É tempo de dizer basta à impunidade e à selvajaria dos “segurilas”

Num universo cinematográfico, um dos agredidos na madrugada de 1 de Novembro, na discoteca K Urban Beach, regressa ao local, ferido, e com algum sofrimento adicional, aplica uma coça monumental nos malvados e cobardes seguranças, com cambalhotas e pontapés rotativos à mistura. No mundo real, porém, a cena repete-se, over and over again, e os criminosos saem quase sempre incólumes, imunes que são à lei e à justiça.

O que diferencia este caso de centenas de outros casos, que eu e a maioria dos leitores já presenciamos, em mais do que uma ocasião, é que, desta vez, alguém conseguiu filmar as cenas de uma brutalidade atroz e sem justificação possível, sem que nenhum dos delinquentes se apercebesse. Caso contrário, o corajoso ou corajosa que filmou o triste episódio teria certamente experimentado da mesma violência gratuita que esta espécie de marginais serve, em doses cavalares, todos os fins de semana, numa discoteca perto de si.

Filmado que foi este caso, é expectável que os agressores enfrentem acusações por ofensa à integridade física grave, que lhes seja aplicada pena máxima prevista na respectiva moldura penal e que sejam conduzidos para o local que a sociedade destina a quem tem este tipo de comportamento: a prisão. É imperativo e exigível que a justiça esteja à altura do caso e que tenha mão pesada sobre estes actos de puro gangsterismo, chamando a si não só os delinquentes, mas também o proprietário da discoteca, por se tratar de um estabelecimento com um longo historial de referências similares, plasmado no Trip Advisor e noutras plataformas. Para quem só agora se deu conta da existência do K Urban Beach, trata-se da discoteca que saltou para as primeiras páginas dos jornais quando, em 2014, Nélson Évora foi barrado à porta, apesar de ter mesa previamente reservada, e alvo de comportamentos racistas.

Porém, aquilo que se passou na discoteca lisboeta mais não é do que uma amostra daquilo que se passa em parte significativa da movida nocturna dos grandes centros urbanos portugueses. Quando saía à noite com mais frequência, eu e o meu grupo de amigos tínhamos um nome para este tipo de marginais. Chamávamos-lhes “segurilas”.

Claro que existem também muitos seguranças respeitáveis nos estabelecimentos de diversão nocturna. Longe de mim querer estigmatizar toda uma classe profissional. Mas a frequência com que nos deparamos com um segurila mal-encarado, que se dirige aos clientes de forma hostil e que adopta comportamentos discriminatórios e violentos é elevada demais para ser tolerada numa sociedade civilizada. Não sei se serão os esteroides e os anabolizantes que lhes provocam perturbações mentais ou se simplesmente são pessoas violentas que gostam de andar à porrada, por saber que à partida vão levar a melhor. Em qualquer dos casos, é evidente que não estão aptos para a função. Mas sei que já assisti, vezes demais, a vários tipos de abusos, da violência verbal à agressão física. E esses abusos não podem ser tolerados.

Em certos estabelecimentos, cenas como esta são frequentes. E se os clientes ocasionais se apercebem disto, é óbvio que os gerentes e os proprietários têm perfeita noção daquilo que se passa nas suas casas. Acredito que alguns tomem medidas para prevenir este tipo de situação, mas outros existem que se estão pura e simplesmente marimbando para se determinado cliente foi humilhado, ameaçado ou espancado. Até porque, não raras vezes, são tão delinquentes como os próprios segurilas, apesar de não sujarem as mãos. Se fossem empresários responsáveis, teriam um gerente a supervisionar a actuação da segurança até que o estabelecimento estivesse encerrado. Talvez dessa forma fosse possível evitar que três ou quatro brutamontes pudessem pontapear um jovem caído no chão, como se ele representasse algum tipo de ameaça para os enormes e musculados segurilas. Talvez assim se tivesse evitado que um dos segurilas, sem condições para viver entre seres humanos civilizados, consumasse o seu comportamento miserável, desumano, selvagem e monstruoso com um salto a dois pés sobre a cabeça da vítima, de tal forma violento que se desequilibrou e caiu no chão. Eu não quero viver numa sociedade onde posso estar à mercê deste tipo de marginais. Preciso, precisamos todos, que o Estado e a Justiça nos defendam dos segurilas e da lei do mais forte. É tempo de dizer basta!

Comments

  1. Rui Naldinho says:

    http://expresso.sapo.pt/sociedade/2017-11-03-MAI-encerra-Urban-Beach

    MAI encerra Urban Beach, noticiam os jornais desta manhã.

    Era bom que os nossos governantes se preocupassem também com estas pequenas grandes coisas, a começar com as praxes, alguns festivais de música, acabando nas discotecas, a maior parte delas, verdadeiros antros de criminalidade, em vez andarem sempre a empurrar com a barriga para a frente, como quem não quer chatices, à noite, com a não resolução de alguns problemas menores, da ganapada, mas que por vezes descabam em violência gratuita, incluindo mortes.
    Os festivais têm uma segurança mais ou menos eficaz, se realizados junto dos grandes centros urbanos. Se forem mais afastados, a coisa começa a bater mal.
    As discotecas então, em melhor nem falarmos.

  2. António Martinho Marques says:

    A violencia gratuita (de borla, porque raramente “pagam” à Justiça…) grassa por todo o lado, enquanto as autoridades (??) chegam tarde ou as más horas ou nem chegam a aparecer. Veja-se o que se passou, cerca das 8h de anteontem, também, em Coimbra, quando um empregado do MacDonalds não atendeu, de manhã, quando ou conforme pretendeu um grupo (sempre e só em grupo…) de “etnia cigana”, desatou a agredi-lo e, barbaramente, agrediu, um jovem casal que tentou ajudar o agredido!!! Barbaramente, cobardemente, repito, pelo que vi nas filmagens de alguem que as fez e fez atuar a PSP, que terá chegado ao local cerca de 1/2 h depois de ter sido alertada,. sendo que a sede da PSP dista do local cerca de 400 m. Um dos jovens encontrava-se ainda ontem internado com prognóstico reservado. Se puderem visionar nos diversos canais, façam-no e indignem-se perante tanta selvajaria, seja ela de “segurilhas”, de ciganos ou simples marginais carregados de asteróides, alcool, droga ou preconceitos.

    • Luís says:

      Em termos de brutalidade aquilo que vi no vídeo de Coimbra em nada difere do que vi no relacionada com a Urban, excepto que neste último caso as pessoas não intervieram na defesa do jovem, (excepto aquele que filmou pois esse vídeo obrigou as autoridades a agir), enquanto em Coimbra 2 jovens foram feridos com gravidade e as pessoas saíram à rua a confrontar os criminosos.
      Em Coimbra, depois de ver o vídeo, percebi que era para matar, daí a decisão do MP, de os acusar de homicídio tentado.
      Mas destes dois casos ressalta, mais que a passividade das pessoas a passividade da polícia, tanto em Coimbra como em Lisboa, sendo que a esquadra de Coimbra distava 500 metros do local e viam-se as pessoas indignadas a clamarem pela polícia.
      Em Coimbra um jovem generoso fez e papel da polícia e foi gravemente ferido, em Lisboa o jovem que filmou teve a sorte de não ser detectado.
      Nas redes sociais são cada vez mais as vozes a indignarem-se perante aquilo a que chamam a cobardia da polícia perante estas duas “etnias”. (Um inquérito à actuação da polícia nestes casos impunha-se.)
      Só que os actos perpetrados pela “etnia” da Urban mereceram, e merecem, primeiras páginas, enquanto os de Coimbra já desapareceram das notícias.
      No entanto existe uma grande diferença entre estas “etnias” – uma é a etnia dos seguranças e outra não tem nome na comunicação social, excepto na TVI, referindo dois ciganos que, tal como os seguranças, têm um passado de agressões impunes.

  3. Violências há muitas says:

    É também a hora de pôr este abuso indiscritível na ordem do dia e acabar com esta violência.

  4. Luís Lavoura says:

    Mas se as discotecas são em grande parte assim, porque é que o pessoal as frequenta?

  5. Fernando says:

    Saltar com os pés na cabeça é com o intuito de matar, espero que haja consequências para os agressores.

  6. JgMenos says:

    O que se ouve por aí:
    – a discoteca já estava fechada.
    – dizia-se que havia assaltos em curso

    O que diz o ‘jovem’ agredido?
    – Que discutia com os amigos se haveria ou não de entrar na discoteca!

    Mas isso vai contra a onda de repúdio, a indignação geral, em que se querem vítimas sem mancha e verdugos irremissíveis.

    O que fazem na vida os vitimados jovens? Não vem ao caso, sempre serão vítimas…
    Oremos!

    • Portanto é adepto da tortura judicial executada por seguranças privados que podem, no seu ponto de vista, acumular as funções de policia, juiz e carrasco.

      • JgMenos says:

        Portanto, essa é a sua idiota adivinhação,
        do que seja a minha opinião.

        • A minha “idiota adivinhação” é que o senhor pretendia dizer que os senhores vigilantes estavam no legitimo direito de julgar aqueles pessoas como culpadas e aplicar-lhes a devida pena que só não foi pena de morte porque não calhou.
          Se não era isso que pretendia dizer, apure o seu português.

  7. ZE LOPES says:

    Não estou de acordo é com o termo “segurilas”. Devia ser com um o no meio “segorilas”. De segurança, não têm nada. Do resto têm muito…

Trackbacks

  1. […] O Ministério da Administração Interna ordenou, esta madrugada, o fecho da discoteca K Urban Beach. A sociedade estava indignada, era preciso mostrar serviço e o ministério mas desgastado de Costa lá se chegou à frente e mandou encerrar o estabelecimento. Não me parece uma má decisão, até porque há ali muito que esclarecer e convém garantir que os potenciais clientes daquele espaço não são submetidos à fúria desmiolada dos segurilas. […]

  2. […] Nos últimos meses, a polícia terá recebido 38 queixas contra um bar em Lisboa, muitas delas de agressões, mas as autoridades só fecham o bar depois de um vídeo da violência começar a circular nas […]

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