E depois do adeus, restará alguma coisa?

[Rui Naldinho]

Muita gente se tem questionado sobre uma possível mudança de líder no PSD após as eleições autárquicas de 2017, lá para finais do Verão. Era bom que as pessoas não se iludissem muito com essa possibilidade, ainda que remota. Isso pode vir a acontecer. Não é impossível, de todo. O pior é o que resta no dia seguinte às eleições autárquicas, do partido de Sá Carneiro.

Este PSD é um partido de incompetentes. Cumprir de forma acéfala o programa da Troika, não mostrou competência. Quando muito demonstrou subserviência. “O meu cão também me vai buscar o Jornal ao quiosque todos os dias, e não é por isso que ele passou a ser inteligente.” É apenas um animal de estimação fiel ao seu dono. Por muito Pavloviano que seja, e é-o sem sombra de dúvidas, ele continuará sempre a ser apenas reflexivo, obediente, quanto mais não seja aos mimos e guloseimas que lhe vou dando. “Eu é que sou competente, em suborná-lo!”

Este PSD tem muita juventude. Alguns doutorados. Bolseiros que depois de terem garantido uma pós graduação nos “States” ou nas ilhas Britânicas, regressaram à terra natal, mas estavam em vias de ficar no desemprego, como tantos. É a vida, diria Passos Coelho. Mas não para todos. Há sempre um partido político disposto a albergar esta gente com “fominha” de tacho!

Qualquer nova liderança do partido laranja, após uma estrondosa derrota nas autárquicas, caso não haja entretanto uma catástrofe financeira na Europa, que nos ponha a todos a pão e água, terá muita dificuldade em ressurgir das eleições com um discurso novo, fora do registo habitual, e isto se Passos Coelho resolver sair. A ver vamos.

O Centro Direita representado pelos “sociais democratas” deslocalizou-se no seu “modus operandi” claramente para o liberalismo, em especial naquilo que ele tem de pior, a desregulação de quase todos os sectores económicos de actividade e a redução do Estado Social ao mínimo. Basta ver o que foi a governação do PSD nos anos da Troika. Mas também se deslocalizou no discurso político, cada vez mais radical e à direita. Um discurso moralista, tradicionalista, colocando novos contra velhos, funcionários públicos contra privados, esquecendo-se que a maioria dos cidadãos tem dentro dos seus lares, ambas as coisas. Foi esse passo em falso dado pelo núcleo duro do PSD para dividir os portugueses, que proporcionou à Geringonça ocupar o espaço vazio deixado entretanto, primeiro nas suas franjas, e já com a governação em marcha, todo o imenso centro desocupado por quem abdicou definitivamente da social democracia. Foi a própria esquerda, que numa atitude pragmática resolveu por de lado velhas querelas ideológicas, as quais virão á tona da água um dia, mas que nesta era Dijsselbloe(niana) da Europa como Comunidade de Estados, se conteve em face dos ataques de que somos alvos quase todas as semanas, com a conivência dos nossos aleivosos mamões, para quem a crise passa sempre ao lado.

Por esse facto, uma nova liderança do PSD terá muita dificuldade em recolocar-se no seu centro político do debate, reconciliando-se com o seu eleitorado, até porque ele hoje está ocupado por outros inquilinos.

O que é que nos vão propor a seguir a Passos? O que nos oferece a Geringonça actual? Ou vão tentar baralhar de novo e dar cartas como se estivéssemos distraídos, e já não conhecêssemos o jogo?

Das duas uma, ou esperam que o contrato de arrendamento deles termine; não vejo o PSD com paciência para isso, ou correm o risco de ir viver para debaixo da ponte por uns tempos, se não quiserem continuar a morar na casa da direita radical e reacionária que Passos Coelho e a sua equipa lhes construíram, a pensarem talvez numa vida longa de governo, até que Sócrates “morresse nas masmorras” da Penitenciária de Évora.

A coisa parece estar a correr-lhes mal. Se calhar nada do que eles pressagiaram irá acontecer. E isso paga-se caro!

Comments

  1. Ferpin says:

    Sobrestima o povo.
    Se o PSD escolher um tipo que não tenha estado no governo PAF nem no núcleo duro da direção de passos, faz reset e começa a prometer amanhãs que cantam.
    Vejam a cristas. Esteve no governo, já apareceu a considerar abaixo do mínimo algumas medidas de reposição de coisas que ela própria cortou, e não está nos zero% de intenções de voto que mereceria.

    • omaudafita says:

      Infelizmente é assim, e os media ajudam muito.Ainda me lembro da guerrilha contra o Sócrates…

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