Um terço da população escolheu o mal. Já ouvi dizer que não se deve culpar o eleitorado; que as políticas até aqui seguidas é que estão a conduzir a este cenário. Em primeiro lugar, chegámos até aqui como resultado de políticas que foram votadas. E, em segundo lugar, o poder é do povo – por enquanto. Use-se.
Em 2002 Jacques Chirac foi eleito à segunda volta contra Jean Marie Le Pen, com 82,21% dos votos. Lionel Jospin tinha sido afastado da segunda volta das eleições, ficando atrás do líder da Frente Nacional, o segundo mais votado.
Desta feita, Emanuel Macron obteve 65% dos votos, contra 35% de Marine Le Pen.
Já nessa altura, muitos franceses tiveram-me optar pelo mal menor, e votaram em Chirac com o slogan : “Votez escroc, pas facho!” (“Vote no escroque, não no fascista!”)
Era bom que olhássemos para os números, hoje. A Frente Nacional subiu para mais do dobro, o seu eleitorado. O pai teve pouco mais de 17%, e a filha obteve 35%.
Se não acordarem, daqui a cinco anos não se queixem!
Um terço da população escolheu o mal? Cruzes credo! Descontando agora a terminologia meio star wars, as contas estão muito mal feitas.
Sim, foi uma terminologia à lá Star Wars 🙂
As contas… são assim, assim. Já explico abaixo.
PS: Mesmo sendo uma terminologia à lá Star Wars, não deixa de ser factual. Le Pen representa o perigo para a democracia.
População: 67 milhões
Inscritos para votar 47 milhões
Votantes: 35 milhões
Macron: 20 milhões
Le Pen: 10 milhões.
Transformar isto em “um terço escolheu o mal” é muito imaginativo.
Mas ainda na véspera lia comentários muito sérios que admitiam o risco da vitória da Le Pen. Como custa muito admitir agora o óbvio, que o Macron teve o dobro dos votos e que, por isso, esse risco esteve sempre muito longe, faz-se estes números.
Tem razão nas contas que faz. Houve muita abstenção; crianças não votam; etc. Sendo um cartoon com legenda, não é para ser lido literalmente, mas sim para representar o crescimento que a extrema-direita tem tido. Em todo o caso, na segunda volta, quem não votou explicitamente (isto é, quem não foi meter o X no boletim) também votou – neste caso delegando a decisão nos outros e dos outros, 35% disseram sim à Le Pen.
Mesmo olhando para os números absolutos, 10 milhões de votos na Le Pen é uma enormidade.
Mais uma coisa, para terminar, para avaliarmos a onda do mal que assolou a França: a França tem 101 départements. Só em dois ganhou a Marine.
http://www.lemonde.fr/data/france/presidentielle-2017/
4 milhöes de votos brancos e nulos (11,5%) do total, mais 3 milhöes que na primeira volta, e mais 1,5 milhöes de abstencionistas que na 1.a volta.
Aposto que säo 4,5 milhöes de entre os 7 milhöes de votantes em Melenchon