Há uns anos, no tempo de Sócrates – era, portanto, o PSD oposição – tive uma série de audiências parlamentares devido a um problema numa empresa. Foi uma oportunidade para constatar a inutilidade dessas audiências, as quais tiveram como expoente máximo uma pergunta ao ministro da tutela por parte do Bloco de Esquerda. Era o máximo que poderia ser feito e apenas um dos partidos o fez. E quanto ao CDS e ao PS, estes nem se dignaram agendar uma reunião.
Vem esta história a propósito dos dois deputados, Carlos Abreu Amorim e Michael Seufert, que partilharam uma notícia de 2012 como se fosse de hoje. Uma manipulação que é uma facada na credibilidade de qualquer deputado, quando ainda a preservam. Estes dois não se importaram com isso. Acontece que assisti a esta mesma senda pela demagogia assente em mentiras, fake news, como agora se lhes chama, numa dessas audiências, no caso com o PSD.
A história é rocambolesca. Entregámos o dossier aos dois jovens deputados que nos receberam, tão jovens que ainda nem barba tinham, e tentámos expor o caso.
– “Ah, isso é o ministério do Teixeira dos Santos “, disse um deles convictamente. Não era.
– “Senhor Deputado”, aprontei-me eu a esclarecer, “a tutela é do Ministério da Defesa”. De notar que a audiência estava a ter lugar na Comissão de Defesa Nacional. Não saberiam os deputados a que reunião estavam a ir?
– “Não, não, é Finanças”, insistiu. Lembrei-lhe, didacticamente, em que Comissão estávamos e preparava-me para continuar, assumindo que o erro tinha sido reconhecido.
– “O Teixeira agora manda em tudo”, sacou o deputado, incapaz de reconhecer que errara. “Aquilo é só cortes. Quando formos para o Governo daremos a volta a isto”. Era para isto que eles ali tinham ido, para passar a mensagem política. Ouvir o que ali nos levara era irrelevante.
Como é que dois bacocos, que não conheciam as responsabilidades dos ministérios nem a que reunião estavam a ir, poderiam ser deputados é que ainda se está para ver. Na verdade, não há segredo algum – chama-se eleição para a Assembleia da República através de listas de deputados, construídas pelos próprios partidos. Esta realidade explica, também, como é que outros dois deputados (os que partilharam esta foto), Amorim e Seufert, acabaram eleitos, quando o seu anterior maior feito foi a militância activa e intensa em dois blogs.
Irão eles, contrariamente àqueles com quem me cruzei na audiência parlamentar, admitir o erro? Não me parece, até porque nem contraditório admitem nas páginas Facebook de um e do outro. Não vá a realidade estragar uma bela história.
Adenda
Este texto foi escrito assumindo que Michael Seufert seria deputado na presente legislatura, o que está errado. Deixou de ser deputado em 2015-10-22.
https://www.parlamento.pt/DeputadoGP/Paginas/Biografia.aspx?BID=4157
Carlos Abreu Amorim tem muito pouco jeito para estas tarefas. Já nos habituou há muito a este estilo de fazer política, recheada de manipulações e mentiras grosseiras, onde nem o benefício da dúvida nos é dado como espectadores. Num estilo do “ou vai ou racha”, utilizando todos os meios ao seu alcance para impor a sua narrativa, o Carlinhos do Norte nem se dá conta das asneiras.
O problema dele e o de muitos outros, Michael Saufert incluído é que a maioria dos mortais, neste país, não está dispostos dar-lhes crédito. E isso basta-me.
Porque apesar da comunicação social estar recheada de spin’s laranjas, há uma realidade que os contraria. O único abono de família que lhes vai restando é a novela Sócrates, e mesmo essa já teve melhores dias.
Deputados que recebem directivas do partido/governo. Principescamente tratados mas sem autoridade, nem vergonha.
Por acaso, lembro-me perfeitamente desta reportagem, da carta e de, por ter dois filhos que em breve atingirão a maioridade e terminarão os estudos, até ter chorado – sim, fui piegas. E como eu, mais pessoas decerto se recordarão da reportagem. O pior é que muitas mais já não têm a peça na memória. E é disso que estes “tangerinas” tiram partido, de forma pouco séria.