A crise na Venezuela e os hipócritas do costume

A administração norte-americana anunciou hoje, em resposta ao desfecho daquela espécie de eleição que teve lugar na Venezuela, o congelamento de todos os bens de Nicolás Maduro nos EUA. Mas antes de entrar na hipocrisia americana, importa fazer aqui uma nota sobre a venezuelana: então os Estados Unidos são o demónio capitalista, o centro do absolutismo neoliberal, e o grande revolucionário Maduro tem bens em território imperial? Propriedade privada na Disneyland dos especuladores? Já não se fazem revolucionários como antigamente. Shame on you, Maduro.

Sobre a superpotência hipócrita, home of the brave hipócritas que se dedicam 24/7, 365 dias por ano à nobre arte da hipócrisia, quais bandalhitos moralistas que invadem e bombardeiam quem lhes apetece, sem dar cavaco a ninguém, arrasando nações, hospitais, escolas e vidas, importa recordar que poucos estados no mundo se comportam de forma tão ditatorial como o império sediado em Washington. Mas mesmo que assim não fosse, este paleio furado das sucessivas administrações norte-americanas, hoje nas mãos do fascismo pós-moderno, só pode colher junto dos mais ignorantes. De outra forma não podemos engolir esta retórica da luta contra a ditadura vinda de um estado que tem a Arábia Saudita com parceiro comercial, diplomático e militar de topo. Sim, a Arábia Saudita, esse regime totalitário que oprime permanentemente a sua população, em especial as mulheres, mas que a hipocrisia ocidental não hesitou eleger para a Comissão dos Direitos das Mulheres da ONU.

Se os EUA congelam os bens a Nicolás Maduro por ser “um ditador que despreza a vontade do povo venezuelano“, seria importante que, por uma questão de coerência, se congelassem imediatamente todos os bens do rei Salman. Se sanções são impostas de maneira a impedir que cidadãos norte-americanos façam negócios com o presidente venezuelano, o mesmo critério deveria abranger o monarca saudita. Se a administração considera que as acções de Maduro representam uma “captura escandalosa do poder absoluto” e um “um rude golpe para a democracia no hemisfério, exactamente que tipo de considerações terão a fazer sobre uma Arábia Saudita em que o poder absoluto é a realidade de longa data e onde a democracia nunca existiu? Como é que os EUA têm o descaramento de falar na autodeterminação do povo venezuelano quando, para lá da inexistência de qualquer liberdade em território dos seus amigos sauditas, entre outros, são os próprios EUA a condicionar a autodeterminação de tantos povos, a violar soberanias a seu bel-prazer, a chantagear nações, a apoiar ditadores que servem os seus interesses e a patrocinar golpes de Estado contra governos democraticamente eleitos, como foi o caso da Venezuela? Simples: são hipócritas. E os hipócritas são assim.

Comments

  1. Paulo Marques says:

    E sobre Israel está tudo silencioso…

    • Qual silencioso, qual quê? Este texto é sobre a situação na Venezuela, porque raio haveria eu de meter Israel ao barulho?

      • Paulo Marques says:

        Israel é um exemplo de como a cobertura e a atitude dos EUA não passam de hipocrisia movida por outros interesses.

      • espere, não percebi. Então se a coisa é sobre a Venezuela, porque raio meteu a Arabia Saudita ao barulho ?

  2. Rui Naldinho says:

    Concordo com o seu comentário.
    Os Norte Americanos só têm moral para aquilo que lhes convêm. Aliás, um pouco como a nossa direita Tuga. Desde que cheire a dinheiro, eles aí estão para “resolver os problemas” á custa da miséria alheia”.
    Mas Maduro, tal como todos os “Bananistas” da América latina, é um ditadorzito perigoso. Mal formado, e com manias de revolucionário, coisa que nunca o foi. Alguém de tentar trava-lo caso contrário haverá um banho de sangue.
    Não, não é igualzinho a Fidel Castro, que por acaso também se tornou um ditador. Mas esse fez-se ditador, empurrado precisamente pelos americanos. Fidel era um erudito, para além de guerrilheiro. Tinha carisma. Fez um percurso de luta contra a ditadura Batista, sujeitando-se à prisão e a ser morto.

    • Concordo plenamente. No que respeita Cuba, após a revolução cubana o primeiro país a que Fidel pediu ajuda foi ao governo norte americano, ao seu presidente, general Eisenhower, que se recusou a recebê-lo.

  3. Nem vou perder muito tempo!
    “freezing any U.S. assets he may have and generally blocking U.S. persons from transactions involving him.”

    Aguardo a LISTA DE BENS que o cromo tem nos EUA!

    E já agora sobre as sanções que os nossos Amigos EUA aplicaram à EU? Também roçam o hilariante, e provavelmente o hipócrita!

    E o facto de nem se falar nisto é ainda mais divertido…

    Mas afinal agora é tempo de PRAIA E SOL E ÁLCOOL E DROGAS E CONCERTOS DE VERÃO… depois logo veremos!

  4. Brito de Sa Gomes says:

    Este João Mendes é mesmo burro , f*da-se !
    Essa bola redonda que tens ao cimo do pescoço para que serve ?
    Bom, mas já que és analfabruto vou explicar-te, depois vai estudar e quando souberes um bocadinho manda mais postas.
    Não sabes mas devias saber (também és da geração mais bem preparada de sempre…) que actualmente estamos perante 3 Impérios , a saber :

    Ocidente ( EUA-Israel)
    Sino-Sovietico
    Islão
    Estes 3 colossos não se enfrentam directamente, eles digladiam-se nas periferias, intervindo em países terceiros nas infiltrações nas sociedades e nas organizações de carácter mundial ( aqui o exemplo mais óbvio é a ONU).
    Mas para burros como tu , os EUA deveriam intervir na Arabia Saudita ( o centro do 3º império) como intervém num pais vizinho como a Venezuela ou Cuba.
    Para tipos como tu é tudo igual, desde que não interfiram no meu querido comunismo (2º Imperio).
    Mas para tipos como tu mesmo que lhes apontem a Lua não olham para além da ponta do dedo.
    Se houvesse uma taxa sobre a estupidez a reverter para os mais necessitados, a pobreza já tinha acabado, arre…

    BSG

    • Ernesto says:

      “Mas para burros como tu , os EUA deveriam intervir na Arabia Saudita ( o centro do 3º império) como intervém num pais vizinho como a Venezuela ou Cuba.”
      Então como se explica que tenham intervido desde sempre em países como Iraque, Afeganistão, Libia, Siria, Irão,etc..

      Queres ver que são países vizinhos, e eu é que sou burro…

      Histórias da carochinha a esta hora!?

      • Brito Sá Gomes says:

        Outro Einstein, f*da-se…
        Sabes o que se chama a um tipo que lê mas não entende? Analfabeto Funcional.
        Vai lá ler o que eu escrivi , informa-te e depois fala.
        Iraque, Afega…. é a periferia meu calhau…
        E já agora as intervensões directas são subrepticias, não são declaradas. Sabes de quem são os principais meios de comunicação americanos ? Eu sei que não sonhas mas eu digo-te : Arabes.

        Estuda Ernesto Einstein, depois falamos…

        BSG

        • Ernesto says:

          “Vai lá ler o que eu escrivi” – Estamos conversados, Einstein;)

          E calhau é a p*ta da tua prima!

          • a prima ? Não será mesmo ele ? é que me parece que o individuo é daqueles que se olha ao espelho e vê o único dono de toda a verdade e a opinião dele é Lei. Assim, acha-se no direito de menosprezar e insultar os demais. Eu,chamo-lhe …….burdamerda.

        • Paulo Só says:

          Sempre achei que era Gomes de Sá e não Sá Gomes aquela espécie de salada de bacalhau. Contenha-se, meu amigo, contenha-se. Há fraldas para adultos nas farmácias.

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