Piratas

Não vai há muito que conheci um pirata. Entrou na tasca com um papagaio ao ombro, pediu uma sandes de panado ao balcão, foi sentar-se com ela na mesa ao pé da porta, e o papagaio saltou-lhe do ombro para a mesa e debicou o pão até à última migalha. Uma turista, que parecia ter entrado ali por engano mas foi ficando, pediu ao empregado, num português de dicionário de conversação, que fotografasse a cena porque ela tinha vergonha de aproximar-se. Passou-lhe para a mão um descomunal telefone cor-de-rosa e ele, muito castiço, fez de conta que não percebeu.

– Quer que fotografe quem?

Ela apontou para o papagaio.

– Ah, bom. É que o dono é feio como o caralho.

Ela não percebeu, quem estava achou por bem não traduzir, o pirata não se deu por aludido, e o papagaio espreguiçou uma pata de cada vez, limpou o bico às penas do peito, e voltou para a câmara o seu melhor perfil.

O empregado fez a foto e devolveu o telefone à dona com um sorriso cortês.

Como se fosse o sinal que esperavam, o papagaio esvoaçou para o ombro, o pirata levantou-se, acenou a quem estava ao balcão, e lá foram os dois, não para o mar, que esse está longe, mas para o varandim virado para o rio.

A cliente que sabe a vida de todos ainda tentou contar-me que o pirata nunca foi ao mar, mas eu não quis ouvir. Quanto mais não seja na tasca, um gajo é aquilo que sonha ser, ponto final.

Comments

  1. Rui Naldinho says:

    Nada melhor do que uma pausa para ler Carla Romualdo!

  2. Pedro Alexandre Smith says:

    Ó Cláudia, pelo que investiguei és mais uma dessas licenciadas de aviário em “comunicação social”, porventura, “bolonhesa” de bolso roto, e “vê lá” tu (“got it”) até vi a tua fronha numa fotografia de uma reportagem que dizia seres uma “escritora”. Duas coisas, pela fotografia, tenho de ser objectivo na estética e sincero até ao calão, e dizer-te que: “foda-se” (se tiveres sorte…) não vales a ponta de um caralho, porque és feia de meter medo ao susto e agradecer a liberdade de abortar. Tens um problema de “legitimidade”, por, fisicamente, seres uma amostra. A sério vê-te ao espelho se o sonho te deixar acordar. E quanto À escrita só por “mérito” de uma grande cunha alguém te pode considerar “escritora”, falta-te originalidade, requinte no tratamento do português, tropeças na construção das “peçinhas do teu enredo, sabes porquê: porque tem em ti um problema de virgem jamais saída daquele ensimesmamento passageiro da adolescência em que se guarda o ego de que somos génios às escondidas, o problema é que isso cura-se, deixamos de ser virgens e encaramos a realidade de que nem todos PODEMOS ser génios e, particularmente no teu caso, nem todos os sonhos de menina mal recalcada dão em talento de “escrita”. Há imitações que por o serem aborrecem, mas nem é o teu caso, porque o que não PODES ser nem na praia te deixa morrer.
    Espero que tenhas a coragem “literária” de publicar este comentário.

    • joão lopes says:

      e prontos,o menino smith ficou chateado com o bob nobel escritor e vai de dar lições de escrita,beleza,etc…bebe mais gin tonico que isso passa,ó silva…

  3. Pedro Alexandre Smith says:

    Já agora, esclareço por que te chamei Cláudia. Fi-lo, porque “Carla” em ti é tão postiço que teria de haver um outro “nome” de gaja nessa “vida” como se “abaixo” de ti houvesse o escrutínio de uma assembleia de gnomos a bichanar por te ver a caminhar na merda da praia de postal. Mas tu mancas e mancas e mancas, porque, “Carla”, o que é postiço tem de ter outro nome e, que queres que te diga, o teu, para mim, é Cláudia, etimológica e puramente Cláudia. Sabes porquê? Porque mancas até à merda dessa praia a sonhar como se conseguisses pensar que “deslizas”.

    • José Peralta says:

      E tu, ò pedro (antónio) alexandre, (josé) smith (saraiva), quem julgas tu que és ?

      O prémio nobel da cerâmica das Caldas ?

      Ou a esfregona da senhora que, lá em casa, te limpa a sanita ?

      Ou a pichota pingona da blenorragia que vertes no teclado ?

      Ou todos estes “atributos” num só intestino grosso que tens implantado no cérebro ?

      É que, foda-se, ó smith ! Já pensaste no azar que tiveste de, em vez de seres parido, teres sido cagado ?

      Porra, smith ! (A merda do corrector, insiste em pôr as tuas iniciais em maíusculas…). Já pensaste, por um momento, olhando-te ao espelho, na pouca sorte que tiveste, quando um simples aborto, ou um simples preservativo, teriam evitado a tragédia de teres nascido ?

  4. Afonso Valverde says:

    Há sempre por aí um Smith para nos fazer descer à terra da mundanidade porque os Smith deste mundo levitam.
    Nãosou prosador e admito que tenho tantas frustrações, mesmo tantas que doi observar que há por aí um Smith.
    Como conseguiria eu olhar para a Cláudia…Carla… Se ao mundo ela se apresesenta como feia e postiça?
    Quem não é belo devia matar-se…

  5. Olha, um hater. Não há génio que não apanhe com um. Este, coitado, tem um problema de saúde, como se observa pela poia regurgitada.

  6. Estava eu tão sossegado... says:

    Não sei quem é a Cláudia, Carla… etc…
    mas cá para mim o Smith de “plástico” teve um orgasmo pelo…”back” das traseiras.

  7. Rui Naldinho says:
  8. Ricardo Ferreira Pinto says:

    Fiquei sem dúvidas, Cláudia. És realmente fantástica. Até tens haters e tudo – só quem é realmente bom é que tem este tipo de atenções.

  9. motta says:

    Eu quero é saber da Carla, mesmo sem querer saber quem é a Carla.
    smiths costuma-se chamar, na minha loja, aos macacos do nariz, que, cum caraças, volta e meia saem redondinhos que nem bolas de bilhar e saltam que nem pulgas de circo. Quero lá saber de smiths desde que não se colem à sola da sapatilha!

  10. Luís Coelho says:

    A Autora devia recusar comentários que apenas acrescentam vulgaridade e ordinarice: liberdade não é libertinagem.
    Apesar dos muitos smiths, a Terra continua a girar e o Sol ainda vai brilhando.

    • Compreendo o seu ponto de vista. Por norma, não apago comentários que não sejam insultuosos para terceiros. No caso a que se refere, percebo que a falta de reconhecimento atormenta o comentador e é por isso que lhe permito que deixe ficar aqui a sua obra, na qual claramente meteu o melhor que tinha para dar ao mundo.
      Aproveito para agradecer a todos os outros comentadores, com quem, de resto, dei umas boas gargalhadas.

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