Veja-se só, os portugueses afinal não são moinantes.

Média anual de horas trabalhadas por trabalhador em 2015 (fonte: OCDE 2017)

Média anual de horas trabalhadas por trabalhador em 2015
Fonte: OCDE 2017

Em Portugal trabalhamos mais horas do quem em toda a Europa que queremos como referência para nós. A Alemanha é o país com menos horas trabalhadas na Europa e, simultâneamente, é aquele com a economia mais pujante.

Comprova-se que a produtividade do país não tem nada a ver com o número de feriados que temos, nem se estes são encostados aos fim-de-semana, para não haver pontes. A iniciativa do PSD, patrocinada por Passos Coelho e pela sua clique, não passa de propaganda e, pior, é um erro, pois pretende resolver um problema (a nossa baixa competitividade económica) partido pressupostos errados. Está por isso condenada ao fracasso.

Mas há mais.

O crescimento per capita diminuiu continuamente durante os anos 2000. A baixa produtividade está na raiz de um grande hiato de renda em relação à média da OCDE. Diversos estrangulamentos estruturais impedem a produtividade e é necessária uma nova vaga de reformas estruturais para aumentar o potencial de crescimento da economia.

  • Completar a implementação de procedimentos de licença zero e realizar uma reforma abrangente da legislação de desenvolvimento territorial.
  • Reduzir o excesso de dívida corporativa para facilitar realocação de “re-s e fomentar o investimento.
  • Melhorar o ambiente empresarial através do aumento da concorrência na electricidade, nos portos e nos serviços profissionais.
  • Continuar a intensificar o ensino e a formação profissionais, incluindo o ensino pós-secundário.
  • Reforçar as políticas de inovação e reforçar a ligação entre a investigação e as empresas.
  • Reduzir a dualidade do mercado de trabalho para reforçar as perspectivas de emprego dos jovens, reforçar os incentivos ao investimento em competências e reduzir as desigualdades no mercado de trabalho.

Fonte: OCDE, Junho de 2016

Curiosamente, em nenhum dos pontos se refere que o problema do país está no salário mínimo, nos dias de férias, nas pontes e nas pensões. Está mesmo em questões estruturais que não foram resolvidas, porque a única coisa que se fez foi aumentar impostos e cortar salários e pensões para pagar juros da dívida. Mais um caminho errado.

 

Comments

  1. É óbvio que horas de trabalho não se traduzem em horas de produtividade.
    Enquanto não apostarmos sempre em trabalho por objetivos (já para não falar em incentivos), não sairemos disto.

    • Penso que há muito mais a fazer do que pensar em objectivos. Essa linha de pensamento traduz-se na assumpção de que a produtividade é baixa devido ao trabalhador.

      Na minha experiência não é isso que acontece. O que vejo é que a produtividade por vezes é baixa porque o planeamento é deficiente. Um pouco como na anedota dos dois jardineiros em que um abre buracos e o outro tapa-os (tinha faltado o terceiro jardineiro, o que plantava as árvores). O que vejo nas empresas estrangeiras com que trabalho é que, as bem sucedidas, planeiam a médio e longo prazo e dão boas condições de trabalho.

      Entre nós, vejo muita vez o planeamento à bombeiro: ir apagando fogos para resolver os problemas do imediato.

      Ainda há a considerar a competitividade. Somos pouco competitivos não por trabalharmos pouco, como vimos, mas por diversas outras razões. Cá, “resolvem-se” os problemas fazendo leis. Na verdade, fica tudo na mesma e ganha-se um quadro legislativo altamente complexo. É um dos problemas do país. Outro é a instabilidade fiscal, muito mais do que os impostos altos (se assim não fosse, o norte da Europa não tinha empresas). Um plano de negócios faz-se para largos anos (lá está, planeamento a meio e longo prazo) e mudar impostos todos os anos significa que a probabilidade do plano sair furado é elevada. Por fim, a justiça que não funciona. As empresas precisam de ter os litígios resolvidos em tempo útil, sem processos que se arrastem anos em tribunais. E quem ganha com uma justiça ineficaz? Os mesmos que fazem fortuna a dar consultoria jurídica àqueles que “resolvem” os problemas a fazer leis: os escritórios de advogados (alguns, claro) .

  2. Rui Naldinho says:

    Se estes dados estiverem verdadeiros, e corresponderem a uma avaliação da realidade, o que nem sempre acontece, são dismistificadas algumas verdades que nos foram vendidas durante anos.
    Por exemplo:
    A de que Japonês passava nesta vida terrena, apenas para trabalhar e procriar…
    Quanto à segunda não tenho nada a dizer. Quanto à primeira fico perplexo!
    Também que muitos países nórdicos se dedicavam ao trabalho, porque o clima não lhes permitia grandes veleidades ociosas.
    Com conhecimento de causa sei que o México é dos sítios onde os horários de trabalho são maiores, e o número de dias de férias são menores. O salário mínimo dos mais baixos dos grandes países da América Latina. Sei também que tem baixíssimas taxas de desemprego. Mas como aquela malta continua a emigrar para os EUA, não sei se estes resultados se manterão assim por muitos anos.

  3. Horas de trabalho não é o mesmo que horas passadas no local de trabalho

  4. Mas porquê escrever sobre Horas de trabalho diferente entre paises,pois se o importante seria comparar a produtividade.que é o que na verdade existe de muito muito diferente de país para país.Assim se justifica a grande diferênca entre a produtividade e progreço nas empresas em Portugal e na Alemanha e os seus resultados.Não estou sequer a comparar,tempos e mètodos,legislação laboral,organização científica de trabalho,enquadramento laboral e tantas e tantas que justificam a diferença.Assim ,o mais importante não são as horas de trabalho mas sim,produtividade .

    • Só não interessa discutir as horas trabalhadas a um grupo: aqueles que defendem que devemos trabalhar mais porque somos pouco produtivos. Traduzindo por miúdos, não interessa à direita, que é quem tem defendido essas soluções.
      Obviamente que interessa discutir a produtividade. O post transcreve as recomendações da OCDE. Foi o que fizeram os governos anteriores? Não.
      Discutir as horas trabalhadas serve também para demonstrar a parvoíce que é a teoria de encostar os feriados ao fim-de-semana.

  5. As As razões pelas quais estamos ainda mal situados nos gráficos apresentados tem a ver para além de do já dito e escrito,outros temas que nos deveríamos debruçar tais como:
    Faltas ao trabalho(justificadas ou não)o que tem uma incidência directa nos custos do produto final.Ha casos concretos em que o absentismo variava de 9,3 a 10,2 por cento o que obrigava a empresa em causa a ter a mais em permanência esse escedente de trabalhadores.Uma outra tem a ver na quase generalizada falta de conhecimento dos valores a incluir nos custos,para além da valorização do produto final.Outra ainda é a falta de quadros médios e melhor qualificados tecnicamente para trabalhos especìficos.

Trackbacks

  1. […] É este o significado da produtividade neste contexto e não se cada um de nós está a moinar ou não no local de trabalho. […]

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