De poucas-vergonhas está o centrão cheio, Dr. Passos Coelho

Foto via Sábado

Passos Coelho está indignado e tem bons motivos para isso. Esta história do amigo do primeiro-ministro, contratado pelo exorbitante valor mensal de 2.000,00€ para “consultadoria estratégica e jurídica, na modalidade de avença, em assuntos de elevada complexidade e especialização, na área de competência do primeiro-ministro, é uma grandessíssima pouca-vergonha. E não, não é pelo valor da avença. O que não faltava no anterior governo eram especialistas-boys das jotas, sem experiência nenhuma, a levar bem mais que isso para casa.

O problema, e é caso para desconfiar, é que Diogo Lacerda Machado, o tal amigo de longa data de António Costa, estará perto de ser nomeado administrador da TAP, isto após ter participado na negociação da reversão da privatização da transportadora aéra. Conflito de interesses? Se não é, engana bem. E o líder do PSD não parece ter dúvidas:

O mesmo homem que andou a negociar a reversão da TAP parece que vai ser nomeado administrador da TAP, pelo Estado, é uma coisa extraordinária. Tudo isto se faz, esperando que ninguém diga nada. Pois a gente diz. Nós não nos calamos em relação àquilo que consideramos ser uma pouca-vergonha. Isto é uma pouca-vergonha. Não tem outra classificação. E fica tão mal a quem nomeia como a quem aceita [Sic Notícias]

Acontece que a pouca-vergonha está para o centrão como as boas intenções estão para o Inferno. E quando nos deparamos com este grau de indignação, importa não ter memória curta. Assim de repente, recordo-me da pouca-vergonha que foi o caso do ex-patrão de Pedro Passos Coelho, Rogério Gomes, que criou o Instituto do Território, ONG através da qual fez ajustes directos, com dinheiros públicos, a empresas e associações às quais está ou esteve ligado, no valor de 242 mil euros. Passos esperava que ninguém dissesse nada, mas a gente disse: uma pouca-vergonha.

Porém, no capítulo dedicado às danças de cadeiras em que determinada personagem política surge dos dois lados de um mesmo negócio, Sérgio Monteiro é o nome que me vem à cabeça. O ex-secretário de Estado de Passos Coelho, que em representação do consórcio Elos assinou um empréstimo com ruinosos contratos swap associados, foi o mesmo que, uma vez no governo, negociou o resgate desse mesmo contrato, resultando em prejuízos de 152,9 milhões de euros para os cofres do Estado. Outra pouca-vergonha.

Foto: Estrela Silvsa/Lusa@Esquerda.net

Em bom rigor, Sérgio Monteiro esteve no epicentro da criação de várias PPP’s nos últimos anos, na qualidade de director de Project Finance da Caixa BI, nomeadamente no sector rodoviário. O caso da concessionária AELO (Auto-Estrada do Litoral Oeste) é particularmente interessante. Em 2009, a AELO ganhou um concurso público lançado pelo governo Sócrates, para a construção e gestão da A19 e do IC36. Até 2038, o custo desta PPP para os cofres públicos ascende a 2 mil milhões de euros. No contrato, duas assinaturas saltam à vista: Sérgio Monteiro, pela Caixa BI, e Teresa Falcão, pelo escritório Vieira de Almeida e Associados (VAA).

Montagem via Inflexão

Chegado à secretaria de Estado das Infraestruturas, Transportes e Comunicações, Sérgio Monteiro reforçou o seu gabinete com três contratações ao escritório VAA. Entre os escolhidos estava Teresa Falcão, que serviu até Janeiro de 2014, tendo sido exonerada com louvores, assinando no dia imediatamente a seguir um contrato prestação de serviços jurídicos com o gabinete de Sérgio Monteiro, com a duração de dois meses e um valor total de 31 mil euros + IVA. Já o escritório VAA, durante o mesmo ano, obteve mais de 1 milhão euros em contratos celebrados com o Estado. E foi com Teresa Falcão a seu lado que Sérgio Monteiro, então em representação do Estado português, renegociou a PPP concessionada à AELO.

O “senhor privatizações“, como o apelidou o sítio Esquerda.net, cessou funções em 2015, não sem antes ter sido nomeado pelo primeiro-ministro demissionário, o tal Pedro Passos Coelho que agora nos vem falar em poucas-vergonhas, auferindo para o efeito um salário equivalente ao auferido na Caixa BI, apesar de há vários anos ali ter deixado de exercer funções. Depois de vários meses a receber a módica quantia de 30 mil euros por mês para vender o Novo Banco, algo que acabou por acontecer, o resultado parece ser mais um ruinoso negócio para o Estado, que entregou o banco ao fundo abutre Lone Star. Durante o processo, Sérgio Monteiro gastou 16 milhões de euros em assessorias. Adivinhem lá quem figura entre os felizes contemplados? Isso mesmo, o escritório Vieira de Almeida e Associados.

Ele há coisas extraordinárias, e não é só na TAP. Tudo se faz, como disse, e bem, o ex-primeiro-ministro, esperando que ninguém diga nada. Mas a pouca-vergonha, por muito que demore, acaba sempre por vir à tona. Só se lamenta a ausência de consequências reais, mas não será isso que nos fará calar.

Comments

  1. não está mau, não está mau, joão… mas olha que acho que o passos perdeu as estribeiras foi por ver o frasquilho nomeado, depois de andar a elogiar a geringonça 😀

  2. Rui Naldinho says:

    Extraordinário não é o Diogo Lacerda Machado ter sido nomeado para a TAP, como vogal, em representação do Estado, num negócio que o PSD tentou à viva força concretizar, mesmo já depois de afastado do exercício da governação, no seu pleno direito, deixando o ónus de um possível fracasso na recuperação económica da empresa, para o cidadão, aliás, na linha das privatizações da EDP e da ANA. Em meu entender, se há pessoa indicada para essa função, na TAP, é a pessoa que negociou em nome do Estado essa reversão. Uma espécie polícia. Saiba ele cumprir o seu papel, como o fez até aqui.
    Para mim, extraordinário é o PSD estar metido nos negócios no sector da banca até à medula, ou será mais o tutano, os bancos terem falido quase todos, e não estar nenhum gajo preso. Isso é que é extraordinário!!
    Extraordinário é o país ter um ex Secretário de Estado dos transportes e comunicações, a vender um banco, dito Bom, que pasme-se, chegou ao fim e foi “dado de borla” a um fundo norte americano.
    Extraordinário é o anterior governo do PSD ter privatizado os estaleiros de Viana do Castelo, falidos, a uma empresa, a Martifer, que está tecnicamente falida.
    Extraordinário é o PSD ter na EDP dois ex ministros das Finanças, Eduardo Catroga e Braga de Macedo, com 70 anos de idade, a fazerem não sei o quê?
    Extraordinário é o PSD dizer que cortou nas rendas das PPP’s, 4 mil milhões de euros, e o que vemos é por exemplo, autoestradas portajadas com o piso degradado, sem conservação das bermas, como acontece na A25, A28, A29, etc.
    Extraordinário é o PSD dizer que cortou 2mil milhões de euros nas Rendas da EDP, e os portugueses não sentirem os seus efeitos.
    Podia dizer aqui uma infinidade de coisas extraordinárias que o PSD fez, mas vou-me poupar a isso, porque se a memória dos povos é curta, estes fizeram-nos o favor de nos deixar a “memória em carne viva”.
    Acho no entanto extraordinário, isso sim, que o PSD ainda não tenha percebido, que enquanto nos lembrarmos de Passos Coelho, Paulo Portas, Victor Gaspar e Maria Luís Albuquerque, será difícil que alguém lhe dê ouvidos, a não ser os do costume.

    • Manuel guimarães says:

      mas os do costume são de mais. E compraram a CS toda. Incluindo a estatal.

  3. JgMenos says:

    Mais cedo ou mais tarde a mama não faltará aos fiéis.

    • José Peralta says:

      Ó “menos” !

      Tal como a do aldrabão-mór coelho, a tua diária “prova de vida”, está cada vez mais débil !

      Então perante a completa e bem pormenorizada avalanche de argumentos de João Mendes, tu fazes esse comentário pífio sobre “mama” e “fiéis” ?

      Que não diz nada e coube numa só linha…e incompleta, “menos” ?

      Vá lá ! Tem um arreganho, um estertor, nem que seja o último, enche os pulmões e…CHORA !

      • JgMenos says:

        Gosto de te ver contente, Peralta, de mais alto vais cair.
        Quando o Macron começar a reformar a França vais ver a geringonça a geringonçar.

        • Paulo Marques says:

          Quando falhar redondamente e os franceses pararem o país quero ver esse discurso para me rir outra vez.
          Ainda não percebeste que o neo-liberalismo não funciona em lado nenhum.

        • José Peralta says:

          Ó “menos” !

          Macron ? Eu estava a comentar sobre o aldrabão coelho…e o exemplar desmascaramento das suas poucas-vergonhas…

          Mas sobre isso…

          Quanto a caír, não compres tu um pára-quedas, e vais ver o trambolhão !

          (O sacana do conversor do “malaca casteleiro” já me obrigou a re-escrever PÁRA duas vezes ! “Quer” que eu escreva PARA, o estafermo…

          • JgMenos says:

            Ao fim de tantos anos de abrilescos e geringonços ainda me imaginas a precisar de para-quedas? És um optimista Peralta.

      • Ó Peralta, não dê trela ao Menos. Se deixarmos o olharapo a falar sozinho pode ser que ele se vá embora.

        • José Fontes says:

          Ó Rui:
          Desista dessa ideia.
          Este troll é pior do que crude no fato.
          Não há detergente que o tire.
          E este olharapo ninguém o tirará daqui.
          Até o Aventar acabar ele marcará o ponto diariamente com as suas provocações.
          Eu conheço-o bem do Arrastão (onde era tonibler e JgMenos, dizendo-se simpatizante da FN, do LePénis, e ex-emigrante em França).
          E conheço-o do Ladrões de Bicicletas, onde é José.
          O João Pires da Cruz é um fiel militante da PAF, um devoto do Coelho, que defenderá até 10 anos depois de ele ter sido politicamente enterrado.

  4. joaovieira1 says:

    A oposição de Passos Coelho ao governo continua dura, sem propostas que possam beneficiar Portugal como um todo, privilegiando o acessório e a trica, demonstrando, mais uma vez, que o “vazio em que Passos é mestre” visa, apenas, a atracção, do “interesse guloso” de privados, nacionais e/ou estrangeiros, virados, sobretudo, para o favorzinho governamental, a especulação e o lucro fácil, em detrimento do crescimento e desenvolvimento do País e da construção de um futuro melhor da população que mais sofreu com a crise. A omissão, meias-verdades e hipocrisia que Passos usa, sistematicamente, são as “águas turvas” onde “gosta de nadar”. Viu-se, agora, com as nomeações para a nova administração da TAP, onde acusando A.Costa de falta de ética e desvergonha ao nomear o “amigo” Diogo Lacerda Machado como vogal, esconde, com total despudor, os outros dois nomes: o novo presidente, Miguel Frasquilho, do PSD e Ana Pinho, ligada aos interesses da Arsopi e Colep de Ilídio Pinho.

    • JgMenos says:

      Tenha a bondade de me recordar as propostas que o PS fez na oposição e que poderiam beneficiar o país.
      Provavelmente se alguma fez nem na geringonça as cumpriu.

      • Paulo Marques says:

        Bastava ter sido contra tudo o que anterior governo fez para ter melhores propostas.

  5. Ferpin says:

    O passos coelho é um nojo. Repugna ouvi-lo falar deste assunto, pelas razões que o artigo detalha e se calhar muitas outras pulhices dele não citadas, bem como a trajectória de mrcia.ira Amaral, Ferreira Amaral, etc.

    Mas, embora este caso não tenha nada a ver em termos de pulhice e filhadaputice com os citados, já que o dito Lacerda não vai trabalhar para privados para receber as prebendas de ter roubado o estado, mas sim continuando a representar o estado (presume-se que defendendo-o dos privados), preferia que tivessem nomeado outro alguém que não tivesse estado na negociação de reversão.

    A PAF é uma seita de ladrões em quem nunca votaria. É patético ouvir o passos falar.
    Mas preferia, enquanto Socialdemocrata, que não se nomeasse agora o tipo que negociou a favor do estado a reversão. Imagine-se que o Lacerda deu o seu melhor, mas descobre agora que houve uma decisão ou detalhe menos bem decidido a favor dr estado, e que interessa pugnar. Fá-lo-á, sabendo que o eventual erro foi cometido por ele mesmo?

  6. Mesmo ideologicamente distantes, muitas vezes por palavras diferentes verifico que estamos de acordo, mais um caso,
    https://cefariazores.wordpress.com/2017/06/12/da-caixa-e-pt-no-passado-a-tap-atualvicios-antigos/

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