Porto e Rui Moreira sem drama autárquico

Vive-se no Porto em estado de serena normalidade, a despeito da recente quezília entre Rui Moreira e o Partido Socialista, agitada pelos órgãos de comunicação social e comentadores de assento garantido pelo poder dominante. Afinal, bem vistas as coisas pelo que se vai dizendo, não se trata de um divórcio litigioso, mas de uma transfiguração em “amizade colorida” – Moreira e Pizarro fazem questão de reafirmar isso mesmo.
Guilhermina-Rego-Rui-Moreira
Os portuenses estão serenos, atendendo a que o tema não é assunto sequer na cidade, a não ser entre nos aparelhos de partidos e de movimentos independentes, uma vez que as eleições estão à porta e estas são sempre um momento de solução, saibam os eleitos corresponder às vontades que vierem a ser expressas. Rui Moreira tem a vitória garantida e acredita que por maioria absoluta, enquanto Pizarro, que naquela noite 2013 em que brindou o PS com uma derrota copiosa, proferindo um discurso patético de alegre vitória, brindará, desta vez, o seu partido com uma, ainda mais expressiva, rejeição nas urnas.

Mas se tudo estava a correr tão bem o que terá levado Rui Moreira a afastar o PS que o ajudou na sua missão?
Há quem afiance que se trata de uma manobra planeada e que, por isso, não passa de um jogo palaciano engendrado por Rui Moreira e Manuel Pizarro. É uma leitura plausível, mas não me convence. Não me convence pela dimensão dos danos que provocou e provocará ao PS na cidade.

Recorrendo ao percurso de Rui Moreira, facilmente constatamos de que se trata de alguém que, politicamente, é um produto dos “media”, construído desde os tempos de comentador de futebol. Depois disso esteve como presidente da Associação Comercial do Porto, um cargo sem muito que fazer e ainda menor responsabilidade, mas que soube aproveitar para granjear ainda maior visibilidade junto dos órgãos de comunicação social. Mais tarde, Rui Rio, na impossibilidade de concorrer a novo mandato, escolhe-o para seu sucessor, nomeando-o para presidente da Sociedade de Reabilitação Urbana Porto Vivo, cargo que renunciou em Novembro de 2012, 10 meses antes das eleições, em guerra aberta com o poder central à época do governo de Passos Coelho.
A sua campanha eleitoral estava então assim iniciada, alicerçada em dois eixos muito queridos às gentes do Porto – emancipação crispada relativamente ao poder central e o restabelecimento de uma relação institucional entre a Câmara e o F.C. do Porto. Tinha apenas um problema que não teria de resolver, mas que alguém se encarregaria de o fazer – o PSD,que apoiava a candidatura de Luís Filipe Meneses, o arqui-inimigo de Rui Rio. Este trata de dividir o PSD do Porto, reunindo muitos filiados e simpatizantes em torno da candidatura de Rui Moreira que recebeu, desde cedo, o apoio do CDS. No entanto, esta divisão do PSD acrescentou um outro eixo importante à sua campanha, também caro aos portuenses: a figura de independente face aos partidos que representam o poder central.

Toda a vida política de Rui Moreira foi construída, sustentada e alimentada por uma estreita relação com os “mass media”, ambiente em que o Presidente da Câmara do Porto é exímio a explorar e a retirar dividendos. Ora, é tendo em conta o seu percurso e a importância que dá, ou sente, por essa relação, que a minha leitura sobre o afastamento do PS se constrói – Rui Moreira não estava a lidar bem com o facto de vários quadrantes partidários, que faziam reflectir o seu ataque nos jornais e televisões, propagarem que a Câmara do Porto era comandada pelo Partido Socialista! Deste incómodo, do qual não sabia como se livrar, atendendo à fidelidade que o PS sempre lhe dedicou ao longo do seu mandato, surge o momento de fraca de inteligência da secretária-geral do PS que Rui Moreira agarrou com toda a gana!
Não é despiciendo salientar neste momento que o Presidente da Câmara não estará totalmente confortável com a sua consciência pois, embora se tenha livrado do incómodo do PS, está grato aos membros desse partido que o ajudaram fielmente durante o seu mandato, compreendendo-se, assim, a necessidade de veicular bastamente a amizade e a fidelidade aos mesmos.

Não tenho a mínima dúvida de que Rui Moreira vencerá folgadamente as eleições, nem eu nem todos os portuenses, com maioria absoluta ou relativa, assim como não alimento dúvida de que na governação da Câmara do Porto, para além de não haver ruptura, haverá continuidade, assegurada por quem a governa desde o tempo de Rui Rio, Guilhermina Rego, libertando os senhores presidentes para a nobre tarefa de relações públicas e de comunicação.

Comments

  1. Ernesto Martins Vaz Ribeiro says:

    Esta guerra entre o Presidente da Câmara do Porto e o PS, faz-me lembrar a opinião formulada por Camilo Castelo Branco sobre o Carnaval da nossa cidade por alturas de 1870.

    Dizia o emérito escritor:
    “Desde que o Carnaval se personalizou em certos indivíduos que entrudam todo o ano, zichando a humanidade, a época guardada pela tradição já não tem o carácter de novidade …”
    E é assim que as coisas correm na nossa Câmara.
    Neste contexto, dá vontade de colocar ao actual Presidente da Câmara a velha questão do malogrado Baptista Bastos : Onde estaria ele. quando uma figura do CDS disse exactamente o mesmo que o PS, no tocante ao suporte partidário da sua candidatura?

    O Sr. Presidente segue o princípio de George Orwell, trocando os animais pelos partidos ( o que nem é grave, diga-se de passagem), ou seja: Os partidos são todos iguais, mas há uns que são mais iguais que outros…

    NOTA: Não defendo o PS, partido que nos habituou a dormir sempre com quem lhe pode conceder o poder … Mas não faz qualquer sentido ver um pretenso “independente” a tentar dar lições de “educação” aos partidos.
    Caiu pela base, qual ídolo de pés de barro e só enganou quem quis ser enganado.

  2. Ferpin says:

    Acho uma estupidez qualquer simpatizante do PS votar no Moreira. É muito melhor ter o Moreira a precisar do PS para governar a cidade (com o escrutínio a que isso obriga), do que ter o Moreira de rédea livre.

    Dr certo modo é como o pais, é muito melhor ter o PS a governar com o escrutínio do be e PCP do que o PS com maioria absoluta obrigado a ceder aos tubarões do costume.

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