Com Esopo, parto como cheguei

“Os mentirosos conseguem apenas uma coisa: é a de ninguém acreditar neles quando disserem a verdade.” (Esopo)

 

Foi esta a citação com que abri, no dia 31 de março de 2009 o meu primeiro texto no Aventar.

Naquele tempo disse ao que vinha:

“Ao que venho… Venho Aventar. Avento desde Vila Nova de Gaia. Sou professor e costumo frequentar a margem esquerda da vida, com actividade sindical intensa nos últimos dez anos.”

E, até pela citação que hoje repito, creio poder afirmar que ao longo de 1564 artigos procurei ajudar o Aventar a crescer. Hoje, vejo, com tristeza algo que não gosto. Sempre vivemos bem com as opiniões divergentes e, quer na bola com o Ricardo, quer nas lutas sindicais com o Carlos, só para citar dois exemplos, foi sempre um grande orgulho partilhar uma casa comum com quem pensa diferente de mim.

O que tenho vindo a assistir nos últimos tempos no Aventar não é coerente com a minha forma de estar. Luto diariamente para que todos possam expressar a sua opinião. Sobre Gaia, no Aventar, tem existido desde há uns tempos uma unanimidade quase primária contra o actual executivo municipal.

Discordo profundamente das opiniões que aqui tenho lido sobre o exercício municipal de Eduardo Vítor Rodrigues, o MEU presidente. E se afirmo o vocábulo MEU não é apenas no sentido partidário que ele poderia encerrar, num olhar apenas de camarada, mas MEU no sentido político mais amplo – o exercício do impossível foi feito em Vila Nova de Gaia. Qualquer português sabe como estava esta autarquia há 4 anos, após a presença de LFM.

E, em Vila Nova de Gaia, o olhar das pessoas que constituem esta comunidade é de grande carinho e reconhecimento pelo trabalho do Eduardo Vítor que conseguiu colocar as contas no verde e fazer da autarquia uma pessoa de bem.

Na minha área de trabalho, a Educação, o que foi feito nestes quatro anos é absolutamente singular e marcará, por muitos anos, esta área. Não tenho disso qualquer dúvida.

Mas, repito, opiniões divergentes, são condição base do exercício da democracia.

No entanto, creio que estamos a passar uma linha que não poderia ter sido cruzada.

Costumo dizer aos meus alunos que há uma linha que separa o numerador do denominador. No caso em apreço, diria que há uma linha que separa a opinião dos factos.

Uma visita ao site da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia permitiria esclarecer alguns dos factos que, apresentados como verdadeiros, estão longe de o ser. E, não é por terem sido escritos por um ex- Presidente e subscritos no Aventar que se tornam verdadeiros. E era tão fácil ver a verdade. (1)

No Aventar, não é nossa prática passar do numerador para o denominador com tanta facilidade.

Claro que sou parcial na defesa do Presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia – com ele fui eleito para a Assembleia Municipal de Vila Nova de Gaia. Não me inibe, tal condição, de reconhecer que no exercício do impossível algumas coisas poderiam ter sido diferentes. Claro que sim.

A nossa dedicação a Vila Nova de Gaia é genuína e por isso não gostei de ler um texto onde se colocou em causa homens que, por serem dirigentes de associações e clubes foram apontados a dedo por também serem autarcas de freguesia e membros da equipa municipal. Eu próprio, membro da Assembleia Municipal de Vila Nova de Gaia, faço também parte da Assembleia de freguesia e sou dirigente desportivo, por exemplo. Mas, já o era antes de ser autarca. É que a derrota de Menezes só foi possível porque um conjunto de pessoas, simples e normais de Gaia, se juntaram num projecto. Não cheguei à associação depois.

Creio, caro leitor, que já percebeu o meu ponto.

Ora, diz-me a ética que num colectivo só posso estar quando concordo, genericamente, com a sua actuação. Foi assim na política, é assim na vida sindical, tentarei que sempre assim possa acontecer. Quando percebo que a minha presença é incómoda ou quando percebo que o que me desconforta não irá mudar pela minha acção, está na hora de partir.

Saio triste por ver um colectivo de que sou fundador percorrer estes caminhos, mas a vida é mesmo assim.

Até ao dia em que o numerador e o denominador não se misturarem. Nunca fui de fechar portas, nem abrir janelas e também não sou irrevogável. Mas, por agora, em lágrimas, era isto…

Ricardo, obrigado pelo convite. Foi um orgulho.

 

(1) Adenda com os factos:

– o licenciamento em questão foi aprovado a 31 de julho de 2007.

– o PDM em vigor havia sido aprovado em 1994, 10 de março.

– Estudo de Plano para o local, aprovado em 22 de abril de 2004.

– o novo PDM, aprovado posteriormente ao licenciamento do Cabedelo, foi aprovado em 2009, 12 de Agosto.

– o Presidente Eduardo Vítor Rodrigues não teve qualquer intervenção, participação ou votação, simplesmente porque não era eleito nos órgãos que deliberaram.

 

 

 

Comments

  1. Ferpin says:

    O Menezes que tão importante achou derrotar não é aquele que foi medalhado pelo homem que tanto apoia?

    Conheço mal a obra feita em faia pelo actual presidente, até poderia dar de barato quecaquelas historias de dinheiros, cooperativas e salários da mulher do presidente são perseguições do público, mas, a medalha ao Menezes matou-o, e mata este seu artigo.

  2. Rui Naldinho says:

    Pelo que leio, percebe-se que há um recado para dentro. Com mágoa. Que há um incómodo, ‘por textos escritos por outros autores.
    Há dias saiu o João Branco, do Aventar, depois de ter reentrado uns meses antes. O rastilho foi a conferência de Jaime Nogueira Pinto.
    Hoje sai o João Paulo. Os motivos são as lutas partidárias em Vila Nova de Gaia.
    Não vou querer imiscuir-me nas razões que assistem a cada um deles, aos outros que ficaram, por razões óbvias. Quais são as verdades ou as mentiras, as omissões ou as insinuações, feitas, pouco nos interessa. Cada um que fale por si.
    A política sempre foi a arte da manipulação. A política sempre foi a interpretação emocional das acções, nossas e dos outros, para um mesmo evento. Podemos dar mais do que uma versão dos factos, e ninguém estar a mentir. Basta valorizar um erro, e/ou desvalorizar uma benfeitoria, ou o seu inverso, para que tudo fique virado do avesso. Analisá-los com distanciamento, depende sempre do estado emocional do narrador.
    Mas há uma coisa que não me inibo de escrever. Aliás, já o escrevi aqui, há tempos.
    O período de ajustamento foi demasiado duro, para a maioria dos portugueses. No período que se seguiu ao resgate, mesmo ainda no tempo de José Sócrates, mas exponenciado à posteriori por Pedro Passos Coelho, por opção ideológica deste, os portugueses dividiram-se em dois grupos bem distintos. Os que perderam tudo, ou perderam muito, cerca de 62% das pessoas, e já nem estou a falar dos que emirgraram, e os 38% que perderam pouco, ou mesmo nada, com o ajustamento. Houve até quem enriquecesse nesse período.
    Esse período será um dia estudado por politólogos, psicólogos e outros, que se dediquem ao estudo do comportamento humano. Marcou uma viragem bem visível na abordagem dos fenómenos políticos, por parte dos portugueses. Mesmo que estejamos dentro da mesma área política. Isso é patente neste Blogue, como noutros. Nota-se na comunicação social. Na AR.
    Houve uma mudança psicológica profunda, no comportamento dos portugueses, face ao Poder político e económico, digam lá o que disserem, os especialistas. A Crise despoletada em 2010 com a entrada da Troica, acabou com algumas décadas do “politicamente correto”. Aquela bonomia, só atrapalhada nos períodos eleitorais, finou-se. Aquele, deixa andar, que melhores dias virão, já não existe.
    Há hoje uma clivagem bem vincada na forma como associamos o dinheiro, o mundo da finança, a corrupção, os lobies, o tráfico de influências, aos Partidis do Centrão, e aos interesses económicos instalados, onde o PS, não foge à regra.
    Dir-me-ão, e em que é que isso, é para aqui chamado?
    Muito. Mas mesmo muito.
    Ainda há dias vimos o deputado Manuel do Santos desancar na deputada Luísa Salgueiro, chamando-lhe cigana, porque esta não defender os interesses da cidade e da região onde se insere, a pretexto de uma candidatura à Presidência da autarquia de Matosinhos.
    Hoje, os velhos governantes do PSD criticam de forma evidente e sem quaisquer pruridos os atuais dirigentes. Quem os crítica são precisamente aqueles que foram apanhados pela crise. Os que estão reformados. Os outros, cantam hosanas ao ajustamento, porque vivem já velhos e caducos, a mamar do velho tacho herdado do Centrão. Os Catrogas do regime são vários. Aqui e lá fora.
    Hoje, se estivermos dentro do mesmo partido, do mesmo clube, da mesma associação, mas do lado dos que estão na prateleira, jamais nos sentiremos inibidos a desancar nos que estão nos lugares de decisão. Antes, isso era quase impossível de acontecer, por decoro. Era o politicamente correto. Porque hoje sabe-se que não há amanhã. Há só o hoje. E os que hoje lá não estão, correm o risco de nunca lá chegar. É o salve-se quem puder.
    Mas não teremos sido nós a construir este mundo, tal como ele está?
    Só pode!

    • Rui, o João Branco não saiu por causa da conferência de Jaime Nogueira Pinto.
      Quanto ao resto, há muitas gradações entre o preto e o branco.

      • Rui Naldinho says:

        Foi o seu último texto. As causas remotas desconheço, como deve imaginar.

  3. Darcos says:

    Aqui está mais um motivo para deixar de ler, um abraço.

  4. Ana A. says:

    Caro João Paulo, se deixar de escrever no Aventar, vai deixar de nos fazer o contraponto, a nós cidadãos que, sem sermos políticos na verdadeira acepção do termo, estamos interessados em conhecer as várias “verdades”, pois como muito bem diz o Rui Naldinho, acima: ” A política sempre foi a interpretação emocional das acções, nossas e dos outros, para um mesmo evento. Podemos dar mais do que uma versão dos factos, e ninguém estar a mentir. Basta valorizar um erro, e/ou desvalorizar uma benfeitoria, ou o seu inverso, para que tudo fique virado do avesso.”
    Pense nisso, e não desista de contribuir para o enriquecimento do Aventar!

  5. Bruno Santos says:

    Um curto esclarecimento sobre fábulas ou, como diz o povo, a perna curta da mentira:

    o presidente de Junta de Freguesia é, por inerência, membro da Assembleia Municipal, órgão representativo do município e dotado de poderes deliberativos. Eduardo Vítor Rodrigues foi presidente da Junta de Freguesia de Oliveira do Douro entre 2001 e 2009 e, portanto, membro da Assembleia Municipal de Vila Nova de Gaia nesse período. Espera-se, de um deputado municipal, que saiba isto. Além disso, foi líder da oposição em Gaia desde 2006 até 2013. Foi vereador entre 2009 e 2013.
    É evidente que interveio, participou e sufragou o PDM em causa, enquanto membro da Assembleia Municipal de Vila Nova de Gaia, Vereador e líder da oposição a Luís Filipe Menezes, ao lado do qual, aliás, votou quase tudo.
    A propósito, a obra em questão foi aprovada em 1997 por uma Câmara do Partido Socialista.

    Cumprimentos,
    Bruno Santos

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