A ministra que saiu depois das primeiras chuvas

Foram precisos mais de 100 mortos para que se reconhecesse que o Estado está em cacos. Todos os que ao longo dos anos foram cortando nas bases do Estado e que foram metendo boys de confiança política nos cargos, em vez de gente escolhida pela competência técnica, mostram-se agora escandalizados pela situação que criaram. Todos os que puderam fazer e não fizeram, desde a oposição até ao governo, tiveram o poder para mudar, mas procrastinaram. E, alguns, como Assunção Cristas, que se faz de esquecida, até pioraram o que existia. Nem rezar para que chova, tal como disse uma vez Cristas perante os incêndios no seu mandato, chega, nem manobrar politicamente sem agir, como fez Costa, nada resolver e, pior, deixa espaço aberto para a desgraça.

O governo de Costa teve sorte com o crescimento do turismo, que lhe permitiu expulsar os demónios económicos, e teve azar com o clima, que catalisou os incêndios. Se fosse outro governo que estivesse no seu lugar, nomeadamente o anterior, teria tido a mesma sorte e o mesmo azar. Teria tido o banho de crescimento económico, permitindo-lhe vangloriar-se do sucesso das suas políticas, quando em causa está a conjuntura internacional, e estaria agora em cheque devido aos incêndios, com a oposição a reclamar razão face ao efeito dos cortes. Mas a situação é outra e é este governo que está a responder.

Faz parte do jogo político. Quem está no poder tem que responder perante o que acontece e não se escudar no que os anteriores fizeram ou não. Têm que mostrar o que fizeram e caberá aos que observavam avaliar se poderia ter sido feito melhor. O relatório de Pedrogão Grande mostra que tudo falhou. O que tem o governo​ para dizer? Nada. Foi o que fez Costa na passada segunda-feira ao falar ao país. Disse que fez tudo e que nada iria fazer. Não foram estas as suas palavras, mas é a leitura que se pode fazer de quem, a cada questão, começava a dissertar sobre o relatório de Pedrogão Grande, em vez de responder às questões. Não reconheceu erro algum, nem apresentou um caminho. Apenas que iria ter um Conselho de Ministros no próximo sábado.

Por fim, Marcelo. Hoje é, novamente, pessoa de bem por parte da direita. Novamente, política também é este moldar de posições face à realidade. Engraçado seria assistirmos à demissão do governo. Afinal de contas, já tem um orçamento eleitoralista, a tal ponto que até parece ano eleitoral. Iria Passos Coelho novamente a votos? Não me parece que o país ganhasse alguma coisa com esta instabilidade, mas é um cenário com o seu interesse intelectual.

Desta vez, são as chuvas de Outubro a trazerem a mudança. É a prova dos nove para este governo. Ou mostra capacidade ou acabou de morrer.

Comments

  1. José Feliciano Cunha de Sotto Mayor says:

    aqueles que defendem o “estado mínimo” que digam se estão satisfeitos. claro que não, sacodem a agua do capote e dizem que 30 anos de erros foram culpa de uma ministra.

    • Os que defendem o Estado mínimo defendem que o Estado que deve intervir o mínimo possível na economia do país,pois isso maximiza a prosperidade do país.
      A função do Estado é assegurar os direitos básicos da população.
      Ou seja, que as funções do Estado são a promoção da segurança pública, da justiça e da ordem pública, além da criação de legislação para assegurar o cumprimento destas funções.
      O Estado tal como pensão os Socialistas ocupa-se de toda a economia não deixando funcionar o livre-mercado, e deixa de lado as suas funções vitais como mais uma vez desgraçadamente está comprovado.

      Caro Souto Maior, é de rir você considerar o nosso Estado , um Estado mínimo depois de mais de 50% de toda a economia depender do Estado…

      Rui Silva

      • oops Corrijo “pensam”

        Rui SIlva

      • doorstep says:

        E pronto, está tudo explicado: a vaga de incêndios tem por causa a excessiva intervenção do estado – Silva dixit… Interessante expressão de um certo sentimento de “deixa arder” que traz em êxtase o gang do láparo & co.

        • joão lopes says:

          sem querer,o rui disse tudo.lembra-se das ameaças das celuloses? pois,para elas interessava arder até para ver quem manda,o estado ou os interesses privados.ganharam os privados,ganharam as celuloses,o fogo compensa,o lucro maximo exige.

      • ZE LOPES says:

        Oxalá uma doença oncológica, ou semelhante, não ataque V. Exa. ou alguém próximo para que descubra que as funções do Estado estão muito para além do que diz!

        • Adelson Gomes says:

          aqui do meu escritorio em paris tenho vista para o sucursal da AmGen na França, por isso é ironico ler esse cara de ze lopes .
          Na Baia, o vizinho do meu primo foi salvo com um medicamento experimental da AmGen e a mulher do cara foi agradecer a Iemanjá.
          aqui o tal de Ze lopes se alguém é salva por uma qualquer farmaco produzido por uma empresa capitalista ,ele vai agradecer ao Estado.
          Tal como a tia Agda esse cara não acredita em deus, mas como tem que substituir a sua crendice , toma o Estado como Deus e acredita que é ele que nos salva.
          Lá no Brasil tinhamos um cara que dizia
          “Os marxistas inteligentes são patifes;
          os marxistas honestos são burros;
          inteligentes e honestos nunca são marxistas.”

          Adelson Gomes

          • 😉

            Rui Silva

          • ZE LOPES says:

            Adelson: quando deixar de ser experimental, quanto custará o medicamento? E, nessa altura, quem o poderá colocar ao dispor dos cidadãos em geral, e não só dos que têm dinheiro? Não será um Serviço Universal de Saúde?

            Só de ver a lua cheia que lhe dedica o Rui Silva, V. Exa. já devia estar desconfiado!

            Um dos problemas do Brasil é, talvez, o excesso de “caras” de postapescadeiam para outros citarem!

          • ZE LOPES says:

            Desculpe lá: um tipo que acha que uma das funções do Estado é proteger os cidadãos na doença é um ateu? Ou pior, um adorador do Estado? Tenha juízo! A AmGen só desenvolve esse medicamento porque sabe que acabará por ser pago pelos impostos dos cidadãos em geral. Porque se os únicos clientes fossem os ricos a empresa estava bem arranjada!

            Já agora, cara: na próxima escreva em Português. Deve haver por aí em Paris quem saiba. Obrigado.

      • Rui Naldinho says:

        “ A função do Estado é assegurar os direitos básicos da população.
        Ou seja, que as funções do Estado são a promoção da segurança pública, da justiça e da ordem pública, além da criação de legislação para assegurar o cumprimento destas funções.
        O Estado tal como pensão os Socialistas ocupa-se de toda a economia não deixando funcionar o livre-mercado, e deixa de lado as suas funções vitais como mais uma vez desgraçadamente está comprovado. “

        Este gajo para além de mentiroso é intelectualmente desonesto.
        Senão vejamos:
        O Estado hoje subcontrata através de outsourcing’s e de parcerias público privadas, sob várias formas, uma infinidade de serviços ao sector privado, serviços esses que sempre foram feitos por funcionários públicos, efectivos ou contratados diretamente pelas entidades que os geriam.
        Por exemplo na saúde, através de hospitais e dos subsistemas. Nas empresas de catering que fornecem alimentação nas escolas. Na limpeza urbana, tanto nos edifícios públicos, como nas ruas, passeios e jardins das urbes. Os serviço postal, vulgo, correios, é hoje privado, depois mais de um século assegurado pelo Estado, através dos CTT. O serviço de handling nos aeroportos. Isto já para não falar dos próprios aeroportos, com9 estrutura física. Paga a empresas privadas rios de dinheiro em segurança. Enfim, uma enormidade de despesas públicas que são feitas por privados, mas paga pelos cofres do Estado.
        Há trinta anos tínhamos polícias nos edifícios públicos, fossem eles hospitais, ou uma simples escola. Todas as escolas tinham funcionárias que cozinhavam para os putos. Empregadas que mantinham as escolas limpas e até acabavam por ajudar a manter a disciplina. Hoje temos as empresas de segurança, cujos funcionários são uma espécie de semi escravos pagos miseravelmente e com horários a maioria das vezes à margem da lei. Limpeza, Catering’s, transportes, correios, etc, etc…
        Ou seja, o país foi sendo privatizado aos amigos dele, durante mais de três décadas. Mas o rapaz ainda se queixa, “com fome”! Pelos vistos não está saciado? Quer mais! Apesar do serviço prestado pelos amigos dele ser uma boa merda. Isso não discute ele.
        Se tu não fosses uma espécie de anomalia cromossômica, eu até te levava a sério.
        Vai dar banho ao cão, menino!

    • Jose Sampaio says:

      Na “mouche” José Feliciano Cunha de Sotto Mayor
      Vou partilhar

    • Carlos Silva says:

      A morte de 100 pessoas foi culpa de governo e de quem o apoio. Isso não há qualquer duvida.
      As pessoas merecem e pagam para ter segurança e ela não foi garantida pela protecção civil.
      Arder e não haver protecção civil para cortar estradas e evacuar pessoas é totalmente inaceitável.
      É fácil falar quando se vive numa cidade onde se tem tudo. Aposto que muito de vocês nem sequer alguma vez visitou aldeias nos distritos de Viseu ou Guarda. Caso contrário não desvalorizavam a gravidade que se viveu por falta de socorro.

      • É-me difícil compreender como é que um comentário como este não tem um unico “Like”.
        Mas alguém que dá um “unlike” é inqualificável…

        Rui Silva

        • joão lopes says:

          ó parvalhão,vai para PM e cala-te.acabou o politicamte correcto,tal como tu querias,cabrão.

        • Rui Naldinho says:

          E difícil compreender, ó Silva?
          Então, vamos por partes, a ver se leste bem?
          Primeiro parágrafo:

          “ A morte de 100 pessoas foi culpa de governo e de quem o apoio. Isso não há qualquer duvida”, diz o outro Silva

          – Fui eu o incendiário? Eu ate quis que na aldeia nos meus familiares ardesse aquilo tudo, não ?
          Vê lá se não terás sido tu, ou um dos teus amigos?

          Segundo parágrafo:

          “As pessoas merecem e pagam para ter segurança e ela não foi garantida pela protecção civil.”

          Ora, acontece que esta gente, infelizmente para elas, pouco ou nada pagam para a sua proteção. Nem podem, coitadas.
          E isto pela simples razão de não haver empregos bem remunerados, como elas desejariam ter, para poderem pagar um bom IRS, coisa de que o teu amigo Passos gostava de sacar ao pessoal, e poucas ou nenhumas empresas existem para pagar o IRC e as derramas nos lucros acima dos 40 milhões de euros. Essas estão no litoral, e junto das grandes cidades.

          Terceiro parágrafo:

          “Arder e não haver protecção civil para cortar estradas e evacuar pessoas é totalmente inaceitável.”

          De facto, não haver proteção civil para cortar as estradas e evacuar as pessoas e muito mau. Mas isso é feito pela GNR, pelos militares em última instância, cujos postos têm poucos efectivos, e cada vez menos pelos vistos, coisa que não é só culpa deste governo. Ou tu julgas que formar um GNR ou um agente da PSP, é como contratar um trabalhador ao jornal, para capinar mato e erva? Nos quatro anos e meio do anterior governo, quantos efectivos entraram na Guarda Nacional República e quantos saíram?

          Quarto e quinto parágrafo:

          Os outros parágrafos são trivialidades. Lamechices.
          Eu todos os anos vou apanhar a azeitona dos meus sogros, no início do inverno. Vou às vindimas, em Setembro. Estou na apanha da batata no mês de Julho ou Agosto. Como eu, quase todos nós temos a nossa costela provinciana.
          Mas ainda que muitos não fossem à aldeia fazer nada disso, ou mesmo passar umas férias, com que base ética, moral e científica, se argumenta “que quem apoia politicamente alguém” é responsável pela morte de um português numa tragédia?
          És um asco, pá!

      • Paulo Marques says:

        Quem teve culpa foi quem ateou ou mandou atear 520 fogos em poucas horas.

  2. joão lopes says:

    por acaso,cheira mesmo a queda de governo…e os proximos,serão o cds,os jornalistas do expresso,o david dinis e as celuloses,a governar(até porque são estes que sabem tudo).de certeza que não haverá mais fogos.mas eu proprio vou vigiar o destino a dar á madeira do pinhal de leiria.basta seguir o rasto do dinheiro e do lucro para perceber tudo.e depois o marcelo demite outro e outro governo até Portugal ficar partido(de vez) ao meio

  3. José Feliciano Cunha de Sotto Mayor says:

    e a demissão foi decidida antes das declarações de marcelo. mas como os media – ou seja, a direita – querem a narrativa do “marcelo rei-sol”…

  4. Dizer que a oposição, caso estivesse no poder, teria o mesmo “sucesso” do Governo, é anedótico. Se continuasse o circo de incompetência e bestialidade onde pontificava PPC, nunca Portugal teria os indicadores positivos de hoje. Nada teriam do que se vangloriar.

  5. Carlos Silva says:

    Faz-me confusão ver o PCP desvalorizar os 100 mortos ao dizer que “Já há muitos anos que existem fogos violentos, mas que a diferença para este ano foram os 100 mortos”.
    Já dizia o outro: “Uma única morte é uma tragédia; um milhão de mortes, uma estatística.”

  6. Rui Naldinho says:

    Louvo e subscrevo o seu artigo, Jorge Cordeiro. De alguém que têm a coragem de analisar os fenómenos sociais sem sectarismos, e longe da velha clubite entre os arregimentados do costume. De alguém que é de uma forma assumida, de esquerda, mas que não pactua com a incompetência, a hipocrisia, nem com falsos moralismos.
    Morreu gente. Gente a mais, num Portugal pequenino em tudo, até na sua capacidade de reagir, mesmo que nas piores circunstâncias. E o pior sinal que um político pode dar é encafuar-se em explicações pueris, em vez de tirar ilações e procurar resolver com eficácia, os problemas que se nos deparam.
    Se António Costa não perceber isso, vai ter o mesmo destino dos outros. Ir embora, sem honra nem glória.

  7. maria serpa says:

    Agenda 21, já ouviram falar?

  8. 😆 Ei! Manada de boçais… não se esqueçam é de continuar a VOTAR em salafrários e depois, claro, continuem a reclamar dos salafrários…

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