Marco Faria
Atribuir a eleição de Guterres ao esforço da diplomacia portuguesa é um exagero e é, sobretudo, desvalorizar o mérito 100% da responsabilidade do candidato. Afastou-se década e meia da vida política doméstica, venceu inequivocamente seis votações, teve as melhores prestações cara a cara com as representações dos 193 estados e para quem quis ver “on-line”, apresentou-se desde a primeira hora como um candidato com determinação e voz próprias (“Líderes e valores”), não tirou uma licença profissional de sete dias, não fez fretes a blocos ou países, não cedeu às pressões “last minute”, não entrou no circo de ver um estado a dividir-se entre o apoio a duas candidaturas, contrariou os supostos requisitos formais para a eleição (mulher e originária da Europa de Leste)…
Insisto: onde esteve a diplomacia de Portugal entre Junho de 2005 e Dezembro de 2015, quando Guterres liderava o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR)? Basta acompanhar 5 minutos as cadeias internacionais para perceber que todos se referem às qualidades do candidato e não vi nem ouvi uma única vez falarem da diplomacia de Lisboa. Porque o que esteve em causa foram os atributos da pessoa.
Segundo ponto: quando pedimos transparência à ONU, não é altura de exigimos o mesmo em relação ao funcionamento da diplomacia portuguesa?
Terceiro: onde estavam as câmaras de TV de Lisboa durante os 10 anos em que Guterres aterrava de campo em campo de refugiados, a dar esperança aos esquecidos do Planeta? Já sei que não faltarão equipas de reportagem no dia 1 de Janeiro de 2017, a fazer emissões contínuas e directos exaustos a partir de Nova Iorque…
E também me lembro da máquina de trituração mediática, que captou e divulgou os momentos de Guterres na campanha eleitoral, em 1995, quando se trocou nas contas do PIB. Não quiseram contextualizar que Guterres estava completamente fora de si, como é próprio de um ser humano, porque acabara de saber que a mulher estaria numa situação de saúde complexa?
Num mundo em putrefacção moral, como há dois mil anos, “Paz na terra aos homens de boa vontade”. Às 15h00, é hora de xeque-mate.
É sempre assim.
Em Portugal a inquisição ainda funciona e bem em vários ambientes. É só dar uma vista de olhos… e cala-te boca!
Caíram as máscaras do Presidente da comissão europeia e da Merkel.
E calaram-se os demagogos sexistas.
Mais uma vez, ficou provado que Merkel e Junker são absolutamente desonestos, e usam as instituições europeias para fazer prevalecer os seus interesses particulares, à custa de prejudicar o interesse colectivo.
Mais uma vez, ficou provado que a União Europeia está a ser governada por gente desumana e indigna.
Por alguma razão a Europa está cercada de países em guerra, e as populações em fuga.
Por alguma razão a União Europeia está em crise e a desmembrar-se.
Ninguém melhor que Guterres conhece a tragédia, as causas da tragédia, e os responsáveis. A sua empatia e dedicação à humanidade é inquestionável.
Por isso Merkel e Junker tentaram partir-lhe as pernas. A seguir hão de vir os EUA e a NATO.
Esperemos que o colectivo da ONU lhe dê suporte, contra a desumanidade.
Acreditar que um homem sozinho, seja ele quem for, consegue isto sem o apoio de um país por trás é algo ingénuo.
É isso. Xeque-mate. Faço minhas, as suas palavras, e penso que nada há a acrescentar.