Das madrinhas

Houve tempos em que um comércio – e mesmo indústria – de proximidade nos permitia o acesso a bens através de um consumo personalizado, uma escolha pessoal. Podíamos apalpar – honi soit…-, cheirar – idem…-, provar – então?…- tudo. Roupa, fruta, livros, discos, alimentos vários, tudo nos passava pelos sentidos e pelo sentido. E não era preciso ir muito longe. Era logo ali na loja. Cada um adquiria o que queria e podia. E o que comprava era seu e pago ao vivo por cada um – ou fiado, que também era coisa personalizada. O mesmo se passava com as madrinhas: cada um tinha a sua. Claro que, como todos sabemos, as madrinhas podem ser de baptismo, de casamento – religioso ou civil, tendo neste caso o nome menos poético de testemunhas – de crisma, de guerra e tudo o mais. Há, até, para cada um de nós, uma fada madrinha. 

Mas agora estamos no tempo das grandes superfícies, do granel, das compras à distância. Das marcas brancas, do streaming. Da partilha digital, da rede, da nuvem. 

Ora, é neste contexto que o presidente Marcelo resolveu proporcionar a todos os portugueses uma madrinha partilhada. Com a qual tenhamos uma relação ainda mais distante do que a que temos com a Amazon. E em regime de monopólio, diriam maldosamente os comunistas. Portanto, afilhados de Maria (Cavaco), rejubilai!

Porque há aqui uma dimensão de socialização madrinhal e, se houver justiça, a benevolente madrinha não deixará de nos abençoar a todos – por igual! – com generosas prendas e infinitas benesses. Podereis obstar que, a haver uma madrinha geral, esta deveria ser alguém com outro perfil e experiência do cargo, como Maria – a propriamente dita, a Senhora da Conceição, experiente e paciente padroeira -, Senhora de outras capacidades, incluindo as milagreiras – este país ainda existir tem algo de milagroso…Mas não menosprezeis as competências que a vossa nova madrinha apresenta, provadas em maravilhosos feitos de grande virtude milagreira. Como, entre outros, a troca de uma modesta habitação por uma vivenda de luxo por valor semelhante, os milagrosos e prodigiosos negócios dos seus familiares próximos e, até, uma proclamada relação privilegiada com a Senhora de Fátima – coisa que, não sendo de grande sustento, pode vir a ser útil numa emergência. 

Agradecei pois ao vosso venerando e paternal presidente mais esta benesse que do alto vos lança e não deixeis de exigir, pelo menos, um folar pela Páscoa. Habemus Madrinham! E o resto é conversa.

Comments

  1. Rui Naldinho says:

    Eu acho que Marcelo não da ponto sem nó. Sempre foi um intriguista, apesar daquele ar angélico de quem não dá um pum na sala. Para os mais distraídos ousou utilizar a esposa do Padrinho Disto Tudo, como alguém já o chamou, Maria Cavaco Silva, para que nas redes sociais, o povo, aquele seu povo pimba que o beija em cada esquina, que o abraça e faz questão de uma selfie, com ele, pudesse expressar nas redes sociais e nalguma imprensa, todo o seu desprezo pela Cavacada.
    – Ó Marcelo, vai dar banho ao cão, pá!
    – Já te conheço de ginjeira. Daqui não levas nada.

    * “Além disso, eu nunca aceitaria uma madrinha com uma reforma de oitocentos euros!”

  2. ” Eu acho que Marcelo não da ponto sem nó. Sempre foi um intriguista, apesar daquele ar angélico de quem não dá um pum na sala….” : )
    tal qual, Rui Naldinho ! e ainda por cima com “opus dei” a dar-lhe as asinhas de anjo, frenético lobo manhoso com pele de cordeiro sedento de canibalismo político mediático para saciar fome de protagonismo ó p´ra mim eu sou o maior e eu é que sou o presidente da junta !

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