Um enorme embaraço para PCP e Bloco

avjs

Não votei no PS mas votaria de boa vontade num projecto que envolvesse, em regime pré-eleitoral, uma aliança entre os três partidos que hoje concertam posições na Assembleia da República. Se é para estarmos sob chantagem da Europa, reféns do terrorismo financeiro, antes um governo que garanta alguma dignidade aos portugueses do que uma caranguejola de sabujos da precaridade, a salivar por mais empobrecimento e pelo desmantelamento do Estado Social.

Agrada-me particularmente que esta aliança não tenha descaracterizado os partidos que a constituem, em especial PCP e Bloco, que não deixaram de colocar o executivo de Costa contra a parede sempre que tal se exigiu, sendo o caso mais recente aquele que envolveu a tentativa de descida da TSU como moeda de troca para o aumento do salário mínimo. Ao contrário deste PSD, com a sua espinha dorsal de caracol, PCP e Bloco sempre foram contra tal possibilidade e, porque não são um CDS oportunista, assim se mantiveram. A medida foi chumbada, Costa apresentou um plano B e a questão parece agora resolvida.

É importante que estas alianças, quando acontecem, não se transformem num exercício de unanimidade de circunstância. Que um partido minoritário de uma coligação não ameace a estabilidade da governação para satisfazer ambições pessoais, recorrendo à chantagem e à dissimulação, para depois fazer de conta que nada se passou. Que um qualquer parceiro não troque a sua identidade por um pouco mais de poder, efémero. E se, até ao momento, pouco ou nada tenho a apontar ao comportamento de PCP e Bloco, com a excepção da falta de uma acção mais musculada contra o CETA e o TTIP, ver estes partidos chumbar a audição de Armando Vara, que tanto criticaram no passado, apresenta-se-me como um exercício de uma chocante e vergonhosa hipocrisia. Um enorme embaraço para ambos os partidos.

Que motivos levaram comunistas e bloquistas a tomar tal decisão? Custa a perceber. E mais difícil se torna à luz da possibilidade que os partidos da oposição têm para recorrer à figura do agendamento potestativo. Portanto PCP e Bloco decidem contribuir para blindar Armando Vara da comissão parlamentar de inquérito à CGD, algo que se revela uma perfeita inutilidade, e, ao invés de conseguirem levar a sua avante, batem na trave. Para quê? É algo que Catarina Martins e Jerónimo de Sousa deviam explicar ao país. Na luta pela transparência não podem existir meios termos.

Foto: Ana Baião@Expresso

Comments

  1. martinhopm says:

    Esta tomada de posição soa estranha. Mas não terá que ver com o objectivo de PSD e CDS tentarem bloquear, por todos os meios e mais um, usando de todas as artimanhas, a resolução do problema da CGD? Lembremos que, por vontade dos ditos cujos, também a CGD era para privatizar. Se lá continuam por mais quatro anos, não escapava, na sua fúria privatizadora, empresa que, claro, fosse lucrativa. Haviam de chegar às praias, aos portos, às matas, aos museus, ao SNS, à Escola Pública, à Segurança Social, enfim a tudo, quiçá ao próprio ar que respiramos.

  2. Rui Naldinho says:

    Para já, antes de dar a minha opinião, eu subscrevo o artigo do João Mendes.
    Aquela frase do: “na política não pode valer tudo”, aqui faz todo o sentido.
    Mas há algo de estranho nisto tudo, uma vez que eles melhor do que nós, sabem que o PSD poderia sempre chamar Vara à Comissão de Inquérito. A única razão plausível terá porventura a ver com o agendamento potestativo, que, penso eu, tem um número limitado de requerimento.
    Assim, PSD vai gastando trunfos, e ficará sem nada para outras ocasiões, refém da maioria, ou do CDS?

  3. Espinha dorsal de caracol? Pois é…

  4. Anti-pafioso says:

    A caranguejola quer é conversa e entreter os tolos ,Aguentem-se .

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