Pieguices, parvoíces e outras disfuncionalidades

insulto

Perdida no seu próprio vazio, a bancada parlamentar do PSD aproveitou ontem uma intervenção polémica do secretário de Estado do Tesouro, para explodir em indignação e se fazer notar. Segundo Mourinho Félix, que reagia a uma intervenção na qual António Leitão Amaro afirmou que o actual presidente da CGD teve acesso a informação privilegiada do banco antes de assumir funções, o deputado do PSD “tem um profundo desconhecimento do RGIC [Regime Geral das Instituições de Crédito] ou uma disfuncionalidade cognitiva temporária“.

A indignação, a meu ver, insere-se na categoria das indignações parvas, porque assume que Leitão Amaro tem, efectivamente, uma disfuncionalidade cognitiva, ainda que temporária. A menos que ser acusado de ter “um profundo desconhecimento do RGIC” possa ser encarado como um insulto, o que me parece excessivo e, uma vez mais, parvo. 

Mas, se é para ser piegas, importa recordar que, no exacto mesmo dia em que esta grande indignação acontece, a deputada Maria Luis Albuquerque produziu declarações que, analisadas à luz da virgemofendidez que ontem invadiu o Parlamento, são igualmente graves. Eu diria mesmo que são mais graves ainda. Se me derem a escolher entre ser acusado de disfuncionalidade cognitiva temporária, ou mesmo de profundo desconhecimento do RGIC (o que não seria mentira nenhuma), ou, em alternativa, de ignorância ou iliteracia, sentir-me-ia tentado a escolher a primeira opção. A disfuncionalidade cognitiva, por ser temporária, acabaria por passar. O profundo desconhecimento do RGIC, com leitura e estudo, acabaria por ser resolver. Já a ignorância ou a iliteracia, apresentados de forma absoluta, revelam problemas mais graves, sem limitações temporais, e dariam mais trabalho a solucionar.

Vale a pena recordar que o Parlamento português, como muitos outros parlamentos por esse planeta fora, não é propriamente uma instituição de meninos e meninas de coro, onde a educação e a cordialidade são pedra-de-toque. Não que elas não existam, a educação e a cordialidade, mas a língua afiada, o discurso agressivo e a troca de insultos não são estranhos às relações que os nossos parlamentares desenvolvem entre si. Recordemos alguns casos, enquanto decidimos o que fazer neste Sábado chuvoso. Quanto às virgens ofendidas, antes de se indignarem com pretensos insultos, comecem por insultar menos vezes os portugueses. E deixem-se de pieguices. Já não há pachorra!

Comments

  1. Ernesto Martins Vaz Ribeiro says:

    O problema da política em Portugal reside na falta de estatura da gente que a representa. E não é física.
    Assistimos à troca de insultos (na Madeira, rezam as actas que os insultos atingem a dignidade dos deputados) de um modo soez, baixo, indesculpável por gente que diz representar o País e que em algumas intervenções, revela a sua prepotência, má educação e nulo civismo.
    O mesmo Parlamento que assiste à interrupção dos trabalhos por uma indignada assistente que pede a demissão de um mentiroso e se cala perante a imediata ordem de prisão, julgamento e condenamento.
    Se é crime interromper os trabalhos no Parlamento, é inadmissível que os ditos representantes da Nação se comportem de um modo indigno, insultando a torto e a direito.
    Esta mísera república estaria morta se não fossem estes actos de circo que a vão mantendo a respirar entre dois ataques.
    Mas o que mais fere é ver essa gente de baixíssimo nível a fazer o papel de prostituta (com todo o respeito à classe) ofendida. Como bem diz João Mendes: já não há pachorra para esta classe que se julga acima da lei e de quem os elege.

  2. sweetadriana says:

    Ao ver tanta indignação descabida na A.R. – eu traduzi aquela reação como uma catarse, um escape de frustrações e desaires que se têm acumulado ultimamente – recordei a triste figura de Pires de Lima que parecia estar com uma bruta “cadela” ao falar em taxas e taxinhas…Foi um momento inequívoco em que o sujeito quis achincalhar, meter ao ridículo mesmo.
    Até para insultar é preciso nível, e o secretário de estado demonstrou-o. Chame-se-lhe o que se quiser.

  3. José Peralta says:

    João Mendes

    Transcrevo este seu parágrafo para “alicerçar” a minha opinião :

    “Perdida no seu próprio vazio, a bancada parlamentar do PSD aproveitou ontem uma intervenção polémica do secretário de Estado do Tesouro, para explodir em indignação e se fazer notar”.

    Sem dúvida ! É patente o nervosismo, a frustração, a destemperança, a raiva que visivelmente, se vai apoderando da bancada “parAlamentar” do PSD ! E num dia em que é publicada uma sondagem em que o partido e o seu líder aldrabão caiem a pique, mais visível se tornou essa raiva abjecta !

    Afinal, que insulto tão grave assim, constitui a “presunção” nem foi uma “afirmação” de uma “disfuncionalidade cognitiva” do amaro, esse puto a tentar fazer “pela sua vida política” e a da camarilha que o acompanha, perante o alarme de ver estar a fugir-lhe o chão debaixo dos pés ?

    O “insulto” tão colectivamente assumido, afinal só pecou por defeito, porque a disfuncionalidade, também colectiva, tem-se revelado, não temporária, mas…permanente e irremediável !

    E assistir àquele espectáculo grotesco da pateada raivosa, que não era dirigida ao secretário de Estado, mas, subliminarmente, ao Povo português, por estar a cobrar aquela gentalha, a factura pelos roubos e destruição do pais, foi para mim, confesso “despudoradamente”, um motivo de gôzo e satisfação !

    Pateiem, pateiem ! Pelo menos enquanto vão tendo chão para patear…

  4. Tenho para mim, livre observador e pensador, cidadão de um Estado DEMOCRÁTICO e de Direito, que o “insulto” não estará na : INSUFICIÊNCIA COGNITIVA…”, mas tão só e justamente no: TEMPORÁRIA….! O fundamento desta minha conclusão, livre e pessoal, assenta nos multiplos “debates” da chicana politica com que as diversas bancadas brindam constantemente os otários, como eu, que se disponibilizam para ouvir enormes BACORADAS : para não dizer; leitoadas, MONTES de atoardas NEGRAS, de quando em vez num exercicio de masoquismo libertário. Quando é que esta gentalha tem Juízo e DECÊNCIA?

  5. Manuel Lopes says:

    Quando um partido inteiro sofre de disfuncionalidade cognitiva permanente, a reacção dos seus ilustres associados só pode ser a de virgens ofendidas. Hoje em dia, uma boca destas atiradas a qualquer elemento laranja é quase um piropo. Cuidado com isso, que pode ser considerado crime.

  6. anti-pafioso diabrete . says:

    Ó meu laranjinha onde compras a erva .?

Trackbacks

  1. […] bancada laranja incendiou-se em indignação e o caos instalou-se no Parlamento. Na altura como agora, continuo com algumas reservas sobre a violência de, no calor do debate, acusar um […]

Discover more from Aventar

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading