O petróleo verde, assim lhe chamou Mira Amaral

Lembro-me perfeitamente do artigo plasmado nas páginas do Público no qual se defendia a tese de Mira Amaral sobre a floresta ser o nosso petróleo verde. Por floresta leia-se eucalipto, que era o que estava em alta nessa altura, nos tempos áureos de Cavaco Silva como primeiro-ministro. Infelizmente, não encontro o artigo, pois seria interessante revisitá-lo.

Não sou o único a disso me recordar. Miguel Sousa Tavares já disso tinha falado em 2003 no Público e agora retornou o tema no Expresso.

Miguel Sousa Tavares diz que o ministro da Agricultura desta altura defendeu o abandono da agricultura a “troco de indemnizações” e que o da Indústria e Energia defendeu a “eucaliptização” do país, lembrando ainda que o ministro disse que os eucaliptos eram “o nosso petróleo verde”.

O comentador aproveitou até para deixar uma mensagem a Mira Amaral: “o seu petróleo não é verde, é da cor do fogo”.

Para Miguel Sousa Tavares, estes fatores estão todos ligados, pois acredita que vamos ter cada vez mais incêndios em zonas que a agricultura foi abandonada e onde não há ninguém.

30 anos de eucaliptos, numa aposta no lucro imediato. A cada 10 anos os proprietários recebiam um dinheiro extra graças à venda da madeira, com muito pouco investimento e reduzida manutenção. Com duas nuances. Em primeiro lugar, não gastar dinheiro na manutenção da floresta, limpando-a, por exemplo, é como jogar à roleta russa. É uma questão de tempo até que aconteça a detonação que tudo lance em chamas. Em segundo lugar, como agora estão a descobrir os proprietários de um pedaço de pinhal, que na verdade é um eucaliptal, ao fim de três cortes é preciso arrancar os cepos dos eucaliptos e replantar. Nada de especial, não se se desse o caso desta operação levar o dinheiro amealhado nos anteriores cortes.

O petróleo verde é muito interessante, mas para uma parte sobretudo, a indústria do papel. Pelo caminho sobra um país que se moveu para uma estreita faixa do litoral, deixando nas suas costas um tapete de fósforos à espera de uma faísca. Obra do acaso? Nada disso. Resultou de um plano pensado e executado, desde os tempos do incontornável Cavaco Silva no papel de primeiro-ministro, que pagou para se acabar com a agricultura, ao mesmo tempo que dava subsídios à plantação do eucalipto.

Querem apontar dedos à falência do Estado? Comecem no devido tempo, ó hipócritas.

Comments

  1. Francisco Pedroso says:

    Lembro que durante anos o PSD entregou a pasta da Agricultura a um representante das celuloses. Resultados à vista.

  2. JgMenos says:

    As celuloses bem cuidam dos seus eucaliptais.
    Em tudo o mais, mandam proprietários e Estado.
    Mas o Estado ou está nas mãos de cretinos ou à espera de se entender com eles.

    • Não são as terras do Estado que, maioritariamente, têm ardido, mas sim a dos proprietários, que têm os seus belos eucaliptais ao deus-dará, à espera de facturar.

      • JgMenos says:

        «Em tudo o mais, mandam proprietários ‘e’ Estado.»
        Não está escrito ‘ou’.
        Se o Estado não manda, o problema é do Estado.

  3. Não deixem que os dados vos estraguem uma boa teoria. Os números são publicos para quem queira largar o lero lero do eucalipto e compare a area ardida das diversas especies. Mas atenção só vale para quem sabe diferenciar um pinheiro dum carvalho ou dum eucalipto; para os outros doutorados e tudologos o roubo de Tancos foi culpa do buraco na rede e das camaras desligadas, e a culpa dos incendios é dos eucaliptos mesmo que não saibam distinguir um numa mata.

    • JgMenos says:

      Um mantra esquerdalho só cai se aparecer um mais mobilizador.
      Talvez se PPC for identificado como incendiário o eucalipto se safe,

      • Rui Naldinho says:

        Ó Menos!
        “Um mantra prà qui, um mantra prá li, um mantra prá colá…!”
        Engana-me que eu gosto!!
        Fala de mantras como quem com come batatinhas fritas, esquecendo-se de uma coisa óbvia.
        Quem tem necessidade de alimentar o “mantra”, e sem cessar, dia após dia, mês após mês, ano após ano, é a sua direitinha Tuga, que detém jornais falidos á fartazana, alguns há décadas, tal como o “i”, o “Sol”, o “Observador”, a “Sábado”, “Diabo”, … e exceptuando-se o Correio da Manhã, o único a dar lucros, se essa imprensa fosse de esquerda, vocês já estavam fartos de grunhir contra a comunicação social por viver ad sternum com prejuízos, alimentado por uma qualquer máquina partidária.
        O seu problema é que nem assim o vosso mantra cola. Com todos os meios ao vosso dispor, cada vez têm menos capacidade de mobilização.
        É obra!! Incompetentes!!!

        • Rui Naldinho says:

          Deve ler-se
          “ad eternum”

        • JgMenos says:

          Algum dia dei a entender que os mantras esquerdalhos eram ineficazes na maioria de lerdos?
          São tão eficazes que à direita só resta esperar que sucessivas falências venham a anular o efeito.

          • Paulo Marques says:

            Já as falências da direita, como o BPN, BES e por aí fora paga sem guinchar. Ou então aplaude a subsidio-dependência dos grandes grupos económicos porque é gente que cria riqueza no Panamá.

          • Rui Naldinho says:

            Quais falências?
            BPN, BANIF, BES, CGD, PT, Montepio, SIRESP,…!
            Tudo negócios dos amigos do Acabado Silva, do Cherne, Santana, e do Sócas?
            Tudo gente séria! Todos de esquerda!

          • JgMenos says:

            Essas falências também contam para o efeito.
            Ignorando a questão democrática, temos:
            – o último governo de direita moderada acabou em 74.
            – a partir daí, à luz de uma Constituição esquerdalha, é só mais ou menos de esquerda.

    • Eis os dados:

      Ocupação do solo Percentagem
      1996-2014
      pinheiro-bravo 43.29%
      eucaliptos 32.13%
      sobreiro 8.68%
      azinheira 2.27%
      carvalhos 3.06%
      pinheiro-manso 1.21%
      castanheiro 0.56%
      alfarrobeira 0.01%
      acácias 0.14%
      outras folhosas 4.82%
      outras resinosas 2.40%
      espécie indeterminada 1.42%

      Fonte: Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (PDF)

      Nota: retirei a área ardida de matos, pastagens e de outras ocupações.

    • Acho engraçado este Cristóvão, que vem falar das boas teorias dos outros que não se estraguem com dados, mas sem apresentar um único argumento. É como aqueles que apontam erros os ortográficos dos outros, mas escrevendo com erros.

      Ide ler e depois falamos.

  4. Petróleo verde conheço um: o vinho.

  5. Abel Barreto says:

    A questão dos incêndios não se pode resumir aos números e aos eucaliptos, trata-se essencialmente um problema de gestão (política)
    A área ardida é maior na de pinhal? Pois parece, mas era bom que se soubesse se como área de “pinheiro-bravo” se entende que o solo é ocupado apenas e exclusivamente por pinheiro, ou se também estão incluídas áreas em que o pinheiro coexiste com o eucalipto. E é bom lembrar que este, no que toca à propagação de um incêndio, assume maior relevância que o pinheiro e contribui decididamente para o aumento da área ardida.

    Já sabemos como é a estatística: vemos a árvore mas não a floresta. Uma das razões da maior área ardida ser a do pinheiro terá a ver com a forma como se combate os incêndios conforme se trate de uma plantação de eucaliptos (sobretudo se for explorada por uma celulose), ou uma zona de pinhal (que normalmente também tem eucaliptos e muitas habitações dispersas às quais é necessário acudir).
    Quase todos os incêndios tem como origem a mão humana. Os actos de negligência e o fogo posto (por incendiários encartados, por vizinhos desavindos, por maldade, etc.), ocorrem normalmente em zonas das pequenas propriedades e não nas áreas extensas de monocultura.

    Não sou contra o eucalipto, mas da forma como este é utilizado (e endeusado).

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