Depois do silêncio, os Panama Papers estão de volta ao Expresso

Como diria o outro, “que passou-se”? Depois do silêncio constrangedor, terão os papéis finalmente saído do armário, para revelar a verdade aos portugueses, um ano e meio após o anúncio bombástico? Será que é desta que vamos saber que jornalistas, e em que jornais, eram corrompidos com dinheiro sujo para servir Ricardo Salgado, ao invés de servir o dever de informar e o rigor jornalístico?

Lamento informá-lo, caro leitor, mas não foi esse o motivo que trouxe os Panama Papers de volta ao Expresso. Ainda não é desta que ficamos a conhecer a lista com mais de uma centena jornalistas avençados pelo saco azul do GES, que o semanário do Sr. Bilderberg prometeu revelar em Abril de 2016, e que continha pagamentos elevados e outros de poucos milhares. Sim, os pagamentos de “poucos milhares” eram os pequenos.

O motivo que fez com que os papéis do Panamá regressassem ao Expresso foi um atentado terrorista, curiosamente não-reivindicado pelo Daesh, que resultou na morte da jornalista que liderava a investigação do caso em Malta, Daphne Caruana Galizia, que tinha encostado à parede políticos poderosos com investigações sólidas, entre eles o primeiro-ministro daquele país, que acusou de corrupção.

Apesar de ter denunciado às autoridades que estava a ser alvo de ameaças de morte, o carro de Daphne Galizia foi armadilhado com um engenho explosivo, que detonou com a jornalista ao volante da viatura. Métodos brutais que demonstram que alguns membros de elite política e financeira europeia não são muito diferentes do terrorista tunisino de Nice.

No início deste ano, a jornalista revelou a existência de documentos que implicavam a mulher do primeiro-ministro maltês, Joseph Muscat, como beneficiária de um esquema de pagamentos avultados e suspeitos, com origem no Azerbeijão, através de uma sociedade offshore no Panamá. Poucos meses depois é assassinada. Façam as vossas contas.

Que falta que nos fazem umas quantas jornalistas com esta coragem e independência. O Expresso bem que precisava de uma série delas. Infelizmente, são espécie em vias de extinção, num mundo onde a imprensa está cada vez mais ao serviço dos interesses particulares dos seus proprietários do que dos interesses deontológicos de uma imprensa livre, honesta e transparente. E depois queixam-se da “turba” das redes sociais. Quanto a Daphne Caruana Galizia, o meu sincero e sentido muito obrigado! Que descanse em paz.

Comments

  1. Carlos Correia says:

    Um modo simples e casual do Expresso justificar o não justificável.

  2. joão lopes says:

    ó joão mendes,os panama papers? então o Expresso não quer mandar abaixo o actual governo e juntamente com o cds,madeireiros e celuloses ,formar um governo de salvação nacional.os incendios acabavam já.claro que a jornalista foi morta porque os panama papers significam bandidos muitissimo perigosos(que pelos vistos estão com muito “sucesso” na carreira).

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