Espreite debaixo do tapete, Dr. Passos Coelho

Passos Coelho quer saber, com toda a legitimidade que lhe assiste, como é que o governo conseguiu um défice de 2%. Confesso-me igualmente curioso, tão curioso como me senti, há coisa de dois anos, quando o governo além-Troika de Pedro Passos Coelho anunciou ter conseguido a tal da saída limpa. Claro que, como seria de esperar, o então primeiro-ministro não nos quis contar a história toda. E não terá querido, em 2015 como agora, porque os números têm tanto de implacáveis como manipuláveis.

Mas o tempo passou e lá fomos descobrindo, porque a verdade, ainda que tantas vezes nos sirva de tão pouco, continua a ser como o azeite. Encontramos o Banif, escondido debaixo do tapete, e com ele uma série de outros factos, entre eles que a solução foi sendo sucessivamente adiada pelo anterior governo, de forma a não colocar em causa a tal saída limpa, que tinha, afinal, pés de barro.

Houve uma proposta recusada, sobre a qual nada foi dito aos portugueses, até que os jornais decidiram falar nela, tivemos o governador do Banco de Portugal a recusar documentos solicitados pela comissão parlamentar de inquérito ao caso Banif, e tivemos também importantes papéis a desaparecer, aquele clássico tão nosso. Era suja, a saída. Tão suja que terminou tão controversa como começou.

É possível que o milagre do défice esconda outras coisas debaixo do tapete. Passos pode sempre ir lá procurar, mas se algo lá houver, rapidamente se descobrirá, o que não significa necessariamente que alguém será responsabilizado pelos potenciais prejuízos que daí decorrerão. A diferença é que, desta vez, as contas estão minimamente amanhadas, contrariamente àquilo que vai sendo anunciado pela oposição, e até os Velhos do Bruxelas parecem convencidos. E tudo isto após quase dois anos de profecias cataclísmicas, ameaças de sanções e resgates, vaticínios sobre o fim do acordo à esquerda e anúncios da vinda do Diabo. E não é que se respira melhor?

Foto: Pedro Nunes/Lusa@ZAP

Comments

  1. Rui Naldinho says:

    Durante um ano e meio recusaram aceitar que era possível baixar o deficit. Gozaram com Centeno, anunciaram o Diabo no final do Verão, e até previram uma guerra fratricida dentro dos partidos que apoiaram esta solução.
    Isto está tudo documentado nos jornais, gravado nos suportes digitais das rádios e televisões, que até lhes fizeram o favor de dar eco diário, quais órgãos de propaganda.
    Como se, depois de tudo aquilo que eles fizeram durante quatro anos e meio, fosse de todo impossível cortar ainda mais. Pensaram eles, que é como quem diz:
    ” Mais filhos da puta do que nos fomos, deve ser impossível!?”
    E é!
    O tempo foi passando e, contrariando as previsões castatrofistas que fizeram, foram engolindo em seco os números, sempre a conta gotas, com o esófago meio obstruído, e os estômago às voltas, umas vezes cagando, outras tossindo.
    Como dali já não podiam esperar mais nada, ficaram à espera de um cataclismo. E a desgraça sempre veio. Mas veio com vários negócios misturados, no meio da dor.
    Agora e contra a sua própria vontade, vamos descobrindo os podres do regime, dos quais PS, PSD e CDS são os principais e únicos responsáveis. Mas querem colar a Geringonça ao rol das asneiras feitas durante mais de uma década. Como se todos nós não soubéssemos há muito, que para se cumprir um deficit irracional, imposto à força por Bruxelas, e pelos Partidos que a dominam, não tivéssemos que adiar investimentos. Só é pena não fazerem o mesmo à França e a Espanha no ano de 2015.
    É a velha máxima, se encolhes demasiado o deficit, vais ficar com obrigações de soberania por cumprir. Estava-se a adivinhar.
    Mas afinal, o PSD quer reduzir o deficit como? Voltamos ao corte dos rendimentos das pessoas?
    Ó burros, o Geringonça não é o PS!
    A Geringonça é o PS amarrado por uma coleira pra não fazer a mesma merda, agora e sempre, que vocês os três andaram a fazer durante anos.
    Daí, ser cada vez mais necessário, olhar para os números do deficit sem tanta sofreguidão, mas sim, com mais sensatez.
    Eu também não quero um país com deficit zero, a arder. E muito menos pessoas a arder, mas ainda assim, se alguém tiver de arder, que ardam todos aqueles que nos trouxeram para este patamar de lixo.

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