Em Portugal trabalhamos mais horas do quem em toda a Europa que queremos como referência para nós. A Alemanha é o país com menos horas trabalhadas na Europa e, simultâneamente, é aquele com a economia mais pujante.
Comprova-se que a produtividade do país não tem nada a ver com o número de feriados que temos, nem se estes são encostados aos fim-de-semana, para não haver pontes. A iniciativa do PSD, patrocinada por Passos Coelho e pela sua clique, não passa de propaganda e, pior, é um erro, pois pretende resolver um problema (a nossa baixa competitividade económica) partido pressupostos errados. Está por isso condenada ao fracasso.
Mas há mais.
O crescimento per capita diminuiu continuamente durante os anos 2000. A baixa produtividade está na raiz de um grande hiato de renda em relação à média da OCDE. Diversos estrangulamentos estruturais impedem a produtividade e é necessária uma nova vaga de reformas estruturais para aumentar o potencial de crescimento da economia.
- Completar a implementação de procedimentos de licença zero e realizar uma reforma abrangente da legislação de desenvolvimento territorial.
- Reduzir o excesso de dívida corporativa para facilitar realocação de “re-s e fomentar o investimento.
- Melhorar o ambiente empresarial através do aumento da concorrência na electricidade, nos portos e nos serviços profissionais.
- Continuar a intensificar o ensino e a formação profissionais, incluindo o ensino pós-secundário.
- Reforçar as políticas de inovação e reforçar a ligação entre a investigação e as empresas.
- Reduzir a dualidade do mercado de trabalho para reforçar as perspectivas de emprego dos jovens, reforçar os incentivos ao investimento em competências e reduzir as desigualdades no mercado de trabalho.
Fonte: OCDE, Junho de 2016
Curiosamente, em nenhum dos pontos se refere que o problema do país está no salário mínimo, nos dias de férias, nas pontes e nas pensões. Está mesmo em questões estruturais que não foram resolvidas, porque a única coisa que se fez foi aumentar impostos e cortar salários e pensões para pagar juros da dívida. Mais um caminho errado.
É óbvio que horas de trabalho não se traduzem em horas de produtividade.
Enquanto não apostarmos sempre em trabalho por objetivos (já para não falar em incentivos), não sairemos disto.
Penso que há muito mais a fazer do que pensar em objectivos. Essa linha de pensamento traduz-se na assumpção de que a produtividade é baixa devido ao trabalhador.
Na minha experiência não é isso que acontece. O que vejo é que a produtividade por vezes é baixa porque o planeamento é deficiente. Um pouco como na anedota dos dois jardineiros em que um abre buracos e o outro tapa-os (tinha faltado o terceiro jardineiro, o que plantava as árvores). O que vejo nas empresas estrangeiras com que trabalho é que, as bem sucedidas, planeiam a médio e longo prazo e dão boas condições de trabalho.
Entre nós, vejo muita vez o planeamento à bombeiro: ir apagando fogos para resolver os problemas do imediato.
Ainda há a considerar a competitividade. Somos pouco competitivos não por trabalharmos pouco, como vimos, mas por diversas outras razões. Cá, “resolvem-se” os problemas fazendo leis. Na verdade, fica tudo na mesma e ganha-se um quadro legislativo altamente complexo. É um dos problemas do país. Outro é a instabilidade fiscal, muito mais do que os impostos altos (se assim não fosse, o norte da Europa não tinha empresas). Um plano de negócios faz-se para largos anos (lá está, planeamento a meio e longo prazo) e mudar impostos todos os anos significa que a probabilidade do plano sair furado é elevada. Por fim, a justiça que não funciona. As empresas precisam de ter os litígios resolvidos em tempo útil, sem processos que se arrastem anos em tribunais. E quem ganha com uma justiça ineficaz? Os mesmos que fazem fortuna a dar consultoria jurídica àqueles que “resolvem” os problemas a fazer leis: os escritórios de advogados (alguns, claro) .
Se estes dados estiverem verdadeiros, e corresponderem a uma avaliação da realidade, o que nem sempre acontece, são dismistificadas algumas verdades que nos foram vendidas durante anos.
Por exemplo:
A de que Japonês passava nesta vida terrena, apenas para trabalhar e procriar…
Quanto à segunda não tenho nada a dizer. Quanto à primeira fico perplexo!
Também que muitos países nórdicos se dedicavam ao trabalho, porque o clima não lhes permitia grandes veleidades ociosas.
Com conhecimento de causa sei que o México é dos sítios onde os horários de trabalho são maiores, e o número de dias de férias são menores. O salário mínimo dos mais baixos dos grandes países da América Latina. Sei também que tem baixíssimas taxas de desemprego. Mas como aquela malta continua a emigrar para os EUA, não sei se estes resultados se manterão assim por muitos anos.
Vendo como comprei 🙂
O gráfico de horas foi partilhado pela OCDE no seu Facebook (https://m.facebook.com/theOECD/photos/a.10150177273897461.304209.73290362460/10154058568772461/?type=3&source=54&ref=page_internal) e os dados podem estar explorados na página da OCDE que linkei.
Pode sempre existir algum erro. Mas até indicação contraria, aceito-os como estão.
É uma autêntica pedrada na propaganda que nos tem sido servida. A parte engraçada é que a imprensa económica e blogs que adoram publicar gráficos e estatísticas não deram por esta publicaçao.
Nunca dão! Só aquilo que der jeito para justificar a sua (deles) agenda!
Eu só coloquei a questão, porque se for a alguns sites, é dito que no Japão, a jornada de trabalho são 40 horas semanais. Têm cerca de doze dias úteis de férias pagas por ano. Têm cerca de quinze feriados e dias festivos. Penso que serão dias em que não se trabalha por norma.
Mas nesses mesmos sites chegam mais ou menos, às mesmas horas que estão nesse gráfico.
Das duas, uma. Ou há pausas intermédias durante o dia para outras atividades. Mas tem de haver uma razão plausível para os números darem certos.
http://skdesu.com/e-verdade-que-japones-trabalha-muito/
http://www.ipcdigital.com/espaco-do-trabalhador-brasileiro/etb-entenda-como-e-a-jornada-de-trabalho-no-japao/
Horas de trabalho não é o mesmo que horas passadas no local de trabalho
Concordo, o problema está na ronha que existe no local de trabalho.
O que me espanta no gráfico é que ainda há quem consiga moinar mais do que os portugueses no local de trabalho.
A ambição do português comum: moinar tanto como os mexicanos.
Obrigado por partilhar a sua experiência.
Moinar é aquela cena que fazem os idiotas insurgentes?
Você deve ser daqueles que dizem que o trabalho liberta, RC.
No seu local de trabalho, FMP? Tem bom remédio, vá ter com o seu chefe.
Exacto, RC. Há quem trabalhe em casa.
Mas porquê escrever sobre Horas de trabalho diferente entre paises,pois se o importante seria comparar a produtividade.que é o que na verdade existe de muito muito diferente de país para país.Assim se justifica a grande diferênca entre a produtividade e progreço nas empresas em Portugal e na Alemanha e os seus resultados.Não estou sequer a comparar,tempos e mètodos,legislação laboral,organização científica de trabalho,enquadramento laboral e tantas e tantas que justificam a diferença.Assim ,o mais importante não são as horas de trabalho mas sim,produtividade .
Só não interessa discutir as horas trabalhadas a um grupo: aqueles que defendem que devemos trabalhar mais porque somos pouco produtivos. Traduzindo por miúdos, não interessa à direita, que é quem tem defendido essas soluções.
Obviamente que interessa discutir a produtividade. O post transcreve as recomendações da OCDE. Foi o que fizeram os governos anteriores? Não.
Discutir as horas trabalhadas serve também para demonstrar a parvoíce que é a teoria de encostar os feriados ao fim-de-semana.
As As razões pelas quais estamos ainda mal situados nos gráficos apresentados tem a ver para além de do já dito e escrito,outros temas que nos deveríamos debruçar tais como:
Faltas ao trabalho(justificadas ou não)o que tem uma incidência directa nos custos do produto final.Ha casos concretos em que o absentismo variava de 9,3 a 10,2 por cento o que obrigava a empresa em causa a ter a mais em permanência esse escedente de trabalhadores.Uma outra tem a ver na quase generalizada falta de conhecimento dos valores a incluir nos custos,para além da valorização do produto final.Outra ainda é a falta de quadros médios e melhor qualificados tecnicamente para trabalhos especìficos.