Vários jornais portugueses recebem ameaças de morte

A man wears a shirt reading "Rope. Tree. Journalist." as supporters gather to rally with Republican presidential nominee Donald Trump in a cargo hangar at Minneapolis Saint Paul International Airport in Minneapolis, Minnesota, U.S. November 6, 2016. REUTERS/Jonathan Ernst     TPX IMAGES OF THE DAY

A imprensa portuguesa vive dias conturbados. A sucessão de factos alternativos, o clickbait primário, as ligações suspeitas ao poder político e económico, a perda de leitores e credibilidade. Mas aqueles que mais perdem com tudo isto, não tenhamos dúvidas, somos nós, the people. Porque num momento em que figuras sinistras emergem e tomam o poder, figuras que desprezam a imprensa livre e a liberdade de expressão, precisamos de uma imprensa mais forte do que nunca. Uma imprensa do lado da democracia.

A página Os truques da imprensa portuguesa é a consequência mais evidente desta fase sombria da nossa comunicação social. Não que esteja toda ela, patrões, redacções e jornalistas, a conspirar em bloco contra o comum cidadão. A “enganar velhinhas”, para parafrasear o grande José Gomes Ferreira. Felizmente, e não me canso de bater na mesma tecla, ainda existem bons jornalistas e bom jornalismo. O problema é que os casos se sucedem e multiplicam, todos os dias, e a forma como alguns jornalistas com nome na praça se expõem, ao invés de assumir responsabilidade e tentar conter a pouca-vergonha em que estão a participar, mostra bem ao que chegamos.

O título deste post é inspirado naquele que se tornou num péssimo hábito da imprensa portuguesa. Olhemos para o caso da apresentadora Oprah Winfrey, que apesar de ter clarificado que uma corrida sua à presidência norte-americana “não acontecerá”, não impediu vários jornais e televisões portuguesas de noticiar a sua inexistente intenção. Para a TVI24, a apresentadora “(já) admite a candidatura à presidência dos EUA“. Para a SIC Notícias, “Oprah admite candidatar-se à Presidência dos EUA“. O Jornal Económico titula “Oprah Winfrey na Casa Branca? Apresentadora admite a possibilidade. O DN afirma que, “Depois de ver Trump, Oprah Winfrey Já admite candidatura“. O Sol escreve que “Nas próximas eleições norte-americanas, poderá haver um confronto entre Donald Trump e Oprah Winfrey“. Qual foi a parte de “não acontecerá” que estes tipos não perceberam? Que raio de rigor jornalístico é este?

Se um “não acontecerá” se pode facilmente transformar numa admissão daquilo que Oprah não admite, então o estado a que chegou muita da nossa imprensa, pelas ruas da amargura e em risco de perder toda a sua credibilidade, também me permite a mim admitir que o seu fim poderá estar próximo. O título deste post é a factoalternativação dessa realidade. É o transformar da minha convicção de que a imprensa tradicional está a morrer numa ameaça de morte, ao melhor estilo do clickbait ao qual não só nenhuma redacção está imune, como até contribui activa e deliberadamente para promover. Vamos lá ver se rende boas audiências. Depois conto-vos como foi.

Foto: Jonathan Ernst/Reuters@Huffington Post

Comments

  1. Naturalmente que o capitalismo selvagem, na sua insaciável ânsia de tudo arrebanhar para o seu lucro, tem dado a maior atenção às arenas mediáticas. Assim, as empresas mainstream não têm outro remédio a não ser lançarem-se de alma e coração na captação de mais leitores/ouvintes e para isso, vale tudo. É a corrida pelo mais bombástico. Se é mentira, não tem mal nenhum. O que interessa é capturar os receptores. Embora existam as equipas dos lobbies corporativos que compram a idoneidade dos jornalistas (dilheiro não lhes falta), muitos profissionais sabem bem que, ou alinham no discurso oficial ou vão arejar para outro lado. Não se trata de ser sério ou não. Já ninguém está nessa. É pura sobrevivência, desde o mais jovem reporter até ao maior CEO.
    Felizmente, multiplicam-se como cogumelos os meios e plataformas alternativas que furam os tabus informativos das grandes cadeias.
    Dou só um exemplo actual.
    O parlamento holandês está a discutir a saída do Euro. Algum media noticiou isso? Claro, não convém nada que se saiba da coisa….

  2. Ana A. says:

    Ai, ai, João Mendes, se o Aventar fosse um jornal eu já estava a sentir-me (um enganada com o título) do post! E digo um pouco, porque a palavra “recebem” é que será facto alternativo, porque que estão ameaçados de morte, é um facto bem real, e promovidos por eles próprios, sim.
    Isto de ter que ganhar a vida com notícias, e ao mesmo tempo ter que ser a voz dos donos, não está fácil!

  3. Ana A. says:

    *correcção: …a sentir-me (um pouco) enganada com o título…

  4. martinhopm says:

    Infelizmente vale quase tudo nos ‘media’ e não só os nacionais.. A maioria dos jornalistas vende-se por um prato de lentilhas. Há que manter o ‘status’ e a balofa importância que a si-mesmos atribuem.

  5. joão lopes says:

    e as pessoas acreditam se quiserem,por exemplo(fazendo um paralelismo com o futebol)as pessoas acreditam que o Porto e Benfica tem o direito divino de ganhar(tal como o psd tem o direito divino de governar),e quando for quebrado esse ciclo,se saberá da violencia(chantagem,ameaças,pura violencia) que esses clubes praticam para ganharem sempre.

  6. Há por ai muito peixoto, abrantes e camões nos media,, que têm mais responsabilidade, claro, mas nos blogs também, em que a norma é espalhar odio, meter medo com populismos, radicalismos, perigos terriveis, maquiavelismos contra os que pensam diferente. Insultos as pessoas e processos de intenção sem perderam um minuto a contestar os factos, as ideias em si. Todos esses escribas de merda deviam ter vergonha do contributo que dão para a perca de audiência, o afastar do debate franco em que não se teme dizer o contrario do que o outro diz. Aqui no Aventar , felizmente não noto que apaguem os comentários e por isso dou os parabéns e volto sempre a ler.Mas lendo certos posts e os trolls mais habituais há um crescendo de insulto a pessoa em si e pouca contestação a ideia e ao facto.

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