Internas PSD: uma ode à não-renovação

Fotografia: Lucília Monteiro@Expresso

Se há coisa que não podemos imputar a Passos Coelho, apesar da valente treta que é afirmar que o passismo era à prova de barões, é que tenha ido a jogo com os dinossauros do costume. Não falo dos autárquicos, que esses são eternos e facilmente renováveis no concelho vizinho, mas das equipas governamentais. O passismo trouxe gente nova, mais à direita, nas tintas para a social-democracia e com uma queda para liberalismos extremistas. O resultado, esse, foi o que se viu.

Porém, com o passismo nos cuidados paliativos, o que se segue assemelha-se a um combate geriátrico entre velhas raposas. No canto esquerdo do ringue, com 61 anos, dois mandatos à frente da CM da Figueira da Foz, meio mandato na autarquia de Lisboa, 10 meses na presidência do Sporting, 8 como primeiro-ministro, várias tentativas falhadas de chegar à liderança do PSD e uma presença no Bilderberg, juntamente com o Sócrates a quem gentilmente cedeu o lugar, temos Pedro Santana Lopes, icone maior da secção política da imprensa cor-de-rosa portuguesa.

No canto direito, com 60 anos, 12 anos à frente da CM do Porto, 12 anos de oposição ao FC Porto, uma longa carreira na banca e na administração de empresas, recordista nacional do sebastianismo laranja, uma presença no Bilderberg, na companhia do seu amigo António Costa, e uma horda de respeitáveis e históricos dinossauros na rectagurada, que incliu Manuela Ferreira Leite, Pacheco Pereira e, se correr de feição António Capucho, surge Rui Rio, o homem que está quase sempre para ser líder do PSD. Quase.

E se Rio traz consigo os dinossauros enjeitados por Passos Coelho, Santana Lopes traz consigo os órfãos do passismo, bem como alguns dinossauros afectos ao líder cessante, como Bragança Fernandes ou Rui Machete, que é aquele senhor que nos envergonhou uma série de vezes nos últimos anos. Será um embate jurássico, onde o único cenário descartado à partida é o da renovação. As escolhas disponíveis para os social-democratas são o velho PSD ou ficar tudo exactamente como está, mudando apenas o rosto da liderança, já que o poder de facto continuará nas mãos de Marco António Costa.

Comments

  1. ZE LOPES says:

    Curioso. Tentei reservar uma carrinha de 9 lugares para o fim-de-semana de 12 a 14 e disseram-me que estão esgotadas!

  2. Rui Naldinho says:

    Olhando de uma forma distante para um partido onde num passado remoto já me revi, devia estar maluco, mas pronto, a asneira é livre, sou de concordar com tudo o que escreve.
    Seria tentado numa primeira análise a inclinar-me para Rui Rio. Não faço do futebol uma das coisas mais importantes da minha vida, e nessa matéria até acho bom que se separem as águas. Contudo, trocar uma bola de futebol por popós na Avenida da Boavista e na Circunvalação, também não me parece grande escolha. Ou será que isso deriva de ser chique? Acresce que Rui Rio é Boavisteiro, apenas e só, porque num passado também já remoto, quem era do Benfica ou do Sporting e não queria dar a cara, escolhia o Boavista ou o Salgueiros como refúgio. Era um bocado como “os Belenenses”, em Lisboa.

    Quanto a Santana Lopes sabemos o que ele vale. E sabemos que vale pouco. Mas não se fiem na sorte. Santana tem uma máquina montada à sua volta muito mais eficaz que a de Passos Coelho. Para alem dos indefectiveis do anterior líder, agora orfãos, que farão a transumância para o verdejante prado santanista, há um mundo para além desse, que é só dele. E tal como Marcelo ultrapassa as suas fronteiras naturais. PSL é urbano. É mundano. Não padece de violência doméstica. Dá afectos a toda a gente, “mesmo a uma mulher adultera”. Fala com todos. Eu sei que a politica não é um reality show, mas tende a ir para aí. E esse é também o nosso problema.
    Ele foi mal amado pelo velho PSD e não por este, o atual. Nas próximas eleições, sejam elas em 2019, já la vão 14 anos desde a queda de Santana.
    Por sua vez, os “opinadores encartados” da nossa praça estão com ele, apesar de fingirem que não lhes passa pela cabeça, o homem ir a jogo.
    http://leitor.expresso.pt/#library/expressodiario/04-10-2017/caderno-1/ultima/santana-e-o-bom-senso
    Como se todos nós não soubéssemos que perante o enorme vazio em que o PSD caiu, e com a enorme falta de “sentido patriótico” da boyada remanescente, Santana Lopes pudesse ficar de fora, nesta contenda.

    Portanto João, e isto serve para si, para mim e para aqueles que não querem mais este PSD fanhoso no poleiro, a Geringonça que trate lá da floresta, de criar meios para que os fogos não voltem tão cedo a devastar o país, de os combater, que a economia cresça, de forma consolidada, mesmo não sendo àquelas taxas que eles dizem conseguir por o país a crescer, mas nunca conseguiram alcançar.

    • Apesar de tudo, estou inclinado para achar Rui Rio um mal menor. Mas também achei isso do Passos no passado e foi o que se viu. O poder, porém, está com o Santana, seja ele o político ou mediático. Mas estou com o feeling que será mais uma derrota interna a juntar ao longo rol acumulado ao longo de décadas pelo PSL.

    • manuel.m says:

      Foi como escolher entre Trump e Hillary Clinton:
      Ou seja, entre ter um cancro ou um ataque cardiaco
      O espetáculo vai ser lindo de se ver e o fim, ganhe quem ganhar, trágico.

  3. JgMenos says:

    Pouco me interessa este desfecho.
    Espero que a próxima austeridade (sem disfarces) seja por conta do Costa e da sua matilha (19-22).

    • Rui Naldinho says:

      “Espero que a próxima austeridade (sem disfarces) seja por conta do Costa e da sua matilha (19-22).”

      Nunca estive tão de acordo contigo, ó Menos.
      Tu por vezes até consegues dizer umas coisas acertadas.
      “Eu prefiro muito mais a vaselina do Costa, do que a do Passos.”
      Não é por nada ó Menos, mas a vaselina do Passos vinha muito adulterada. Talvez por ter sido feita em Singapura, sei lá?
      Vinha cheia de inertes. Desde grãos de pimenta, açafrão, caril, e até bocados de areia trazia! Havia lá de tudo.
      E logo eu que tenho comichão no cú!

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