Educação, municipalização, privatização, corrupção

A municipalização da educação é mais um meio utilizado por este governo, num processo iniciado anteriormente, para desresponsabilizar o Estado numa área estratégica em que deveria ter um peso muito forte, livre das pressões do lucro ou das ingerências dos caciques autárquicos.

Durante muitos anos, os senhores do mundo têm andado a propagar a ideia de que tudo o que é estatal é mau e inimigo da liberdade individual e, sobretudo, da liberdade dos mercados, essa entidade sumamente boa e sem mácula que, deixada em paz, trará, imagine-se!, os amanhãs que cantam, quando, na realidade, a busca descontrolada do lucro é mais de meio caminho andado para o desrespeito pelos direitos individuais e pelo bem comum.

Num país em que os autarcas condenados por corrupção são incensados e os professores são, também por culpa própria, constantemente vilipendiados, a municipalização da educação é uma realidade cada vez mais próxima, mesmo que se saiba que isso implicará mais uma machadada na autonomia das escolas, expressão esvaziada por ser tão repetida e nada praticada.

As câmaras prosseguirão, portanto, esse trabalho sujo e comprarão serviços a empresas, sendo que, em muitos casos, não será difícil descobrir relações familiares e/ou partidárias pelo meio.

Os professores, como se sabe, correspondem, na prática, à classe profissional que menos sabe sobre Educação, pelo que a sua voz continuará a ser ignorada. O autarca todo-poderoso, pequeno nero da sua roma, exercitará um alegre marialvismo sobre as escolas, porque, seja como for, os professores são uma gente que deve ser dominada e o nosso presidente, mesmo que roube, faz.

Os professores e os sindicatos limitam-se, entretanto, a sobreviver, protestando baixinho, pouco e mal, não cumprindo, afinal, o papel que lhes deveria caber.

Este governo de direita apoiado por uma esquerda que tem medo de outro governo de uma direita ainda pior mantém e reforça uma série de factos consumados. A municipalização da educação é uma agressão entre muitas outras que já vêm, no mínimo, do tempo de José Sócrates, tudo muito bem reforçado por Passos Coelho e más companhias. Não será uma tragédia comparável à de Pedrógão Grande, mas é mais uma prova de que somos inimputáveis.

Comments

  1. Rui Naldinho says:

    Quando eu era puto, e já lá vão umas décadas, a Escola Pública servia de padrão no ensino. Era uma referência.
    Os colégios, e eu andei num, uma parte da minha vida, eram para os cábulas. Os bons alunos não necessitavam de ir para os colégios, exceptuando-se algumas localidades onde a Igreja tinha estabelecimentos de ensino. Nessas localidades a escola pública limitava-se apenas aos primeiros anos de escolaridade.
    Os livros eram editados pela ASA, Porto Editora, Livraria Figueirinhas, Almedina, etc. Eles eram feitos por professores metodólogos, experientes, com uma sapiência de fazer corar alguns catedráticos de hoje. Tive professores que eram verdadeiras enciclopédias.
    Engraçado, nesse tempo os alunos do ensino privado eram obrigados a fazer exames nas escolas públicas, e não podiam dispensar-se de os fazer. Uma exigência do poder político. Mesmo os que vinham dos colégios privados religiosos. Na melhor das hipóteses, depois das provas escritas, esses alunos dispensavam das provas orais, caso a nota fosse superior a doze valores.
    Não sou um saudosista, nem podia ser, mas também não sou um adepto da bandalheira. A começar pela desresponsabilização do Estado.
    Com a Cavaquização do ensino, vulgo liberalização do mercado de oferta escolar, no secundário, seguida do universitário, a Academia agranelou de vez. Banalizou-se no pior sentido da palavra. E agranelou, porque ensinar, e consequentemente, apreender, deixou de ser uma exigência cívica, cultural e científica, para passar a ser um negócio, onde o importante é vender um canudo ao melhor preço, mesmo que aquela merda não sirva para nada.
    É óbvio que no meio desta confusão, ainda se encontram fábricas de saber. Usinas onde se produz inovação e conhecimento, mas começam a rarear. E a breve trecho, até as boas escolas e universidades se verão obrigadas a vender a alma ao Diabo, para sobreviver.
    A municipalizaçao do ensino não passa do último patamar do processo de Cavaquização do ensino secundário, do qual Sócrates, Coelho e Costa são adeptos, mas não assumem, sob o pretexto da proximidade entre eleitos e os cidadãos. A ideia de que a Autarquia conhece melhor os problemas das suas gentes, pode parecer genial, mas não é mais do que um mero passa culpas, para a desormentação que virá a seguir.
    Mas, vendo bem, até nem parece muito má, esta medida. Num país de boys, para quê uma boa academia, exigente e dirigida para o conhecimento, se aquilo vai acabar tudo na filiação partidária, o vendeiro diploma para o almejado emprego.

    • Rui Naldinho says:

      … o verdadeiro diploma, que dará acesso ao tão almejado emprego.

    • ,,,subscrevo totalmente esta sua análise, Rui Naldinho, com a desilusão, revolta e tristeza com que verificamos tudo isto !

      • Rui Naldinho says:

        Palavras doridas, de quem sabe o que é ensinar, sem estar preocupada com rankings.
        Mas a vida tem sido uma verdadeira provação para os professores.

        • ….mas eu não sou nem nunca fui professora, sou simplesmente cidadã atenta e com inquietações

          • Rui Naldinho says:

            Então, peço desculpa pelo meu lapso. Mas fiquei com essa ideia, de facto.

  2. Não sei o que é a “municipalização da educação”, o que significa este conceito.
    Conheço o conceito de educação e o conceito de ensino e de aprendizagem.
    Estou certo que a educação é uma competência primeira da família (mãe, pai, avós…)
    Porque não se faz a familiarização da educação!!!!???
    Quanto ao ensino, essa competência é dos professores. Os políticos deviam ser apenas facilitadores desta competência.
    Toda a gente percebe de ensino…!!!???
    A aprendizagem é uma disposição dos alunos.
    Colocar autarcas ligados a partidos e a grupelhos de alegados movimentos da sociedade a decidir sobre educação, é uma interferência abusiva na função dos pais, da família e da sociedade enquanto tribo inculcadora de princípios e normas. Dar espaço políticos para os autarcas decidirem sobre ensino é a mesma coisa que me colocar a decidir sobre viagens à Lua.
    Quem vos manda a vocês “sapateiros” (autarcas) tocar rabecão?!
    Os partidos foram capturados por imbecis e oportunistas que têm governado todos os outros por omissão e falta de engenho de todos estes.

  3. JgMenos says:

    «mais uma machadada na autonomia das escolas, expressão esvaziada por ser tão repetida e nada praticada.»
    A luta dos professores pela autonomia das escolas é das mais heroicas lutas jamais travadas por corporações com pleno sentido da sua missão.

    São manifestações de todo o tipo – desde a passeata à greve – é um corpo de doutrina construído com uma forte participação dessa classe entre todas unida na sua alta missão.
    Só fazem intervalos para dar banho ao cão!

    • José Fontes says:

      Fala quem sabe, por causa dos profs. deves tomar banho todos os dias.
      Coitado do boby, pede-lhes que não usem champô muito agressivo senão ainda ficas sem pêlo.

  4. Maria Sousa says:

    Municipalização da educação? Fantástico! Escola só para ensinar? Não! Rentabilize-se o espaço! Dava jeito uma loja do cidadão! Vamos nessa!
    http://public.vivacidade.org/informacao/camara-avanca-com-intervencoes-em-jovim/

  5. Graça Gião says:

    TODOS OS PROFESSORES UNIDOS DEVERÃO AFIRMAR: NÃO À MUNICIPALIZAÇÃO!

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  1. […] da metáfora em que a raposa toma conta do galinheiro. É assim nas Forças Armadas, é assim na Educação, é assim na Saúde. Ou como escreveu Saramago: “privatize-se também/a puta que os pariu a […]

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