Ein Volk, ein Reich, ein Führer!

Republican presidential candidate, businessman Donald Trump speaks during the Fox Business Network Republican presidential debate at the North Charleston Coliseum, Thursday, Jan. 14, 2016, in North Charleston, S.C. (AP Photo/Chuck Burton)

E o impensável expectável aconteceu: na conferência de imprensa de ontem na Casa Branca, alguns órgãos de comunicação social, entre eles a CNN, a BBC ou o The New York Times, foram impedidos de assistir ao briefing diário do porta-voz da Casa Branca. Claro Sean Spicer não ficou a falar para o boneco, e a imprensa amiga, como a Fox ou o site de extrema-direita Breitbart News (ia linkar o site mas não consegui, é nojento demais), onde fez carreira Steve Bannon, o Goebbels do admirável regime novo de Donald Trump, foram devidamente autorizados a assistir à dose diária de factos alternativos produzidos pelo Ministério da Verdade norte-americano.

sb

Steve Sack@Star Tribune

Há quem não se aflija muito com isto. O líder da oposição cá do rectângulo, em declarações à Renascença, afirmava em Novembro que “não embarcava nessa ideia” de que Trump seria assim tão mau. E até ver o que temos? Discursos incendiários, discórdia, muros, ameaças militares no tom mais grunho de que há memória, xenofobia, nepotismo, “factos alternativos”, o “massacre” de Bowling Green, o atentado na SuéciaSweden, can you believe it? – e agora o regresso do lápis azul. E pouco mais de um mês passou desde que o troglodita moderno chegou ao poder.

Há até quem aprecie a experiência Trump. Quem aprecie o discurso do ódio. Quem esteja extasiado com a divisão e com a possibilidade de conflito. Quem seja estúpido a ponto de acreditar que Trump não representa o sistema quando Trump É o sistema. Estúpido suficiente para comparar este projecto neofascista aos gregos do Syriza, aos espanhóis do Podemos ou mesmo ao acordo à esquerda que fez um mic drop a meio mundo e espetou com o défice mais baixo da história da democracia portuguesa na cara da seita do apocalipse. Os fanáticos agarram-se a qualquer coisa.

Lei de Godwin my ass! Trump é perigoso, alimenta-se de ódio, dirige a superpotência militar que comanda o mundo, com bases militares espalhadas por todo o lado, é assessorado por um grupo de sujeitos sinistros e partidários da opressão, entre eles o próprio genro e já colocou em marcha o seu novo projecto censório. O que virá a seguir? A perseguição e detenção dos dissidentes e das minorias? Segregação racial? A invasão total do Médio Oriente para se apropriar dos poços de petróleo? A subjugação dos membros da NATO a troco de não serem dados a comer ao urso soviético? Armas nucleares?

Nada disso. É sorrir e acenar, que qualquer dia ainda assistimos a um incêndio no Capitólio, causado por comunistas, claro, e o tipo aproveita a deixa para encomendar uma coroa de louros, expulsar tudo o que não seja ariano, suspender a democracia por tempo indeterminado e começar a cobrar o dízimo aos seus parceiros. Just lay back and enjoy the ride. It’s gonna be amazing.

Comments

  1. Só corrigir João, a BBC não é norte americana, de resto, excelente como sempre.

    • Rui Naldinho says:

      Sim, pode ter sido um “peão” feito pelo João, ao escrever o texto.
      A BBC é de facto Britânica, mas ao que penso tem um serviço exclusivo para USA & Canadá.
      Contudo isso não invalida o seu reparo.

    • Obrigado pelo toque, Francisco. Efectivamente, e apesar do que afirma, e bem, o Rui, não fiz a devida distinção. Escritas de madrugada costumam dar nisto 🙂

  2. Pim-Pam-Pum says:

    Um esquema de pensamento muito linear, carregado de reflexos primários, preto/branco, sem nuances.
    1. Trump é um produto altamente contraditório da sociedade americana. O facto de ele não perseguir o projecto peregrino de uma querra com a Rússia, opondo-se à agenda da NATO, dos numerosos serviços secretos, do Pentagono, do complexo militar-industrial, mostra que é um indivíduo que os tem no sítio. O facto de ele desafiar a CNN, o New York Times, a BBC, as traves mestras da propaganda do establishment, mostra que Trump não é cachorro de colo à la Obama das habituais cliques multimilionárias. O facto de ele não surgir como um mata-mouros como o lulu Obama e o desmiolado Bush tem que se lhe diga. Que sossego ver um craque que não anda a fazer guerra na casa dos outros e se prefere meter com as máfias do seu próprio país.
    2. Trump não é Hitler nem Bannon é Goebbels. Hitler queria conquistar o mundo, Trump está a arrumar a casa, com métodos um bocado discutíveis e pouco ortodoxos, é verdade, mas mesmo assim e mais uma vez, ele quer viver em paz com a Rússia. São palavras? São! Mas o que dizem e escrevem os media também são só palavras. Bannon=Goebbels? por amor de Deus! Fica-se a saber mais de quem compara, do que sobre a comparação.
    3. Trump é um perigo? É. Mas o que fez Obama e o que fez e queria fazer a Clinton foi/seria mil vezes mais perigoso. Obama sorria como um vendedor de automóveis usados enquanto matava árabes, provocava a Rússia, armava a NATO. Não foram palavras, foram factos, guerras, mortes, ataques cobardes a velhos, mulheres e crianças com os seus drones. Um killer! O perigo Trump ainda está por se desvendar e é com os assassinos do seu país que ele se está a meter. Aguardar! Visões, profecias e outras fantasias são como as bolas de sabão, a sua beleza e a sua verdade estão no nada da sua memória.

    • ferpin says:

      Mais um a debitar puns que se sentirá perfeitamente inocente quando a conta de mortos do trump for apresentada.
      Nessa altura muda os nicks/dizeres para tracks e jurará que nunca apoiou trump e que sempre viu nele um tipo capaz de gerar muito mais mortos que bush2.
      Eu declaro aqui que não mudarei de nick, e que acho que o trump tem potencial para gerar milhões de mortos se não for travado pelos republicanos do senado e congresso.

      Só um exemplo, pela doutrina trump, que impede a rússia de invadir a polónia, hungria e restantes países ex-leste para restaurar o império soviético e seus satélites? Nada. E quantos morrerão se isso acontecer? O equilíbrio de poderes rússia/EUA/Europa é frágil, e basta o trump vir dizer que se está a cagar para o resto do mundo e que a rússia pode tratar de quem quiser fora do interesse muito particular dos EUA, para trump e seus apoiantes serem culpados de todas as mortes que se gerarem, mesmo que o trump não dispare um tiro (pelo menos fora dos EUA, que dentro ele se o deixarem vai disparar e muito)

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  1. […] somos nós, the people. Porque num momento em que figuras sinistras emergem e tomam o poder, figuras que desprezam a imprensa livre e a liberdade de expressão, precisamos de uma imprensa mais forte do que nunca. Uma imprensa do lado da […]

  2. […] o que se está a passar nos EUA, com Trump e Conway a inventar atentados terroristas na Suécia e em Bowling Green, a disseminar notícias falsas e factos alternativos. Que afirma mesmo que […]

  3. […] deixa de ser assustador, e eu estou mesmo assustado, que este lunático que se conseguiu eleger presidente da superpotência norte-americana, rodeado de xenófobos, racista…, não tenha qualquer problema em assumir abertamente que se está nas tintas para o futuro do […]

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