A extrema-direita, seja a oficial, seja aquela que se infiltra disfarçada entre conservadores e liberais, atravessa hoje uma das fases mais complicadas da sua estranha existência. E a culpa, em larga medida, é de Donald Trump.
Reparem na contradição: enquanto se masturbam com a diarreia mental diária do presidente norte-americano, que num dia emite uma fatwa contra o mundo árabe e no outro se desloca a Riade para bater continência à casa-mãe do fundamentalismo islâmico, a quem de resto aproveitou para vender cerca de 110 mil milhões de dólares em armamento, estes tipos desenham teorias da conspiração, que mais parecem saídas de um bolinho da sorte chinês, acusando a esquerda, não se percebendo muito bem porquê, de ser uma espécie de suporte ideológico do terrorismo islâmico.
Tem piada: sempre que me cruzo com este discurso bizarro, as fontes com que normalmente me deparo têm origem em sites de extrema-direita ou de fanáticos cristãos que existem nos Estados Unidos e no Brasil com fartura, e que se lhes deixassem faziam da Bíblia lei. Já estou a imaginar a revolução cultural a destruir tudo o que fosse fóssil de dinossauro.
E o que é que sucede? Sucede que, já para não falar do discurso incendiário que Trump e restante entourage usam de forma consciente para alimentar o ódio, os recentes negócios com a Arábia Saudita são um atestado de estupidez para aqueles que defendem que Trump está a combater o fundamentalismo islâmico. A Arábia Saudita é uma ditadura totalitária onde a sharia é a lei. É o único país árabe onde nunca houve uma eleição e onde partidos políticos e manifestações, ainda que pacíficas, são proibidas. Um Estado opressor que reprime qualquer tentativa do uso da liberdade de expressão e que impõe aos seus súbditos o wahhabismo, a corrente mais radical e violenta do religião islâmica, professada igualmente por entidades tão respeitáveis como a Al-Qaeda ou o Daesh. Se existe Estado no mundo que partilha dos mesmos ideais que o mais fundamentalista dos terrorismos islâmicos, esse Estado é a Arábia Saudita. E as suspeitas de financiamento e apoio logístico não parecem ser meras conspirações.
Quem também professa o radicalismo wahhabita, sendo igualmente suspeito de financiar o Daesh, é o Qatar. E ontem aconteceu algo de muito estranho (ou talvez não) por aqueles lados. De forma surpreendente, pelo menos para mim que sou um simples mortal, um grupo de países decretou uma espécie de embargo ao Qatar: Arábia Saudita, Egipto, Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Maldivas, Iémen e Líbia cortaram relações diplomáticas, tráfego aéreo e trocas comerciais com Doha. Liderados por Riade, acusam o governo qatari de financiar e apoiar o terrorismo, o que não deixa de ser irónico, e instam outros países a aderir ao bloqueio. Um bloqueio que, como aventou Miguel Sousa Tavares, cheira a Trump por todos os lados, parece ter como objectivo o reforço da posição da Arábia Saudita como poder regional, o que ajuda a explicar o negócio de armamento, e que terá como finalidade hostilizar o Irão, que de resto se tem vindo a mostrar mais “moderado” que o regime do rei Salman.
O futuro é incerto mas seria insensato descartar a possibilidade de uma guerra no Golfo. Israel esfrega as mãos, o lobby do armamento (a compra da passada semana foi particularmente oportuna) abre o seu melhor champanhe e a própria Arábia Saudita verá com bons olhos ocupar o pequeno, porém riquíssimo emirado. Tudo isto com a benção de Trump, o caçador de islâmicos, e da jihad americana, que sempre alimentou a opressão na região, e que poderá ter acabado de armar a próxima invasão de um Estado soberano no Médio Oriente, a cargo do mais bárbaro dos regimes fundamentalistas. Outra vez.
João Mendes:
Estou curioso em ver aqui o comentário do troll JgMenos.
Irei rir-me muito.
O Menos anda com “insónias”! O Menos anda por estes dias a comentar os comentários postados, às quatro da madrugada!
Ou o Menos se senta penosamente na varanda à espera do Diabo, ele não aparece, e pelas quatro manhã dá-lhe um ataque de raiva, ou o Menos anda por um fuso horário que não o do Aventar, e aí estamos a ver o Menos algures no hotel a correr para o teclado para ler os artigos e os comentários do Aventar.
Digamos que é preciso ser muito néscio, para se andar lá por fora, mesmo em trabalho, e ter como hobby, fazer comentários no Aventar.
“Israel esfrega as mãos…” Porquê? Foi algum israelita que lhe disse? Israel emitiu algum comunicado ou teve alguma tomada de posição sobre o assunto? Ou é simplesmente mais um habitual enunciado do habitual “anti…” de uma certa “elite bem pensante” que se habituou a apontar o dedo a Israel como “fonte do mal”, seja lá pelo que for?
Israel, não é a sacristia do fundamentalismo religioso americano. É a própria Igreja e Dogma!
remeto para o comentário do Ferpin, que subscrevo.
Israel é um estado laico (com muita população confessionalmente judaica, mas nem todos) cercado de estados islâmicos por todos os lados, que o odeiam, já tentaram extingui-lo no passado, e se pudessem o aniquilavam na hora.
É alvo constante de ataques terroristas, desde há muitos anos. É também a única democracia na região. O que tem isto a ver com qualquer fundamentalismo, ao contrário do que acontece com os estados vizinhos, esse sim, ou fundamentalistas ou tirânicos, ou ambas as coisas – todos eles?
O ódio a Israel, além de irracional, é simplesmente preconceituoso e cheira inclusivé a racismo. Na situação vertente, eu volto a perguntar – o que tem Israel a ver com o assunto, e o que tem a ganhar com mais uma guerra e instabilidade na região.
Israel adora países islâmicos em guerra uns com os outros.
Se fosse israelita até compreendia. Se uma serie de tipos que me querem matar andam a matar-se uns aos outros, óptimo.
Até dá uma ajuda quando pode, vide reagan/oliver_north/caso irão-contras.
Portanto, qual o espanto de o nome de Israel aparecer aqui?
Faço minhas as palavras do Ferpin, caro Fernando Manuel Rodrigues.