Pigmeus políticos

O sibilino José Eduardo Martins não encontrou melhor forma de se luzir na campanha de Teresa Leal Coelho que recitar-lhe, em altos brados, um poema de Sophia de Mello Breyner. Eu sei que ninguém é proprietário exclusivo de poetas. Mas há qualquer coisa de sórdido nesta cena. De batota. E, curiosamente, dirigir a Teresa Coelho versos como “Porque os outros vão à sombra dos abrigos/ E tu vais de mãos dadas com os perigos/ Porque os outros calculam mas tu não”, é uma rematada mentira. Não da poetisa, claro, mas do declamador, que sabe que a sua dama não merece nem corresponde a um único destes versos.

Isto é poesia de gente grande, para gente grande. Não para pigmeus políticos e oportunistas.

Comments

  1. Rui Naldinho says:

    A esta estirpe animal apetece-me também declamar-lhes Sofia, com a voz e a guitarra de Fanhais, naquele refrão:
    Lemos, ouvimos e vemos,
    Não podemos ignorar,
    Lemos, ouvimos e vemos
    Não podemos ignorar
    E colocar-lhes no ecran de fundo. do comício o seu Best Off:
    https://aventar.eu/2011/10/13/pedro-passos-coelho-best-of-2010-2011/

  2. JgMenos says:

    ‘ Eu sei que ninguém é proprietário exclusivo de poetas’ …mas os poemas só podem usar-se para fins autorizados pela ‘corretês em vigor’.

    • ZE LOPES says:

      E o problema é que a Corretês é lixada! Não é qualquer um que tem autorização! É necessária uma papelada bruta! É uma rapariga bem boa, cheia de vigor,mas fora isso…tem um feitiozinho muito seu!

    • Rui Naldinho says:

      Apesar de Sofia ser uma intelectual de esquerda, que escrevia também sobre os oprimidos desta vida, podes sempre declamar poemas dela.
      Um socialista ou um comunista, morto, desde que bem enterrado, dá sempre um jeitaço à direita, quando mais não seja para se “vender peixe de qualidade” aos incautos.
      Até nisso, “eles comem tudo e não deixam nada”, ao acaso!

  3. ZE LOPES says:

    Parece que, afinal, a leitura do poema até foi uma saída airosa do José Eduardo Martins. É que alguém lhe disse que era necessário um momento cultural e .que a D. Teresa ia pedir ao marido para cantar!

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