O eleitor não é inocente

viena2004castigo

(publicada no diário As Beiras a 10/11/2016)

A propósito das eleições americanas, regressou ao debate uma questão que é um clássico da ciência política. Devemos criticar ou não os eleitores pelos resultados de candidatos com potencial destrutivo para a sociedade, como Marine Le Pen, Donald Trump ou o britânico Nigel Farage? Há quem julgue que não se deve culpar o eleitor. A culpa é remetida exclusivamente para os restantes candidatos e respetivos programas, desculpabiliza-se o eleitor argumentando, por exemplo, que nenhum candidato é bom, logo é aceitável votar num candidato desbocado.
A própria definição de democracia requer que ninguém deve estar à margem da crítica ou do escrutínio, inclusivamente o eleitor. Mas mais do que catalogar negativa e cegamente todos os eleitores deste perfil de candidatos, interessa sim interpelá-los em questões concretas e fundamentais. No caso dos candidatos referidos é especialmente difícil debater diretamente assuntos basilares da sociedade, como a igualdade de género, o respeito pelas minorias, a orientação sexual ou a laicidade. Mas quem não pode fugir a estes debates são as respeitáveis figuras públicas que apoiam personagens deste calibre. Entre os apoiantes de Trump estão veneráveis mecenas, banqueiros e personalidades como Clint Eastwood, Slavoj Žižek ou Rudolph Giuliani. É a estes que deverão ser colocadas as questões que dolorosas que vão do racismo à misoginia de Trump.

Comments

  1. Ernesto Martins Vaz Ribeiro says:

    Não, não é inocente.
    A sua incultura, a sua falta de formação, a falta de apetência para a leitura e para a pesquisa de novos conhecimentos, associado à vida fácil, estupidifica o eleitor e torna-o responsável por escolhas altamente prejudiciais à democracia. E quando a isto se junta a incapacidade para olhar e perceber o mundo para fora da sua bolha (caso concreto do povo dos USA), o resultado pode ser desastroso.

    • António Correia says:

      Quem és tu Ernesto ?
      Escreves com a certeza de um “Burro” carregado de livros.
      Onde adquiriste essa capacidade de perceber o mundo fora da bolha ?
      Será dos livros que carregas ?
      Ai Ernesto que sabichão és.
      Nunca puseste a hipótese de seres apenas um nabo ?

      • Ernesto Martins Vaz Ribeiro says:

        Sr. António Correia.
        Felizmente há seres para quem o céu não tem ressonância para as alarvidades que pronunciam, como é o seu caso.
        Só lhe respondo porque foca o meu nome e, ao contrário do Sr, sou uma pessoa educada.
        Discuta ideias e não pessoas, se for capaz e dirija-se às pessoas de um modo cordato, em vez de sair a terreiro com actos provocatórios.

        • És educado ?
          ” A sua incultura, a sua falta de formação, a falta de apetência para a leitura e para a pesquisa de novos conhecimentos, associado à vida fácil, estupidifica o eleitor e torna-o responsável por escolhas altamente prejudiciais à democracia.”
          Escreves isto e és educado ?
          A tua visão das coisas não te dá o direito de adjectivar quem diferente de ti pensa e age.

          • Ernesto Martins Vaz Ribeiro says:

            Tenho a minha opinião e o Sr terá a sua que é, para mim, tão válida quanto a minha.
            As nossas opiniões, ainda que divergentes, basear-se-ão em conhecimentos e experiências que temos. O Sr. terá as suas, eu tenho as minhas. Esta é a riqueza da democracia, ainda que isso possa irritar certas pessoas.
            Se me não considera educado, então está a adjectivar quem não pensa como o Senhor, donde não entendo a sua crítica.
            Não vejo onde esteja a má educação. O que eu digo é reconhecido por muita gente e, actualmente, alvo de debates. Esteja atento e verá.

      • José Peralta says:

        António Correia

        Quer um exemplo da América “profunda” que produz eleitores estupidificados, “irresponsáveis” responsáveis por escolhas prejudiciais à Democracia ? Tem-no aqui :
        https://www.facebook.com/quebrandootabu/videos/1212522798804105/

        E se conseguir olhar o Mundo para fora da sua bolha (e peço vénia a Ernesto Ribeiro pela utilização das suas frases ), também encontra “gente desta” por cá…

        Que enfie a carapuça, quem a ela se achar com direito…

    • Nightwish says:

      Isso é suposto aplicar-se ao Slavoj Žižek também?

      • Ernesto Martins Vaz Ribeiro says:

        Embora saiba quem é Slavoj Žižek, com toda a sinceridade, não entendo onde quer chegar.

        • Nightwish says:

          Se calhar li-o mal, mas pensei que também estava a aplicar a descrição aos apoiantes.

          • Ernesto Martins Vaz Ribeiro says:

            A minha descrição pretende referir-se aos eleitores que votam sem consciência ou se preferir, aos “carneiros” e, de algum modo, aos indecisos que andam sempre como o tolo no meio da ponte e vão votando em “A” e no seu contrário.
            Não tenho nada contra quem apoia de um modo convicto e com a sua noção de justiça, seja que candidato for e ainda que eu esteja em desacordo com a ideologia do personagem.

  2. Amilcar Dias says:

    Ouvi dizer que na Venezuela é que se vota bem

    • Ernesto Martins Vaz Ribeiro says:

      Isto é desconversar sobre coisas sérias.
      Mas em todo o caso, ouve coisas estranhas… Mas respeito a sua opinião.

  3. joão lopes says:

    eu diria que o eleitor é responsavel e responsabilizado,pelo que nos proximos 4 anos todas as politicas e promessas deverão devidamente justificadas e apoiadas pela dita Maioria Silenciosa que deu a vitoria a trump.Caso isso não aconteça.a Maioria Silenciosa deve ser devidamente…apontada e resposabilizada.

    • Nightwish says:

      Só diz isso quem acha que a democracia é aquela cruzinha de 4 em 4 anos.

  4. Carlos Almeida says:

    o que mais me confunde nisto tudo é que um sujeito que deu uma licão aos senhores do partido democrático que impediram que um seu representante com capacidade para bater o partido republicano fosse o seu candidato e que escolheram a “familia Simpson” como candidatos tenha sido apoiado pela KK CLAN
    Fora o resto foi bom que essa gente que diz que quer fazer amoletes sem partir ovos tenha perdido Pode ser que agora se comecem a preocupar com os pobres
    É claro que o TRUMP nao quer saber disso para nada mas que os “democratas” se preocupem é um “must” como eles dizem

  5. Ernesto, estou curioso por te fazer umas perguntas :

    1. O que é ser culto ?
    2. O que tu dizes é reconhecido por muita gente. Quem ? Quantos ?
    3. Ser alvo de debate quer dizer ser importante ?
    4. O que é democracia ?
    5. Existe a hipótese das tuas ideias estarem erradas ?

  6. Ernesto Martins Vaz Ribeiro says:

    Pois respondo-lhe com todo o gosto, embora lhe relate apenas o meu modo de pensar.
    1 – Ser culto, para mim, é antes de mais um estado de espírito, no sentido de procurar estar actualizado. Esta actualização é conhecer realidades, ouvir as opiniões e os contraditórios e pensar pela própria cabeça.
    2 – Não conto as pessoas que reconhecem os princípios que defendo, do mesmo modo que não conto as que não reconhecem. Como lhe digo ouço e leio opiniões de pessoas avalizadas quero dizer, pessoas que têm uma experiência e uma vivência e penso pela minha cabeça. Sobre o tema deste “post”, em concreto, cito-lhe, por exemplo Richard Zimmler, um americano naturalizado português, doutorado nos USA e professor numa Universidade Portuguesa. mas podia citar-lhe outros. Mas este vale a pena ler, acredite.
    3 – Para mim, sim. O que é importante, no sentido de poder mexer com uma ou várias comunidades. Afasto, naturalmente, desta conclusão os mexericos das revistas “cor de rosa” e os periódicos sensacionalistas.
    4 – Já parece mais um inquérito 🙂
    Democracia é o poder do Povo que só faz sentido quando este está EDUCADO e quando a via que se trilha é a via do enriquecimento intelectual e da compreensão dos fenómenos que o rodeiam. Isto é válido para as pessoas que defendem ideias de direita, do centro e de esquerda. São concepções que devem ser respeitadas, desde que as pessoas se identifiquem com os princípios e conheçam as implicações para a sociedade daquilo que escolhem e defendem.
    5 – Pensar pela sua própria cabeça, não sendo a garantia que as nossas ideias estejam correctas, constitui seguramente uma tranquilidade de espírito muito grande.
    Neste contexto, como compreenderá, não me importo nada que os outros pensem que as minhas opiniões estão certas ou erradas. É assim que eu penso e desde que isso não interfira com a liberdade dos outros (a opinião não é nenhuma ofensa à liberdade) é para o lado que durmo melhor.
    Mas respondendo objectivamente à sua pergunta. é óbvio que há pessoas que há pessoas que acham que eu não tenho razão. Fazem muito bem e é um direito que lhes assiste, desde que debatam o que há a debater e não enveredem pelo caminho fácil do insulto ou mau tratamento.
    Isso, de resto, é visível nas suas perguntas e no facto de me considerar mal educado porque formulei a minha opinião (não ofendi ninguém, provavelmente manifestei-me contra uma escolha da sociedade, mas enfim…). Mas também lhe digo, com toda a frontalidade que isso não me preocupa absolutamente nada, pois não invalida o meu conceito sobre a matéria de que agora falamos. Considero-me um democrata e sobretudo, respeito quem não pense como eu, presumo que é o caso do Sr. sim999blog (desconheço o seu nome e por isso uso esta referências).
    Espero que a sua curiosidade esteja satisfeita. Mas como disse a outro leitor mais atrás, as ideias debatem-se e não estamos aqui de certeza para mudar o que o outro pensa.
    Se entender continuar o debate, agora centrado no tema de origem, fá-lo-ei com muito prazer.
    Cumprimentos.

    • Obrigado pelas respostas. Fiquei a conhecer um pouco mais da sua forma de pensar e não vou emitir qualquer opinião. É a sua.
      O tema de origem é ” O eleitor não é inocente “, claro que não, quem toma decisões é sempre responsável pelos seus actos.
      As decisões são sempre tomadas no sentido de mudar algo, se se vai conseguir só o tempo o dirá, podem ser certas ou erradas mas são decisões. As consequências das decisões provocam novas decisões e assim sucessivamente. O perigo está no condicionamento de decisões próprias por terceiros.

      • Ernesto Martins Vaz Ribeiro says:

        Não tem nada a agradecer e pode emitir as opiniões que entenda.
        Toca num ponto fundamental que parafraseio com sua permissão : “O perigo está no condicionamento de decisões próprias por terceiros”. É aqui que entra a cultura do modo como eu a vejo. Dito de outra forma, a escolha é um acto individual e legítimo. A legitimidade deixa de ser válida na altura em que o meio condicione e influencie essa escolha, porque aí, a pessoa não está a pensar pela sua própria cabeça.
        E este facto, para mim, é factor de suma importância.
        Foi um prazer.

  7. Nightwish says:

    Já pensaram que se calhar era porque a alternativa era uma hipócrita nas mãos de wall street que não tinha nenhum problema em começar mais umas guerrazinhas para defender os privilégios da classe?
    Entre os dois… Jill Stein

  8. Fernando Antunes says:

    Do ponto de vista de qualquer eleitor bem formado e informado, não havia ninguém para votar nestas eleições! Nunca vi momento mais adequado para invocar a materialização do Ensaio sobre a Lucidez, de Saramago (tal como escreveu Zizek). Isto significa correr o risco de ver alguém como Trump ganhar? Há que dizer, como já vi escrito algures que “Trump é o monstro abjecto gerado pelo próprio sistema que serve para suspender a crítica ao próprio sistema”, levando a maioria a votar sem entusiasmo no mal menor. Esta estratégia é usada há décadas também aqui na Europa: quem não se lembra da coligação alargada até à extrema-esquerda (!) com que Chirac derrotou Le Pen, em 2002? Um dos muitos emails vazados que tramaram Hillary nestas eleições prova que Trump foi sempre o candidato Republicano preferido/escolhido pela campanha Democrata (“Pied Piper strategy”), quando ainda poucos levavam Trump a sério na corrida, e a sua candidatura era vista como mero acto de auto-promoção e marketing..

    Quanto à criticada iliteracia da parte da América que vota Trump, é o resultado normal de um processo continuado de estupidificação das massas, desinvestimento no sector educativo, informação cada vez mais reduzida a “click baites” e entretenimento, e .. Há responsabilidades também aí dos interesses do establishment, comandados pelos Rotschild, por Wall Street, pelas empresas ligadas ao ‘warfare’, etc…E Clinton representa muito do cinismo político que tem dominado os EUA, e que tem tornado o mundo bem pior e mais desigual. Há contudo que estar atento à iliteracia xenófoba europeia que ganhou alento com esta eleição…

    O sistema de colégios eleitorais mais uma vez permitiu que ganhasse o candidato com menos votos, tal como havia acontecido com Bush filho. Os colégios eleitorais de tipo “winner-takes-all” impedem que haja renovação política, ou que possam emergir verdadeiras ideias/pessoas/partidos progressistas ou desafiantes num sistema rígido e bloqueador. Em Portugal, felizmente votar no Bloco, no PAN, no PCP ou em qualquer novo partido que entretanto apareça, tem eficácia porque elege deputados, e é a configuração desses votos no parlamento que elege o Governo! Na América, um eleitor num Estado como o Texas por exemplo, sabe que à partida o seu voto será inútil e irá para o lixo se não for no Partido mais popular nesse Estado. Outra questão: nas eleições primárias, Hillary beneficiou de 571 delegados NÃO ELEITOS, os polémicos super-delegados (571=11,9% do total de delegados do DNC, por comparação com os 45 super-delegados de Bernie Sanders, apenas 1% do total!!). Imagine-se uma competição desportiva em que uma das equipas começa com 10 pontos de avanço sobre o rival. Haveria motins nas ruas, com certeza…

    Trump, devido ao seu perfil racista, preconceituoso, machista, etc., enfrentará seguramente maior obstáculo nas ruas, na opinião pública mundial, nos media, em Hollywood e na cultura em geral, do que qualquer outro presidente na História. E só isso já é muito positivo. É uma reacção saudável da comunidade. Oxalá seja suficiente para fazé-lo desistir de construir o muro e de romper o acordo de Paris para as alterações climáticas, por exemplo

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