Faz algum sentido eliminar o feriado de “Todos os Santos”?

Rui Nadinho

O dia de ” Todos os Santos”, sendo um feriado religioso, não deixa de ser acima de tudo uma evocação à nossa ancestralidade. Aqueles que num passado recente resolveram por sua alta recreação apagar o feriado de 1 de Novembro, só demonstraram uma enorme insensatez, uma falta de princípios morais e éticos confrangedora, perante o seu apetite pelo neoliberalismo.

Cemitério de São João de Areias, Dia de Todos os Santos, 2014

Cemitério de São João de Areias, Dia de Todos os Santos, 2014
Foto: Lino Dias @Farol da Nossa Terra

Um feriado é uma pausa na actividade produtiva de uma comunidade, para que os seus membros possam assim comemorar nesse dia uma efeméride que eles próprios consideram uma referência cultural/religiosa, com valor simbólico. A homenagem aos mortos é um evento de base religiosa, mas não deixa de atravessar toda a sociedade, independentemente de se professar um credo ou não. Ele é vivido de diferentes maneiras um pouco por todo o mundo. Assume várias formas de representação, umas mais profanas, outras com carácter religioso mais divertido, por exemplo no México, onde há uma forte miscigenação cultural, enquanto na maioria dos países europeus católicos tem um pendor mais triste e saudoso.

“Na véspera, as mulheres dirigem-se aos cemitérios para enfeitarem as campas, mausoléus ou jazigos com ramos, flores, panos e velas, em tigelas, círios ou castiçais. Nalgumas aldeias colocavam lá também um vaso com água-benta, para que os amigos do falecido/a se quisessem rezar pudessem aspergir o seu túmulo com uma ramo de oliveira.” Centenas de milhares de portugueses deslocam-se das grandes urbes para as suas aldeias, procurando muitos deles, a única referência que ainda lhes sobra, com o local onde nasceram, os familiares mortos.

Não sendo crente, sou como a maioria dos cidadãos deste país, dos que recordam neste dia aqueles que, já falecidos ao longo décadas fizeram parte da minha vida, em momentos distintos e circunstâncias diversas. Se há feriado que nunca deveria desaparecer, este é um deles. Hoje celebramos a nossa memória colectiva. A ancestralidade do ser humano. A família que partiu, os amigos do bairro que nos deixaram, os colegas da escola ou do emprego com quem jamais nos cruzaremos.

A minha gratidão e a saudade pelos que comigo partilharam a minha experiência de vida, é o mínimo que eu posso desejar-lhes.

Comments

  1. Estava eu tão sossegado... says:

    Diria mais :
    só demonstraram uma enorme insensatez, uma falta de princípios morais e éticos confrangedora, perante o seu apetite pelo neoliberalismo.
    Uns lambe cus dos patrões que os suportam…

  2. Konigvs says:

    Está um bocadinho equivocado com o calendário. O dia de lembrar os “mortos” é amanhã, dia 2 de Novembro, Dia de Fieis Defuntos (ou dia Dia de Finados) e que não é nem nunca foi feriado.

    E depois também está redondamente enganado acerca dos crentes portugueses. Segundo os Censos de 2011, a população portuguesa é constituída por 81% de católicos e só 6% disse não acreditar em Deus.

    Respondendo à pergunta: Sim.
    Não faz sentido nenhum um Estado Laico celebrar feriados religiosos sejam eles quais forem. Querem celebrar os mortos? Muito bem, então que se torne feriado o dia 2, mas nunca o dia de lembrar os Santos-do-Pau-Oco da Igreja Católica.

    • A população portuguesa é católica por medo e interesse.

    • Rui Naldinho says:

      Nunca afirmei que o dia 1 de Novembro era o dia dos “Fiéis Defuntos, ou o dia de Finados”. Aliás, o chamado dia de “Todos os Santos”, não é mais do que aquilo que celebra no dia seguinte, os Finados, mas para os chamados Santos da Igreja Católica que não tem dia agendado no calendário litúrgico. Dai ser um a seguir ao outro, e não em dias desfazados no ano.
      No entanto há mais de cem anos que este é o dia escolhido pelas comunidades para ir aos cemitérios nomeadamente quando o dia 2 de Novembro calha num dia útil de semana.
      Negar esta evidência, é alinhar com aqueles que acham que os feriados são uma maçada.

      • Konigvs says:

        O dia 1 não é escolhido pelas pessoas para ir ao cemitérios. O problema é que o dia 2 não é feriado! É só isso. Por isso o corte deste feriado religioso causou mais celeumas que o corte de todos os outros incluindo os da República!

        Que seria das pessoas se ficassem sem poder ir aos cemitérios neste dia. Sem poder vestir as suas melhores roupas, desfilar por entre as campas, passar em revista as que estão com as melhores flores, e claro, o mais importante, ver como os outros estão vestidos. Ver quem, um ano depois está com quem, e praticar o desporto nacional, que fica mesmo frente do futebol: falar da vida alheia.

        • Meu caro Konigvs,
          O Rui foi muito cordial, procurou ser educado. Eu não tenho dúvidas: o meu caro é um imbecil. Cumprimentos cordiais,

  3. Chocou-me que a Igreja tenha preterido este feriado único no seu calendário religioso, para um estado laico compreendo que o feriado de hoje não tenha significado, até porque é o dia que os católicos celebram os anónimos que alcançaram a salvação e por isso não tiveram a morte eterna e se tornaram santos desconhecidos.
    Amanhã sim, é o dia dos defuntos, que religiosamente ainda não chegaram à categoria de santos e por isso se reza por eles, outro aspeto de cariz religioso, claro que este dia também se cruza com crenças pagãs e daí que culto dos mortos dos celtas se tenha deslocado para esta data junto do calendário cristão para sobreviver disfarçadamente perante a imposição católica de apagar todas os ritos não cristão.
    Dia dos mortos por um país e memória dos heróis de um povo também existe no mundo ocidental, 11 de novembro ou do armistício da primeira grande guerra, mas ao contrário dos outros Estados que celebram os seus mortos neste dia, Portugal vai à adega provar o vinho com São Martinho, aliás, não sei se mais algum país no ocidente apagou a memória dos seus mortos pelo País como Portugal fez… e até foi beligerante na guerra deste armistício.
    Quanto a Estados Laicos celebrarem feriados religiosos e contestarem quando os tiram com o neoliberalismo ou direitos adquiridos é uma contradição dos tempos e das guerras ideológicas em que estamos mergulhados.

  4. jfwordpress says:

    A República Portuguesa é Laica; os feriados religiosos devem ser totalmente abolidos pois a fé ou crença na mitologia de uma religião diz somente respeito ao indivíduo, e o mesmo não se deve vangloriar ou impor aos cidadãos a sua religiosidade, para isso existem locais apropriados onde pode reunir com todos e todas que partilhem das mesmas ideias.

    • Rui Silva says:

      Certo jfwordpress, mas para os Comunistas, na sua luta contra Capitalismo não se importam de defender a Religião.
      A hipocrisia não tem limites…

      Rui Silva

      • José Peralta says:

        Rui Silva

        Olhe para a sua ! Olhe para a sua…

        • os carneirinhos da paf says:

          o único hipócrita aqui chama-se rui silva, com a parvoice do costume de reduzir tudo o que nao é selvagem neoliberal a “comunista”.

          e os feriados, com a sua permanencia ao longo do tempo, tornam-se muito mais que a sua componente religiosa, nas sociedades. tem componente de tradicao mesmo que a um nivel laico, perfeitamente apreensivel e empatico para um ateu, até.

          o 1º de novembro é um dos casos mais evidentes. tem uma carga simbolica fortissima, uma carga familiar e social fortissima, e muito ateu ou cristao-catolico nao praticante facilmente esta envolvido nele.

    • A.Silva says:

      Ó idiota, ainda não percebeste que o respeito pelos mortos e antepassados não é uma questão religiosa?

    • A questão, neste caso transpõe a laicidade da República. Partindo desse principio também haveria Natal, nem Páscoa. Há que reconhecer que existe associado a estas datas uma aguda componente comercial no entanto cada um deve viver estas datas conforme a sua própria intenção.

  5. O governo anterior nem os mortos respeitou.

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