É evidente que a esquerda que votou Mélenchon na primeira volta só tem, por mais que lhe custe, uma escolha a fazer – votar no neo-liberal Macron. O espectro de uma possível vitória de Le Pen é horripilante.
A esta evidência não se pode deixar de lembrar uma outra anterior que não se cumpriu – a de Hamon, face à vergonha do esperado, ter desistido a favor de Mélenchon!
Com efeito, o Partido Socialista Francês recusou-se a infligir uma derrota pesadíssima a Marine Le Pen, evitando que ela acedesse à 2ª volta das eleições presidenciais! Se o PS estava preocupado com a extrema direita, deveria comportar-se em conformidade, proporcionando uma decisão final entre Macron e Mélanchon, com evidente vitória do primeiro, por dois motivos evidentes: a derrota de Le Pen em toda a linha e a obrigação de a extrema direita e o centro direita serem obrigados à humilhação de ter de escolher entre os dois!
O PS francês assim não quis, preferiu arriscar que Marine Le Pen passasse à 2ª volta. Estranho é ter o desplante de endereçar lições de moral aos eleitores de Mélenchon, inclusivamente insultá-los ao equipará-los à extrema direita!
Há décadas que a Social-Democracia foi substituída pelo Neo-Liberalismo nos partidos socialistas europeus, muito particularmente desde que Olaf Palme os deixou órfãos em 1986, aquando do seu bárbaro assassinato. Após tantos anos de descalabro nesta deriva neo-liberal, ainda não compreenderam que são, juntamente com o Partido Popular, os grandes responsáveis pelo descrédito dos cidadãos nesses dois partidos e, consequentemente, no sistema. Primeiro, perseguiram os abstencionistas com todos os epítetos possíveis e imaginários, agora espantam-se com o populismo e tudo isto sem se questionarem, muito menos se responsabilizarem pelo facto de terem deixado de cativar e mobilizar os cidadãos em torno das suas políticas!
O que é evidente à vista desarmada, é que os socialistas entendem que toda a esquerda deve ser obrigada a votar neles em caso de perigo, mas na mesma situação de periculosidade nunca entendem ser sua obrigação votar na esquerda mais bem colocada para derrotar a direita.
Lógica? A da batata, quiçá!
Tratem os socialistas de pregar lições de moral para dentro dos seus partidos, de se afastarem das políticas neo-liberais e de se colocarem numa rota de refundação de ideais em torno da Social-Democracia, expoente máximo do desenvolvimento económico e social de que a Europa já foi paradigma.
Excelente texto. Acima de tudo pela racional e proverbial sensatez na análise que você faz aos desvios socialistas e sociais democratas ao seu ideário, e a uma certa hipocrisia desses partidos para com o seu próprio eleitorado.
“Ama-me, mesmo que eu te ponha os cornos!”
Esta tem sido a sigla dos Partidos Socialistas nas últimas décadas.
Estavam à espera de quê? Mimos!
O que é hoje o nosso BE, senão um partido de filhos atraiçoados e bastardos do socialismo e da social democracia? E se lhe somassem o Livre, Tempo de Avançar, etc, aquilo ia lá para os 15%
O PS francês foi tomando decisões desastradas desde o início da sua governação, esquecendo -se de dar o tal “murro na mesa da globalização” e dizer aos seus interlocutores na Europa e lá fora, que ela não foi feita para criar pobreza a Ocidente, a comecar pela desregulação dos mercados, apenas porque todos desejávamos melhorar a vida dos povos a Oriente e a Sul.
A somar a isto tudo, aquilo foi um sucedâneo de peripécias e guerrilhas internas pelo poder. A cada decisão tomada pelos militantes contra o rumo do Partido, a reação posterior das elites, era sempre a pior possível.
Enquanto os Partidos Socialistas não perceberem que eles não existem eleitoralmente para desenvolver as relações capitalistas
de produção, mas sim para as controlar e sociabilizar, dando-lhes um cunho mais igualitário, vão sempre esbarrar no liberalismo.
E para fazerem isso, “já temos no mercado muitas marcas a trabalhar melhor e mais barato”
Não é Dr. Passos Coelho? N’est pas Monsieur Fillon?
Álvaro Cunhal também cerrou um dos olhos e engoliu um sapo…pois.
Só que, apesar de tudo, havia uma enorme diferença entre Mário Soares e Macron. Tendo de escolher entre um e outro (e felizmente não é um dilema que se me coloque) provavelmente focaria em casa, dado que não estou certo de qual será o menos mau. É triste dizer isto, mas é verdade. Será mesmo Macron o menos mau?
O que parece é que os socialistas tiveram mais receio de Mélenchon que de Le Pen.