Enquanto dormia, David Dinis observadorizou o PÚBLICO

público observador

Com a entrada em funções de David Dinis como director do PÚBLICO, passei a receber um email diário titulado “Enquanto dormia”. Ao lê-lo pela primeira vez, senti uma sensação estranha, sem que a tenha conseguido identificar. Entretanto, percebi que se devia à expressão de alguém fazer qualquer coisa nas nossas costas enquanto dormimos. Algo que aconteça sem nosso controlo.

O título é, na minha opinião, um pouco infeliz, mas hoje constato que tem também alguma substância.

O tema do dia

Um imposto, dois impostos, três impostos – outra vez. O Orçamento do Estado para 2017 é hoje apresentado e traz com ele uma nova subida do preço dos carros, tabaco e álcool, como pode ler na nossa manchete de hoje.

Mas há mais novidades. A função pública vai ter um (ligeiro) aumento do subsídio de refeição, que estava congelado há sete anos; as pensões vão mesmo subir faseadamente (os dois tópicos estão neste link do PÚBLICO). E a descida do IVA da restauração na íntegra, prometida para 2017, vai ter que esperar uma avaliação da redução deste ano (ver aqui).

Observador acrescenta  que os manuais escolares gratuitos vão ser distribuídos até ao 4º ano. O Correio da Manhã adianta que haverá mudanças nos limites dos escalões de IRS, ajudando alguns a pagar menos, e o Jornal de Negócios acrescenta que o novo IMI será aplicado a partir dos 600 mil euros (para não prejudicar os vistos gold, aparentemente). Vamos também ter menos investimento do que o Governo estimava há poucos meses, mas menos despesa pública também.

Tudo isto, claro, no pressuposto de que haverá acordo com Bloco, PCP e Verdes, sem os quais não há Orçamento. Até agora, não há sinais públicos desse acordo. Pelo que se mantém actual este texto que escrevei ontem sobre “A angústia do prolongamento” (ou seja, sobre o cenário em que António Costa tem que negociar durante mais um mês com estes partidos).

O ex-director do Observador trouxe esta publicação para o PÚBLICO. Sinceramente, não surpreende, apesar não ter antecipado que fosse um curto-circuito. Não se trata apenas da chamada “O Observador acrescenta que”. É toda a narrativa opinativa, por oposição a factual, como se desejaria num órgão informativo. “Outra vez”, é o lema escolhido para os três novos impostos, como se isso fosse comparável ao enorme aumento de impostos de Gaspar e companhia, parte das 78 inovações fiscais do governo pafiano.

O que é positivo, como o aumento de salários, em vez dos cortes do governo anterior, é relativizado. E o que é negativo é sublinhado, como o menor investimento público. Por fim, os spins da direita são amplificados, como a suposta falta de entendimento no trio Governo/PCP/BE, apesar da evidente falta de sustentação desta tese.

Enquanto dormia, algo, de facto se passou.

Comments

  1. Rui Naldinho says:

    http://expresso.sapo.pt/politica/2016-10-14-Sondagem-PS-no-maximo-e-PSD-no-minimo-desde-novembro

    Daniel Oliveira colocou um post na sua página do facebook, com este título:
    ” Descubra as diferenças entre opinião pública e opiniao publicada.”
    Nada mais acertivo!
    A sondagem que o Expresso vai publicar amanhã.

  2. Rui Naldinho says:

    Apesar de muita gente zurzir nas redes sociais, e, de facto elas por vezes são um autêntico esgoto a céu aberto, a verdade é que também são um bom veículo para retirar aos jornais e outros meios de comunicação, a capacidade de manipular a opinião pública. Como é do conhecimento geral, a direita manda na imprensa. Mas não manda na cabeça de todos os que lá escrevem. Ainda bem! Mas alguns põe-se a jeito!
    Nas redes sociais, cada um escolhe o que pensa ser o seu projeto de interatividade com os outros, e, com a informação que daí decorre. Boa ou má, cabe a cada um do nós filtrar os conteúdos.
    Isto tem tudo a ver com a opinião pública e a opinião publicada. Isto tem tudo a ver com a forma como cada um absorve as bacoradas que alguns jornalistas dizem, como aqueles que por exemplo se dedicam a temas económicos, parecendo mais uma espécie de fazedores de opinião de quem lhes paga, do que jornalistas.
    A PAF montou nestes quatro anos e meio de Troika, uma verdadeira barreira de vapor para que o Tuga não visse para lá da cortina de fumo que foi o seu cenário dantesco.
    Começou com a prisão desse malandro do Sócrates, que eu não o desculpo, pois acho que ele é mesmo malandro, acabando na TINA(there is not alternative).
    Mas, como em todos os peditórios, há sempre um fim. Um dia o crente cansa-se de dar sempre para o mesmo santo, e não vê milagres.
    A direita esqueceu-se que o peditório Sócrates acabou, muito por mérito de António Costa, e do juiz Carlos Alexandre. O peditório do deficit, e, o das sanções da UE tendem a ficar pelo mesmo caminho, até porque para o ano vamos ter um problema grave para a Europa. Portugal vai cumprir as metas do deficit, e a Espanha não. Vamos ver agora como são as sanções?
    Depois vão justificar-se com o crescimento de Espanha!
    E a Geringonça vai dizer-lhes que se querem deficit’s pequenos não há crescimento possível.
    Entretanto, um dia o David Dinis é despachado de volta para o Observador, de onde nem sequer devia ter saído para a TSF, e o Público volta a ser um Jornal.
    Isto se não derem cabo dele, antes!

  3. Não haja dúvida que ao longo deste blogue sou muito bem alertado para qualquer ocs, colunista e jornalista que não alinhe por uma dada linha de propaganda e curiosamente parece sempre suspeito se a bitola não é a mesma do autor.
    Só me preocupa que parece que mesmo a pensar-se livremente nem todos pensam da mesma maneira, pelo que se pode até querer ser-se isento e ferir suscetibilidades que pensam diferente

    • Um blog não é um ocs, o que faz toda a diferença. É frequente ser muito mais opinativo e, eventualmente, fonte de discussões mais acesas. Cada um tem as suas susceptibilidades. Contra-argumentar não deveria ser visto como entrando nesse campo, mesmo se exista um padrão de responder mais a uma linha de pensamento do que a outra.

  4. Na generalidade concordo com a resposta que deu, não gosto é do tom que por vezes soa em blogues de uma caça à bruxa de quem escreve, fala e opina em ocs só porque se considera mau por pensar diferente ou estar conotado com uma linha de pensamento oposta.

  5. csoares says:

    Enquanto dormimos a geringonça vai funcionando deitando por terra toda a teoria de catástrofe que a direita dizia.

  6. Claro que David Diniz tem todo o direito e mesmo o dever de cumprir os seus ideais. O que me parece é que NÃO devia, nem lhe devia ser permitido, fazer uso da sua profissão e do cargo que desempenha para truncar ou manipular a INFORMAÇÃO, como parece estar a fazer. Como não leio o publico não posso afirmar tal prática.

  7. nuno says:

    Eu já mandei um mail a esse endereço do david dinis enquanto dormia a dizer não estar interessado em receber mensagens do antigo assessor de imprensa de Durão Barroso. Devem ter percebido que deixaram de mandar aquilo.

Trackbacks

  1. […] tem nem a faca, nem o queijo não mão. Já David Dinis, com a faca e o queijo do Público na mão, em processo acelerado de observadorização, pode debitar estas coisas – é livre de o fazer – mas o verdadeiro objectivo por trás […]

  2. […] O Público vai acabar por definhar de vez às mãos de David Dinis, apesar de não ter sido para essa função que ele foi contratado, presumo eu. […]

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