O árbitro, o ovo e a galinha

chicken-and-eggO meu gosto pelo futebol é tal que já me levou a assistir a torneios de futebol organizados por juntas de freguesia ou a jogos de campeonatos entre turmas nas escolas por onde tenho passado. Independentemente das idades, as derrotas provocam sempre o mesmo comportamento infantil: a culpa é do árbitro. Tendo caído na asneira de apitar jogos de alunos, fui, mais do que uma vez, acusado de ter favorecido os vencedores, ficando, frequentemente, com a impressão de que terá sido a minha condição de professor a livrar-me de reacções um pouco mais violentas ou de insultos mais coloridos, porque, para os derrotados, a culpa só podia ser daquela personagem cujo papel eu me tinha disposto a encarnar.

Conheço pouquíssimas pessoas capazes de falar verdadeiramente sobre futebol, atribuindo sempre as culpas aos árbitros quando o resultado é adverso. Trata-se de um comportamento perfeitamente transversal: com ou sem formação superior e independentemente da classe social ou do credo, transformam-se em seres ocasionalmente inferiores, reduzindo noventa minutos a um erro do árbitro, o único agente do futebol que, afinal, não pode errar, ao contrário dos jogadores que podem falhar golos de baliza aberta à vontade, porque a culpa nunca será deles. Note-se que nestes seres ocasionalmente inferiores incluo muitos amigos também adeptos do meu clube.

Eu sei, eu sei: os que conhecem as minhas duzentas costelas benfiquistas atirar-me-ão à cara com favorecimentos, colinhos e outras ternuras ou dirão que falo de barriga cheia, porque foram três anos seguidos a ganhar, sempre com a ajuda já se sabe de quem.

A verdade é que – e peço desculpa por me sentir superior, o que é raro – nunca, mas nunca, mesmo nunca e nunca mesmo atribuí as muitas desgraças benfiquistas aos senhores dos livres, dos penalties ou dos cartões. As minhas irritações têm quase sempre como alvo as falhas dos jogadores da minha equipa e as muitas insuficiências éticas de dirigentes ou directores de comunicação do clube de que sou adepto.

Entretanto, nesta triste realidade, criancinhas de todas as idades reproduzem fielmente as histórias inventadas por dirigentes, treinadores e jogadores. Para estes membros do enorme infantário que é o país, entre o ovo e a galinha, a escolha recairá sempre sobre o árbitro.

Comments

  1. Paulo Marques says:

    Para o clube do regime, para o qual é mais importante ter lugares na liga do que bons jogadores, as arbitragens não são um problema, são a solução.
    Tudo para disfarçar a expulsão mais ridícula de sempre da mais viciada competição desportiva em Portugal. Volta, Lucílio, estás perdoado.

    • nuno says:

      Paulo Marques, em vez de andar a poluir as caixas de comentários com o discurso dos pintos da costa fazia era bem em explicar-me, como é que o tal Benfica que domina as arbitragens tem dois pênaltis a sue favor, tantos como o Porto.

      Gostaria também que me explicasse porque é que Porto já jogou cinco vezes em superioridade numérica por expulsão de adversários e o Benfica zero, sendo tão dominador da arbitragem.

      Gostava ainda que me fizesse a lista – já que a insinuou – dos adversarios que foram afastados por acumulação de cartões de jogos com o Benfica. Mas faça tb a lista dos do Porto, a ver se há diferenças.

      Depois descubra-me quantos clubes existem que tenham visto assinalado a seu favor um penalti por jornada, que é o número de penaltis em que o Porto diz ter sido roubado.

      Por fim, explique lá porque é que o Porto resolveu jogar tudo no terceiro jogo da liga, tendo-se esquecido de ganha os dois primeiros jogos.

      • Paulo Marques says:

        • nuno says:

          Paulo Marques, Vou explicar muito, muito devagarinho que você tem sérias dificuldades em ver além da cegueira de adepto e do paleio acerca das arbitragens – que ignora a qualidade de sucessivos jogos como os de ontem, frente ao Paços de Ferreira. Mas continuem a falar de arbitragens que pode ser que fiquem a vinte pontos do primeiro como várias vezes sucedeu ao Benfica nas últimas décadas em temporadas em que o Porto jogava infinitamente melhor e tinha melhores equipas: Não bastava fruta e chocolate para justificar a diferença pontual entre as duas equipas, não me lixem.

          Se os brancos não sentem a discriminação racial, como diz mais abaixo, também não é por se sentir discriminado que o adepto ganha razão. Continuando com a mesma linha de discurso, os descendentes dos esclavagistas no sul dos EUA ainda hoje se sentem discriminados por se ter posto fim à escravatura. E nem por isso têm razão. Não é por pespegar aqui um vídeo que ganha razão. Há-de haver casos para todos os gostos (de perdões errados a faltas certas e vice-versa) e tenho mais que fazer do que entrar num diálogo toldado à partida e servido por repetições em câmara lenta e de variados ângulos (a que em campo os árbitros não têm acesso) e também pela escolha de quem o editou.

          Interessa o assinalado e não o que o adepto mete na cabeça que devia ter sido assinalado. Já se sabe que é sempre expulsão e penalti contra o outro e perdão para si.

          Discriminação apenas é real se se verificar um desequilíbrio disciplinar em prol de uma equipa ou de outra no final de uma série longa de partidas. A estatística, que é uma especialidade da ciência matemática, diz-nos que sistemas estabilizados tendem para o equilíbrio, independentemente de singularidades ocasionais. E o que até agora se vê é o mesmo número de pénaltis marcados a favor do Porto e daqueles que os adeptos e dirigentes do Porto dizem ou sugerem que dominam a arbitragem. Curiosamente, em termos de expulsões a seu favor, o FC Porto leva considerável vantagem. E viu adversários expulsos em mais de 30% dos seus jogos, e o Benfica em Zero por cento destes. É estranho? Não sei. Pode ter-se assistido ao tal momento singular de concentração de eventos. Numa série de jogos suficientemente ampla, a ocorrência de expulsões tenderá a esbater-se enquanto as expulsões a favor de outras equipas acabarão por surgir aproximando os dois colectivos também nas expulsões a seu favor. Do mesmo modo que querer um pénalti por jogo é óbvia loucura. Mesmo que possam existir lances merecedoras da mais diversa variedade de penalidades, o facto é que nunca são assinaladas todas. Há justas e injustas. Mas, em nenhum campeonato existem equipas que os árbitros favoreçam com tantos penáltis como aqueles que o Porto reclama, um por jogo, um por jogo pelo menos. A Matemática invalida a reclamações do Porto. O que o Porto pede é a marcação de penaltis em perto de 100% dos jogos que fez para a liga. O dominante Benfica viu penaltis marcados a seu favor em 12,5 % dos jogos. É a mesma percentagem de jogos com penaltis que o Porto tem, só que o Porto queria ter marcados mais 87,5% dos penaltis que o adversário.

          Claro que a qualidade das equipas joga a seu favor. Melhores jogadores não só marcam mais golos, como marcam menos faltas. Por isso mesmo convém comparar equipas grandes com equipas grandes. que as equipas pequenas travam mais o outro à canelada. Bem me lembro da conversa acerca do Maxi Pereira, que se dizia só não ser expulso todos os jogos por jogar no benfica. Sabe quantas vezes foi expulso desde que joga no FC Porto? ZERO

    • António Fernando Nabais says:

      Paulo Marques, obrigado por confirmar tudo o que afirmo no texto. Muito obrigado.

      • Paulo Marques says:

        • António Fernando Nabais says:

          Muito obrigado, mais uma vez, pela mesma razão, caro Paulo Marques.

          • Paulo Marques says:

            Um argumento parecido com o do homem branco: a descriminação não existe, se houvesse eu sentia-a.

    • nuno says:

      Um videozinho para o Paulo Marques que gosta de videozinhos e que deixa algumas questões quanto às expulsões que se tornam casos internacionais e da bondade de andar a discutir arbitragens:

      http://www.record.pt/multimedia/videos/detalhe/a-expulsao-de-danilo-vista-de-outro-angulo-choque-foi-acidental-ou-nao.html

      Pode ser que o trinco leve com mais que a expulsão. Talvez um oscar de interpretação.

  2. Rui Naldinho says:

    O futebol tornou-se uma indústria onde se procura ganhar a qualquer preço. Isso faz parte de qualquer negócio, seja a fabricar e vender automóveis aos chouriços de porco preto.
    Basta ver como correu tão mal o negócio bancário, para se perceber como todos querem estar na frente. Mas é assim que a economia funciona, para mal dos nossos pecados.
    Quando digo a qualquer preço não me refiro aos árbitros. Refiro-me à contrataçào de jogadores para as equipas, o merchadising à volta dos símbolos e produtos, com lojas em centros comerciais, publicidade nas televisões, estádios, centros de estágios, etc…
    Vamos por partes.
    Será que os adversários do SLBenfica tem melhor equipa?
    Não.
    Será que o FCPorto, a equipa que nos últimos vinte anos dominou o futebol português está ao nível daquelas equipas que apresentou no passado, e deram tantos títulosnacionais, uma TCEuropeu, uma LCEuropa, duas Taças da UEFA, … e ao futebol mundial, jogadores como James Rodriguez, Hulk, Falcão, Pepe, Fernando Couto, Vitor Baia, etc, etc?
    Não. Muito longe. Mas mesmo muito longe desse tempo.
    Os árbitros tem beneficiado o Benfica? Até pode ser que num jogo isso possa ter acontecido. Mas, e daí?
    Queres ver que isso é um caso virgem!
    Não vou discutir esse pormenor de forma apaixonada, até porque nem sou simpatizante do Benfica, mas como não gosto de analisar o futebol no sentido do adepto comum, apenas queria dizer, que para se marcar penalty, é pelo menos necessário entrar na área e procurar marcar golo ao adversário. A jogada tem de ter perigo e o adversário estar em situação de arriscar a falta. Quanto mais vezes isso acontecer, maior será atrapalhação do adversário e maior será a possibilidade de isso vir a acontecer. Chama-se a isso pendor ou caudal de jogo.
    “Água mole em pedra dura tanto bate até que fura”
    Desculpem-me, mas se o FC Porto não estiver ao seu melhor nível, jamais será campeão. No caso do Sporting nem vale a pena ir tão longe. Com as vendas de jogadores influentes deste ano 2016, ganhou dinheiro, mas depenou a equipa. E assim não há milagres. Ou, a acontecer, como no ano passado em Inglaterra, com o Leicester, isso é de cinquenta em cinquenta anos.
    O Sporting tem jogado francamente pouco. O FC Porto também, mas este, como já tem mística, ainda se agiganta por vezes, mas são poucas as vezes.
    O Benfica vai na frente porque não estando tão bem como no passado, ao seu melhor nível, está menos mal do que todos os outros.
    Já agora, eu ainda me lembro de ver o FC Porto a ganhar no velhinho estádio da Luz, numa super taça, na altura era a duas mãos, ao SL Benfica por 1-5. Eos azuis com menos um jogador em metade da segunda parte.
    Nessa altura a culpa era de quem?
    Os árbitros erram?
    Erram.
    Se o erro for grosseiro, afastem-no e mandem-no para a divisão secundária.
    Se não for, deixem o homem em paz. Lá chegará o dia, em que o erro será para o vosso lado.

    • Paulo Marques says:

      Não é o mesmo, porque há uma década que a direcção se preocupa mais com os negócios da família do que com outra coisa. Mas não é essa a razão para as disparidades das arbitragens dentro e fora de campo – afinal, a internacionalmente conhecida expulsão mais ridícula de sempre não tem igual em mais nenhum clube.

      • nuno says:

        Internacionalmente conhecida por causa do berreiro que adeptos e dirigentes fizeram, que a catapultaram para as páginas dos jornais desportivos portugueses. O noticiário internacional dos jornais faz-se assim, com manchetes dos outros. Não houve nos jornais estrangeiros qualquer reconhecimento próprio de especial danosidade. Limitam-se a reproduziram o que os nossos diziam. E, outra coisa, ainda não lêem português nos lábios (o que um português consuegue fazer) para saber se a expulsão não terá sido por conta de insultos.

        Danilo – que é um tipo calmeirão – ao ser pisado por um árbitro bem mais pequeno do que ele mandou um “foda-se” bem sonoro (o que poderia ser só do susto e da surpresa) e continuou com o ar histérico e desnorteado de alguém que acabava de sofrer a maior ofensa do mundo, o que mostra bem o nível de pressão e de condicionamento contra os árbitros a que está sujeito. Não sei se disse mais, o árbitro parece achar que sim, mas só a atitude do jogador condicionado pelo berreiro contra os do apito, se calhar já chega para que qualquer árbitro se sinta ameaçado por uma reacção desproporcionada.

        Cuidem melhor do estado emocional dos jogadores, evitem andar a correr atrás dos ábritros e marquem mais golos. Isso da posse de bola e das tabelinhas chama-se bilhar – modalidade em que o FC Porto é actualmente pentacampeão. Têm é de perceber que no futebol é diferente. Se já perceberam no passado, não se percebe que agora achem que se trata de outro jogo.

  3. Ricardo Ferreira Pinto says:

    Afinal, há espaço para a bola no Aventar. Podia ter escrito este post da primeira à última linha. Excelente.

    • António Fernando Nabais says:

      Também não é preciso exagerar: da primeira à última linha? Mesmo na parte das costelas benfiquistas? 🙂

      • Ricardo Ferreira Pinto says:

        Bom, trocava o vermelho pelo azul. O resto era igual.
        Obrigado pelo post. Lembraste-me de um post antigo que escrevi há muitos anos de homenagem ao Benfica. Já nem me lembrava disso.

  4. Nabais, és o meu Dalai Lama do pontapé na bola 🙂
    Já eu sou mais uma espécie de Jack, o Estripador nesta matéria. E tenho quase a certeza que tu, nesse jogo de miúdos fizeste vista grossa a uma grande penalidade só porque o rapaz tinha uma camisola azul e branca vestida 🙂

    • António Fernando Nabais says:

      És maluco? Um miúdo que quisesse jogar campo com uma camisola azul e branca era expulso ainda no balneário! 🙂

  5. Carlos Ramos says:

    Que grandes dorminhocos…ou brincalhões? O respeito pelos outros é necessário.

  6. Konigvs says:

    Falta de ética e cultura desportiva por parte de todos os intervenientes no espetáculo desportivo.
    Ética é algo que quase ninguém sabe o que é em Portugal. É o ministro que se diz doutor se nunca ter metido os pés numa universidade; é o ministro que arranja uma cunha para a filha entrar numa universidade de medicina; é o ministro que favorece empresas para depois arranjar um bom tacho quando for ex-ministro.
    E não há cultura desportiva em Portugal, se houvesse, os programas televisivos não tinham, por norma, três idiotas, do mais idiota possível, de cada um dos três clubes “grandes”, a discutir durante uma hora, se determinado lance foi penalti ou fora-de-jogo. E só mesmo em Portugal esses arruaceiros e criminosos das claques de futebol, que não fazem descontos mas que se passeiam de Porshes, são procurados e ouvidos em conferências de imprensa, e que dizem algo tão inteligente como “um dia ainda acontece uma desgraça”!

    Sobre arbitragem relembro o que Marco Silva disse, treinador que se calhar era um tipo que estava a mais no futebol português, porque o nosso futebol não o merecia, um tipo que foi despedido por… não usar o fato do clube num jogo qualquer!
    “Ou falamos sempre de arbitragem ou então estamos sempre calados”.

    Coerência para mim é alguém dizer: estou muito chateado, hoje fui favorecido pelo árbitro. Mas isso é muito raro de acontecer.
    Coerência para mim, não é dizer hoje que se é a favor das nomeações, mas depois quando se perde, já se querer o sorteio dos árbitros ou vice-versa. Coerência não é, numa semana dizer que “a arbitragem em Portugal está muito melhor” e na semana seguinte dizer que há uma cabala contra o seu clube, porque não se consegue explicar os péssimos resultados e o investimento brutal que se fez. Muito menos é coerente, durante décadas dizer que “só os burros falam da arbitragem” mas depois quando se fica três anos sem ganhar nada, afinal já se passa a ser tão burro como os outros eram antes.

    Mas mais burros ainda são os que fazem do futebol um caso de vida ou de morte, quando na verdade o futebol é só o que é: um desporto. E um desporto onde vergonhosamente todos ganham milhões: presidentes, treinadores, jogadores,empresários, filhos, ex-mulheres, amantes, putas… mas como parece que ainda é muito poucochinho, ainda têm de fugir ao fisco, porque o que é isso de ganhar 20 ou 30 milhões de euros por ano? Nada! E enquanto isso, outros têm de trabalhar oito horas por dia para ganhar uma miséria.

    É muito estranho para mim ver milhões de pobres, terem sido durante cinco anos roubados todos os dias, e nunca ter ouvido ninguém dizer que que um dia ainda um ministro morre. Mas o que é ver salários roubados, direitos roubados, ser constantemente insultado por quem nos governa e ser obrigado a emigrar, mas o que é isso, comparado com o ver o rival ganhar? Nada!

  7. Paulo Só says:

    Se houvesse menos jogos, nessa trapalhada de taças entrelaçadas que ninguém consegue seguir, os maus árbitros ficariam a apitar em casa.

  8. Subscrevo.

    Quando o Benfica perdeu na Madeira, alguns amigos disseram-me “Ah e tal, o árbitro…”:

    Não me interessa. Se me prejudicam, tenho que ser ainda melhor da próxima. E se me prejudicaram novamente, redobro os esforços. E será sempre assim até à vitória final.

  9. Odete Santos says:

    Meninos, o recreio acabou!
    Vamos ao que interessa: nacionaliza-se o Novo Banco?

    • Nascimento says:

      “meninos”???palhaços que nem se espantam de ser Salazaristas.E nem se apercebem que esta merda é Fatima,Fado e Futebol….querem mais SALAZARISMO???Ladram sobre Futebol! Como se sabe um ” pontapé na bola” tem que se lhe diga!!!uau….lindo. QUE BANDO DE IMBECIS!Não consigo imaginar outro país com este…semanas a falar de uma merda ” redonda”!!!Nem Espanha, Itália, etc…

  10. Konigvs says:

    Curioso. Abro as capas dos jornais (na net) para saber dos resultados da bola no dia de ontem, e vejo que na capa d’ O (insuspeito) Jogo que ficou um penalti por marcar a favor do Paços de Ferreira. Ironicamente, nada li sobre a revolta portista por mais um penalti por marcar…

    Como diria Lopetegui:
    “Pimentorium anus in aliis refrescus est”

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