte-americano. A segunda diz respeito à inexistência de qualquer registo sobre uma visita de Barroso à sede do Goldman Sachs em 2013, algo que, para além falta de transparência, revela um regime de excepção, na medida em que não existe registo de outros contactos desta natureza que não tenham sido devidamente documentados.

Acresce a isto que, a julgar pelo exposto no Público, Durão Barroso mentiu. Em resposta a uma interpelação do jornal, Barroso afirmou o seguinte:

[…] Naturalmente, mantive contactos institucionais – transparentes e convenientemente registados nos arquivos da Comissão – com as mais variadas entidades políticas, empresariais, sindicais e financeiras. Entre estas encontrei-me, como seria de esperar, com muitos dos principais bancos que operavam no mercado europeu. […]

Ora, na documentação a que o Público teve acesso, e como já foi referido, não existe qualquer referência à visita de Durão à sede do Goldman Sachs. Assim sendo, a alegada transparência, mencionada na resposta de Durão Barroso ao Público, não se verificou.

Três anos e inúmeros contactos depois, Durão Barroso foi convidado para assumir a função de presidente não-executivo do banco de investimento. Claro que, só por inveja ou maledicência, se poderia argumentar que estes contactos, fossem eles o “simples” recebimento de propostas confidenciais de alteração a políticas comunitárias, fossem eles as reuniões não documentadas com o seu actual empregador, encerram algo de suspeito ou, quem sabe, de decisivo na contratação de Durão. Qualquer pessoa dotada de bom senso percebe que bancos como o Goldman Sachs se batem por uma sociedade mais justa e equilibrada. Se sugeriram alterações a determinadas políticas da União, certamente o fizeram com intuito de defender os interesses dos cidadãos europeus. E se existe um banco que olha pelos interesses da União Europeia, esse banco é o Goldman Sachs. Os gregos que o digam.

Foto@El Diario

Comments

  1. A mim não me surpreende nada a relação entre Durão Barroso, enquanto presidente da Comissão Europeia, e a entidade financeira Goldman Sachs.

    Bem-vindos ao mundo de política real, numa de “reality check” como se diz em inglês. Só agora é que ficamos a saber da realidade evidente?

    Porque é que as corporações, e os cartéis, estão interessados na Comissão Europeia, e no Parlamento Europeu? Porque é lá que se podem ganhar milhões de euros, ou se perdem uns tantos. Nada acontece lá para defender os interesses dos cidadãos, que elegeram os Parlamentares europeus, e que indiretamente determinaram as escolhas de Comissários Europeus.

    Quem visitou o Parlamento Europeu, deve ter visto os prédios que o circundam, onde as corporações tipo Goldman Sachs, pagam a peso de ouro, espaços de escritórios, e chorudos salários aos seus funcionários. Porquê? As corporações gostam de gastar dinheiro? Ou se trata de puro ato de exibição de poder?

    Em 2014, havia mais de 30.000 lobístas, e a crescer em números, a funcionar dentro e fora do Parlamento Europeu. Basta efetuar uma pesquisa sobre lobístas na Comunidade Europeia, para se compreender o cancro que é, um cancro que corrói a sociedade europeia com o fenómeno de lobístas.

    Aqui está um link do jornal britânico “The Guardian” sobre os tais lobístas para que sirva de informação:

    https://www.theguardian.com/world/2014/may/08/lobbyists-european-parliament-brussels-corporate

    Uma boa leitura! E como se diz em inglês “welcome to the real world!”

  2. ZE LOPES says:

    Bem, o homem disse que foi para uma organização legal, não para um cartel de droga. Já estou como o Papa Francisco, não há pior droga do que o dinheiro. Ao menos o efeito da cocaína passa depressa. E não se acumula…

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