Era uma vez em Portugal

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Marco Faria

Três rapazes, dois dos quais vieram de muito longe, dizem que da Mesopotâmia, quiçá num tapete voador e estudavam aviões em Ponte de Sor.
São filhos do embaixador do Iraque.
Os gémeos, não sei se verdadeiros ou falsos, eram descendentes de um reino de “fakirs”, e desde o saco amniótico que sabiam manejar a arte dos sabres, e deram um enxerto de porrada a um adolescente da Ibéria, tendo este ido parar aos cuidados intensivos de um hospital da cidade de Ulisses e submetido a coma induzido pelos melhores físicos do seu tempo. Foi uma noitada em que todos se lembravam do que ocorrera no Verão passado, 18 de Agosto de 2016.Os filhos de Saad Mohammed M. Ali, protegidos pelas normas da imunidade diplomática, dos valentes e dos croquetes, levavam a sua vida com normalidade. Os pais do português juravam que iam até às últimas consequências, num processo que envolvia o Ministério Público português de mãos atadas, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da retórica habitual “do forte com os fracos e do fraco com os fortes”, do Governo iraquiano com assuntos domésticos e nada difíceis para resolver, como a paz e o desenvolvimento, e possivelmente Peter Pan, bem como a fada dos dentes que se partem sem ninguém saber no distrito de Portalegre.
Como o embaixador do Iraque queria evitar sarilhos, desde o início deu sinais de que gostaria de resolver o assunto à maneira do mundo dos negócios: advogados, um almoço com três entradas e um livro de cheques. O primeiro sinal foi dado com o pagamento das despesas ao Hospital de Santa Maria.
Depois de diversos ultimatos do Governo português, as maiores exigências, desde a reacção lusitana orgulhosa ao bloqueio continental da França de Napoleão e até da questão do Mapa Cor-de-Rosa, eis que a solução chega: faça-se uma transacção, um acordo extrajudicial para que a diplomacia do cidadão Rúben Cavaco não declare “persona non grata” ao pai de dois rapazes com borbulhas Clearasil, Haider e Rhida.
Não sei se 52 mil euros são ou não suficientes para concluir com sucesso um litígio jurídico e um diferendo diplomático de berrarias, silêncios e nervos; sei é que por muito menos se adquirem contos infantis com finais mais misteriosos.

Comments

  1. Rui Naldinho says:

    “Numa altura em que o empreendedorismo é muitas vezes a única saída profissional para muitas pessoas, os portugueses já estão a ponderar um novo modelo de negócio que poderá ser bastante lucrativo:”
    LEVE NAS FUÇAS E GANHE UNS MILHARES!

    Entretanto o governo vai aproveitar esta pausa para digerir um “Kit Kat”.
    O MNE vai assobiando para o lado, e dizendo que agora está com o problema de Almaraz em mãos.
    A Justiça fará o seu caminho a rasto de caracol, e daqui a seis anos, quando o embaixador já estiver com acreditação numa outra capital qualquer, e os filhos já adultos na Força Aérea Iraquiana, aparece a acusação formalizada com seis mil páginas, dois juizes, um instrutor e o outro outro relator, duas funcionárias judiciais, o Correio da Manhã TV a informar que este processo tinha também Carlos Santos Silva como testemunha, por este morar junto da embaixada do Iraque.

    • doorstep says:

      … e muitas citações de Figueiredo Dias e de inúmeros acórdãos – afinal as resmas contam muito para as “promoções”…

  2. Não me façam rir,que tenho ”
    sieiro”

  3. Paulo Só says:

    Não sei para que querem um embaixador do Iraque aqui. Embaixador de quem? Transformem a embaixada num refúgio para exilados, e corram com os filhos, os pais, o diabo que os carregue e a família da vítima que vendeu os copos aos muçulmanos de araque.

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