SIRESP para totós

A ideia nasceu no governo de Guterres. A PT começou a montar antenas a título experimental e sem custos no governo do Durão Barroso – foi a estratégia do facto consumado. Quando veio a concurso, não surpreende que os restantes concorrentes dissessem que este já estava decidido. A seguir, o governo do Santana Lopes adjudicou, já em gestão. Por fim, o Costa assinou novo contrato, depois de ter cancelado o anterior, mas mantendo o essencial.

Resumidamente, foi isto. Com mais uns pozinhos engraçados, tais como a forma como isto foi cozinhado durante o governo de Durão Barroso.

Entretanto, a sabedoria negocial do consórcio (PT, GES e SLN) foi criando uma dependência funcional da sua solução no Estado. O SIRESP começou a ser instalado “a título gratuito e provisório” em 11 estações de comunicações, desde as vésperas do Euro 2004 – ou seja, ainda antes de Sanches assinar o acordo. “Para aproveitar esta oferta, a PSP e a GNR terão adquirido, em 2004, inúmeros terminais em quantidade que a IGF desconhece”, lê-se num parecer, de 2005, daquele organismo público. “A GNR não comprou nada”, explicou ao PÚBLICO (em Agosto de 2005) o porta-voz da GNR, Costa Cabral, “foi o MAI que disponibilizou esse equipamento”. Ou seja, ainda antes de Sanches chegar a ministro, no mandato de Durão Barroso. [Público, Paulo Pena, 22/07/2017]

A título gratuito não foi bem o caso. Um pagamento diferido e com generosos juros será mais correcto.

Este caso do SIRESP, entre todas as promiscuidades possíveis que já vimos entre os saltitões Público-Privado, consegue, mesmo assim, suplantar todas as outras com o caso Daniel Sanches. Este fazia parte da Sociedade Lusa de Negócios antes de entrar no governo de Santana Lopes. Enquanto esteve no governo, já em gestão, adjudicou o SIRESP à SLN. E quando saiu do governo voltou à SLN. E o engraçado disto tudo foi o Ministério Público nada de estranho ter encontrado.

Comments

  1. Ernesto Martins Vaz Ribeiro says:

    Caso para dizer que não há almoços grátis …
    E com o Arco da Governação, sempre que haja alguma dádiva, a primeira coisa a fazer, é desconfiar e a segunda é ir ao cardápio dos políticos do PSD, CDS e PS e começar a apostar no nomes das pessoas que irão “gerir” os temas.
    Até se podia ganhar dinheiro com isto… porque são sempre os mesmos, excepto quando embarcam para a grande viagem… sendo logo substituídos por um qualquer outro, desde que pertença à tribo.
    O Ministério Público nada de estranho encontrou, porque o caso, tal como o dos bancos, foi abafado pelo poder político, a tal promiscuidade com a Justiça que toda a gente sabe que existe, mas que todos fazem de conta que não sabem existir (presidente da República incluído).
    E mesmo quando se começa a esgravatar, as contra correntes, os pedidos de audição, as “comissões de inquérito” e os recursos são em tal montante que facilmente os processos se transformam em volumes de 20 mil ou 30 mil páginas que só são úteis para quem vende papel … a tal pescadinha de rabo na boca.
    Mas pronto: sejamos “totós” e continuemos a votar na “troupe tribal”. Assim temos motivos para que a adrenalina corra mais abundantemente, pois não parece que o caso do fisco do Cristiano Ronaldo ou o dos “mails” do Porto, sejam suficientes. Nós somos um povo muito mais exigente e por isso, gostamos que nos fecundem politicamente.

  2. Rui Naldinho says:

    “E o engraçado disto tudo foi o Ministério Público nada de estranho ter encontrado.”
    Pois, Jorge! De facto, neste país, o normal é tudo acabar como no início, sem uma explicação razoável.
    Processos com vários arguidos, milhares de páginas com escutas, depoimentos, contradições e acusações, que culminam ao fim de décadas sem uma condenação.
    O MP dificilmente encontrará algo de substantivo em face da lei, porque o legislador tratou antes de abrir uma série de janelas de oportunidade para que tudo fosse possível.
    Basta perceber como foi cozinhada durante anos entre PS e PSD a lei das incompatibilidades dos titulares de cargos públicos, sem que ninguém, para além dos próprios interessados, vislumbrasse que aquilo era uma farsa.

  3. Falar a verdade não custa nada... says:

    Quando o mar bate na rocha, que se f… é o mexilhão!

  4. JgMenos says:

    A SLN foi criada como uma plataforma de rotação de políticos com elevado potencial como gestores.
    Assegurado o puteiro financeiro BPN, nada parecia estar fora desses yuppies abrilescos com grande vocação política que aí haveriam de serem compensados pelos enormes sacrifícios de fazerem uns turnos na função pública.
    Encontraram um coirão que lhes nacionalizou o puteiro, para que não se perdesse um tão elevado potencial!

Trackbacks

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