Portugal, enquanto sociedade e economia, gera recursos mais do que suficientes para permitir a todos os seus cidadãos uma vida materialmente digna.
Gera recursos suficientes para ter uma Escola Pública capaz de cumprir integralmente a sua função, com níveis de qualidade aceitáveis e disponível para todos.
Gera recursos que chegam e sobram para ter ao serviço de toda a população um bom Sistema de Saúde, praticamente gratuito.
Gera recursos suficientes para cuidar da Terceira Idade com a dignidade exigível, através, designadamente, de um sistema de Segurança Social totalmente sustentável e capaz de responder às necessidades específicas dessa população.
Se nos perguntarmos por que motivo nada disto se verifica, apesar da capacidade de gerar os recursos necessários, a resposta é simples. Uma massa enorme desses recursos é desviada do circuito político-administrativo destinado ao bem comum e encaminhada para circuitos paralelos, dos quais apenas alguns podem usufruir e com os quais estabelecem e operacionalizam estruturas alternativas de poder.
É isto que toma o nome de corrupção. A corrupção não é perniciosa simplesmente por consistir numa violação das regras, pois há regras cuja violação constitui até uma virtude. A corrupção é perniciosa porque fomenta a injustiça, dando a uns o que a outros pertence por direito, contribuindo para a eternização das desigualdades sociais e destruindo animicamente as sociedades.
São gigantescos os montantes que o Estado distribui pelas instituições particulares de solidariedade social (IPSS), e se é verdade que algumas dessas instituições cumprem um papel meritório na sociedade, usando com justiça e correcção os meios financeiros colocados à sua disposição, não é menos verdadeiro que muitas delas se servem dos recursos públicos para alimentar redes de poder próprias, estabelecer laços de dependência e financiar autênticos projectos político-empresariais. Chegamos ao ponto de termos decisores públicos, ou seja, representantes do Estado, a financiar instituições às quais estão ligados enquanto cidadãos, seja por laços familiares, políticos, ou outros, o que lhes possibilita estar em campanha eleitoral permanente e garantir, através da dependência material e do respectivo voto, a renovação do mandato para governar. É por isso que não desce de modo significativo o número de pobres em Portugal, nem o número daqueles que estão em risco de cair na pobreza, pois eles são o verdadeiro combustível desta rede de poder e de dependências que domina todo um sistema político.
E ao contrário do que alguns pretendem fazer crer, esta ideologia da miséria não é atributo ou vocação exclusivos da Direita, das Jonets deste mundo e dos herdeiros legítimos do assistencialismo de chá dançante do Estado Novo. Houve uma Esquerda que descobriu o potencial político da miséria e não hesitou em dele fazer uso.
Amigo Bruno
O discurso até ia muito bem, mas descarrilou no fim.
Todos sabemos que a esquerda sempre foi a defensoras dos oprimidos, dos mais fracos, dos excluídos, enquanto a direita prefere defender aqueles que já têm tudo, os de cima contra os de baixo.
Oportunismo há sempre em todo o lado, mas não é disso que estamos a tratar. Tratamos de opções de classe, de guerra de classes. Veja o que se passa nos EUA, a montra onde os defensores dos privilégios enchem a decisão política com os interesses mais mesquinhos, de que Trump é o porta-voz.
Não esbanjámos….Não pagamos!!!!!!
Amigo Oliveira, claro que descarrilou 😀. Só dói quando nos toca.
inteiramente de acordo. é na província onde esse poder “oculto” mais se faz sentir. sempre com a bênção da s. madre igreja.
Tem toda a razão
Para quem conhece o Norte (tras-os-Montes e Alto Douro, Alto Minho, etc) e não apenas aqueles 400 Km2 á volta da foz do Douro, sabe bem que quem se aproveita mais com a miséria alheia, é a padralhada.
Foi um maná para essa mafia. Claro que as IPSS que não controlam estão debaixo de fogo, porque as deles estão protegidas
Conheço que vieram do seminário sem nada e agora estão cheios de dinheiro
Esses recursos desperdiçados são peanuts comparados com os recursos gastos a manter os lucros da banca estrangeira.
Bom texto. Claro que é heurístico e permite problematizar a questão da “falta de poder” e dos mecanismos para a manter.
Quando não se paga, de forma digna, a jorna, começa aí a via do assistencialismo.
Algumas organizações alegadamente de apoio aos “fracos” são umas chupistas.
Um justo pagamento pelo trabalho acabava com muitas destas formas de manipulação e manigância à volta da pobreza fabricada, em parte, pelo modelo de comunidade que somos.
O que o Bruno descreveu o modelo de negócio da Igreja Católica.
E pensavam muitos que nos tínhamos livrado do clero e da sua permanente exaltação da miséria material e espiritual.
É verdade. Acontece que o Estado Laico assenta toda a sua geometria simbólica e ritual sobre a matriz do Estado Eclesiástico.
Quase lá!
“Se nos perguntarmos por que motivo nada disto se verifica, apesar da capacidade de gerar os recursos necessários, a resposta é simples.” Povo salafrário gera Estado salafrário!
Não se esqueçam é de continuar a votar em salafrários…