JLo os primeiros 2 meses

[Mwangolé]

Com ou sem fundamento, correu o boato que na tentativa de condicionar a acção de João Lourenço, algumas pessoas próximas do anterior Presidente da República procuravam ligar o actual Presidente a algum escândalo de corrupção. Mais recentemente circulou que a avalanche de exonerações e nomeações estava concertada entre JLo e o ainda número 1 do partido no poder, José Eduardo dos Santos. Boatos, teorias, suposições nunca passam disso mesmo, existem para todos os gostos e são impossíveis de provar. Mas se é possível até acreditar que JLo limpasse o aparelho do Estado de algumas pessoas, que Zedú, com a anuência deste, não tivesse tido coragem para o fazer, torna-se difícil acreditar que tal acontecesse com os familiares mais próximos, ou seja os filhos. Verdade que Filomeno dos Santos continua à frente do Fundo Soberano, mas a sua implicação nos papéis do paraíso e fracos resultados, podem em breve traçar o destino de Zenú.

O general Zé Maria, outrora poderoso chefe das secretas, nunca se conformou com a decisão de José Eduardo dos Santos em não se recandidatar e desde a primeira hora desafiou abertamente o então ainda ministro da defesa João Lourenço, que o foi ignorando sucessivamente até que agora na posse das suas competências enquanto Presidente da República decidiu exonerar o general da chefia SISM. Inconformado Zé Maria vai afirmando que existem documentos incriminatórios do actual Presidente da República e pede publicamente a Zedú que os divulgue. Até pode ser que existam, mas é estranho que não tenham vindo imediatamente à tona durante a maré de exonerações. A não ser que tudo seja apenas um bluff. Quanto mais tempo passar, maior a consolidação do poder da actual liderança e vai-se esfumando a anterior. O desfecho final poderá ser no Congresso do MPLA a realizar em 2018. Hoje é bom termos memória da comunicação de José Eduardo dos Santos no início de todo este processo, quando afirmou que se afastaria da política em 2018, sem que ninguém tenha percebido o alcance das suas palavras. E convém olhar para o vizinho Zimbabwé, onde Mugabe acaba de ser forçado a abandonar o poder com um golpe militar suave.

O presidente mudou a liderança do Banco Nacional de Angola e já falou no problema das divisas, que todos sabem que existe, como circulam, mas ninguém faz nada. Exonerou Isabel dos Santos da Sonangol e melhorou o abastecimento de combustível nas cidades e também às cimenteiras, com o preço do cimento já a descer nos mercados, após um período em que Cimangola, propriedade da empresária, operou praticamente em exclusivo, disparando o preço para níveis nunca verificados anteriormente. Anunciou a abertura de concurso internacional para uma nova operadora de comunicações, o que irá significar aumento de concorrência para as instaladas. Administrações hospitalares foram mudadas, é cedo para observar o resultado, mas se a prática de cobrar gasosa para uma consulta, análises ou medicamentos que supostamente deveriam ser gratuitos, porque o Estado os coloca à disposição mas os funcionários decidem lucrar, será um ganho para os angolanos. Finalmente e não menos importante, ontem em parada o novo comandante da Polícia Nacional afirmou que é tempo de terminar com a vergonhosa prática da gasosa e que os efectivos que fazem da extorsão em vez da ajuda ao cidadão um modo de vida, melhor que se afastem, porque não terão lugar e serão expulsos.

É cedo e cá estaremos para observar os resultados, mas por agora basta ler as redes sociais para perceber que João Lourenço tem apoio da população e dispõe como há décadas não se via em Angola um capital de esperança depositado na sua governação. O caminho não será fácil, o ponto de partida é francamente mau, mas tudo dependerá dos resultados obtidos e das escolhas que João Lourenço fizer pelo caminho.

Comments

  1. Rui Naldinho says:

    Enquanto não virmos uma mudança política em Angola que demonstre uma mudança de paradigma, escusado será dizer que tudo não passa de uma encenação. Na melhor das hipóteses um realinhamento das partes.
    Angola precisa de uma verdadeira mudança na sua forma de interagir na relação entre a sociedade civil e os governantes. Que acabe de vez com esta oligarquia assente nas cúpulas do MPLA. E isso nós não vemos. Se não vemos é porque o status quo se mantém. Sem essa mudança, entretenham -se em divagações que ficara tudo como dantes.

  2. carlota says:

    Xé 🙂
    João Lourenço, não está a fazer esta mudança com base em jovens tecnocratas e indivíduos da sociedade civil. Como referiu o historiador, Ricardo Soares de Oliveira: “os novos homens de João Lourenço são muitas vezes os velhos homens de José Eduardo dos Santos, até ontem bajuladores”.
    Ouvir a entrevista de Luaty, como ele quero acreditar na verdadeira mudança. 🙂 https://www.youtube.com/watch?v=-lfMDUzNJsw

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