No passado Dia Internacional da Mulher, o vereador da Cultura da Câmara Municipal da Maia, Mário Nuno Neves, escreveu um post na sua página de facebook onde, entre outras coisas, disse o seguinte:
Na maioria das retóricas sobre o Dia da Mulher não consigo deixar de perceber um paternalismo camuflado. Nada que me espante. O que me faz pasmar é o ar de felicidade bovina da maioria das mulheres quando escutam estas baboseiras. Filha minha dava-lhes com a cadeira na cabeça.
Ora, quem leu todo o post e ler esta citação com o devido cuidado não encontra um ataque às mulheres. Apenas uma opinião. Pelo que me foi dado a perceber a celeuma está no “ar de felicidade bobina”. Mas não está. O problema está mesmo no ambiente que se vive nas redes sociais: disparar primeiro, ler depois. Independentemente do velho problema das generalizações e do uso do português, a turba das redes sociais vive em excitação permanente e na constante busca de uma polémica onde possa queimar uma vítima, por dia, na incontrolável fogueira digital dos nossos dias.
Passados uns dias, mais precisamente hoje, o Jornal de Notícias fez do caso notícia com chamada de capa. E imediatamente a polémica seguiu das redes para a caixa de comentários do jornal. Uns e outros trocando “argumentos”, do ataque violento à defesa pungente. Tudo por causa de um post no facebook. A coisa seria cómica se não fosse o caso de ser tão repetitiva que até perde a graça.
Conheço o autor do post há muitos, muitos anos. Os suficientes para saber que gosta de uma boa polémica. É apenas mais uma e não será, certamente, a última. Como adivinho, qual Zandinga, que entretanto esta passa e outra qualquer, com outros protagonistas, surgirá dentro de dias. É que o Portugal dos afectos tão ao gosto do nosso Presidente da República ainda não chegou às redes sociais…
“Filha minha dava-lhes com a cadeira na cabeça.”
“Nada que me espante” num vereador da cultura rasca.
Na verdade, o que tento ensinar às minhas filhas (e tenho três) é que devem procurar triunfar pelo seu próprio mérito, e ser encaradas antes de mais como “pessoas” – seres únicos e individuais, e não como “mulheres”. Se nada deve distinguir as mulheres dos homens, se até na constituição isso já está consagrado, acho que a única preocupação de todos (mulheres e homens) deveria ser apenas a de fazer cumprir a lei e procurar a justiça, e a prevalência do mérito individual, seja qual for o sexo.
Sou mulher e estou de acordo com Mário Neves. A discriminação positiva não deixa de ser discriminação.
Se houvesse Dia Internacional do Homem, não me desagradaria tanto o Dia Internacional da Mulher, tal como há Dia do Pai e Dia da Mãe. Assim, é mais uma ocasião para mostrar que, afinal, é diferente o que a própria Constituição consagra como igual e que deve ser tratado com equidade.
‘Felicidade bovina’ faz-me lembrar:
-O sr. 1º. Ministro ultimamentea nda mais manso!
-Manso, é a tua tia!
Corrijo: anda.